Onde estão os meus 20 anos? – Parte I

Velhice – PIXABAY

Onde estão os meus 20 anos? – parte I

                                                                                                                           É pelas próprias virtudes que se é mais bem castigado.
Friderich Wilhelm Nietzsche (1844-1900), filósofo, filólogo,poeta e músico alemão                                                                                                                                           

Há quanto tempo você tem 20 anos? Quantos de seus amigos e familiares ainda têm 20 anos? Há quanto tempo você gostaria de ter 20 anos? Por quanto tempo você gostaria de ter 20 anos? Há quanto tempo você não se sente com 20 anos? Por que você não tem mais 20 anos? Você deixou mesmo de ter 20 anos? Você gostaria de ter, novamente, 20 anos? Quantos anos você tem ou, dito de modo alternativo, com quantos anos você se sente? Como você se escolhe?

Hein? Que perguntas sem sentido são essas aí de cima? Bem… serão mesmo sem sentido? Você acha que o sentido que emerge das reflexões que você está fazendo agora, ao ler essas perguntas, talvez um tanto surreais, admito, é idêntico ao que emergiria quando você tinha 20 anos reais de idade, por assim dizer? Por que o aparente epifenômeno da especulação relativa à impossibilidade temporal de não mais termos 20 anos, no dia primeiro após completarmos 21 anos cronológicos é, ou pode ser, relevante para as nossas vidas? E será ruim que assim seja?

Proponho, neste artigo, elaborado que está em duas partes, que reflitamos por um tempinho, sobre… é… o tempo! O nosso tempo, que para o físico alemão Albert Einstein (1879-1953) é relativo, que para o médico e psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875-1971) é fruto de nossas percepções e que, para os filósofos gregos Platão (428 a.C. – 348 a.C.) e Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C), definem-se, sob certa perspectiva, como impossibilidade, uma vez que, como o passado já passou, como o futuro ainda não chegou e como o presente é passado, no instante mesmo em que acontece, sem ainda ter se tornado futuro, o que chamamos de “tempo” talvez nem exista ou, em termos mais brandos, talvez nem devesse existir. O físico britânico Julian Barbour especula que o tempo humano, ao menos como o entendemos, e sendo uma dimensão existencial como o espaço, desde que Einstein provou esta teoria, seria uma forma de nos localizarmos, nos multiversos existentes, em quando estamos, já que, no espaço tridimensional, propriamente dite, nos localizamos em onde estamos.

Devaneios de uma noite de verão em que meus miolos foram quase cozidos aqui, no Rio de Janeiro? Pode ser, mas como ainda estou por aqui, escrevendo estas linhas, creio que ainda seja possível especular um tanto mais. Então, mantenhamos o pique porque, como diz o ditado, quem fica parado é poste de luz (quando não cai por falta de manutenção ou barbeiragem de motorista tresloucado ou bêbado, claro).

Tentando juntar as três definições de “tempo” acima referidas, podemos desenvolver o seguinte raciocínio: tempo, na acepção humana, é uma unidade de medida imaginária, fruto de nossas percepções de vida e, assim, relativo para cada um, individual e coletivamente, em cada momento existencial, porém com efeitos práticos que podem ser perfeitamente tangíveis no plano psicológico e fisiológico. Diz o ditado popular que o tempo não perdoa o que se faz sem ele, mas o quanto disso é percebido, de fato, quando temos 20 anos? Ou mesmo hoje, anos depois desta efeméride vital?

E como podemos pensar o conceito “juventude”, posto que este texto é sobre os 20 anos, sobre os meus (ou seus) 20 anos? Recorrerei a outros dois gênios da raça humana. O escritor, dramaturgo e jornalista brasileiro Nelson Rodrigues (1912-1980), quando indagado sobre qual conselho daria aos jovens disse “envelheçam”; já o também escritor, dramaturgo e jornalista irlandês George Bernard Shaw (1856-1950) disse que a juventude é uma coisa muito linda para ser desperdiçada com os jovens.

O que pode haver de relevante nas falas dos dois ases das letras ora citados? Proponho, para os objetivos deste artigo o seguinte raciocínio, de modo a tentarmos estabelecer, ao menos em linhas gerais e, bem sei, em definição subjetiva deste escriba, o que é a juventude (ao menos, um laivo de resposta): ser jovem é viver uma bidimensionalidade existencial. Como assim?

O Espaço Geográfico em que viemos, transitamos e com o qual interagimos, é bidimencioinal: ele tem a Dimensão Geométrica (que pode ser cartografável em um mapa) e a Dimensão Existencial (nossa, que não é cartografável, mas que pode ser percebida sensivelmente e apreendida, cognitivamente). Do mesmo modo somos nós, os seres que fazem nascer neste mundo, não apenas Natureza, mas sim uma Natureza apreendida e transformada pelo Homem, como mostrou o filósofo, historiador, sociólogo e jornalista Karl Marx (1818-1993). Desta feita, o real significado do ser é ser, também ele, bidimensional, a palpável, digamos deste modo, a fisiológica e a existencial.

Temos, como inescapável, o transcorrer da medida imaginária, porém tangível, do tempo cronológico (fisiológica), que nos exaure o hausto de vida que tão sofregamente saboreamos no dia a dia; entretanto, temos, igualmente, a liberdade do ser que somos, em sermos quem quisermos ser, imersos que estamos em nossos projetos conscientes e transcendentes de ser e, por esta razão, a cronologia, embora atuante e insofismável, pode ser, de algum modo, suprimida ou, ao menos, contornada, a partir do conselho de Nelson Rodrigues. O mundo é dos jovens, porém, no mais das vezes, só percebemos a real dimensão deste fato quando envelhecemos (muitos, nem assim); daí o lamento de Bernard Shaw.

À luz destas reflexões sobre tempo e juventude, vou tentar esboçar aqui, nestas parcas linhas, minhas respostas às perguntas formuladas nesta primeira parte do artigo. Tentei responder às perguntas uma por uma, e divido esses arremedos reflexivos com você, querida leitora, prezado leitor; divagações sobre o dilema da vida de que somos, apenas, um sopro de existência, complexo, mas não obstante, volátil e efêmero. Tudo considerado, vamos às tentativas de respostas, elaboradas a partir desta auto-entrevista convidando, desde já, você, querida leitora, prezado leitor, para também se auto-entrevistar.

Há quanto tempo você tem 20 anos?

Se pensarmos em termos da primeira dimensão a qual fiz referência quando refleti um tanto sobre o conceito de juventude, não tenho 20 anos há 34 anos. Inquestionável. Isso faz com que meus 54 anos de existência me imponham limites, físicos, psicológicos e emocionais, os quais, evidentemente, não estavam presentes em mim quando tinha 20 anos, ao menos não todos, mas certamente, não na mesma intensidade que, hoje, fazem de mim o que sou ou, como bom Existencialista, que fazem de mim o que “estou” hoje, posta a sucessão dialética dos “eus” sequenciais, transcendidos nos presentes históricos de minha vida, ao posicionar-me, conscientemente, perante o mundo, como talvez o dissessem os filósofos Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Martin Heidegger (1889-1976), francês e alemão, respectivamente.

Esta consciência existencial não tinha aos 20 anos, nem tinha como ter embora, talvez, laivos dela já me atormentassem o pouco juízo de um rapaz desta idade; esta consciência veio sendo adquirida na medida do tempo decorrido e ruminando, misturada a sorrisos e lágrimas, até me trazer até, por exemplo, à elaboração deste artigo. Isto posto e considerando tais questões, creio que posso afirmar que venho tendo relativo sucesso em seguir a recomendação de Nelson Rodrigues, estou “envelhecendo” e escrevo a palavra entre aspas porque, deste ponto de vista, este envelhecimento tem-me dado, ao menos às vezes, a saúde e a vitalidade dos mais velhos, a experiência ou, como dizia meu pai, Mário Galvão, quilometragem de vida.

Quantos de seus amigos e familiares ainda têm 20 anos?

Alguns poucos, mas pensando na reflexão acima, não saberia precisar quantos deles envelheceram também, como eu, no sentido Rodrigueano, ou se, por infelicidade ou desvio de caminhos vários, desperdiçaram seus 20 anos à moda Shaw (como eu desperdicei, em alguns aspectos de minha vida ao, por exemplo, ter abandonado a música – só retornei agora com as aulas de violão, bem como, creio, de certo ponto de vista, “me joguei fora” com as escolhas profissionais feitas; coisas normais aos 20 anos, não é?). Cada um decide seus rumos pessoais, mais ou menos tortuosos e segue em frente, negociando os rumos coletivos. Temos conseguido fazer isso com galhardia e gentileza, conseguindo ofertar ao mundo, novos e bons rumos? Fica ao critério de vocês, a resposta.

Há quanto tempo você gostaria de ter 20 anos?

Não sei quanto a vocês, caros leitores, mas acho que aproveitei bem as minhas fases de vida, noves fora as decisões amalucadas e desbaratadas, acima mencionadas, dentre outras o que, de resto, como também disse, é comum que adotemos quando somos jovens. Então, não fico me lamentando por não ter mais 20 anos, porquanto fui jovem, no frigir dos ovos, em vários momentos da minha vida como, em linhas, ainda me considero. Não obstante, isso não quer dizer que nunca tenha pensado nos meus 20 anos e, saudoso e um tanto nostálgico, não desejasse regressar no tempo, para aproveitar melhor essa bela idade, tanto quanto para refazer alguns rumos de vida. Agora, feliz aos 54 anos, vejo-me, por vezes, desejando, aqui e ali, no tempo e no espaço, ter 20 anos de novo e tal sentimento, para responder diretamente à pergunta, começou a me assaltar, em linhas gerais, creio, quando completei meio século de vida. Acho que, quando começamos a sentir para valer o peso do passar do tempo, começamos a olhar a nossa vida em particular, bem como a vida em geral, com os olhos de estranhamento de que nos falava o poeta, escritor e dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898-1956), mirando os tempos vindouros com olhares, também, postos em perspectiva e, não raro, em retrospectiva.

Por quanto tempo você gostaria de ter 20 anos?

Na verdade, se eu pudesse, retornaria aos meus 20 anos para, como disse acima, aproveitar um pouco a vida, de modo mais agradável e proveitoso – claro, se eu pudesse voltar com a cabeça e com a experiência que tenho hoje. Ficaria, talvez, por uns 2 anos nessa idade para refazer alguns rumos de vida, notadamente, os profissionais e não abandonando o aprendizado musical e depois deste tempo, regressaria aos meus 54 anos atuais, porque meu futuro teria sido diferente. Não sendo possível, fico com as boas memórias e aprendizados úteis, ao invés de me lamentando pelo tempo decorrido e, com isso, desperdiçando o meu momento atual. O tempo, em existindo, é precioso e não vou perder meu presente me agoniando por um passado supostamente idílico. Tento, com isso, como dizia o médium kardecista Chico Xavier (1910-2002), construir um novo futuro, já que não posso refazer os meus começos de vida.

Há quanto tempo você não se sente com 20 anos?

Bem, para além da obviedade que é dizer que, tendo 54 anos, não me sinto, ao menos fisicamente, com 20 anos, há 34 anos (certo, Conselheiro Acácio?), não sei como vocês se sentem, leitores, mas alterno minhas percepções: ora me sinto com 20 anos, nos quesitos disposição (felizmente, estou bem de saúde), vontade de não me entregar completamente à aridez deste mundo (que tem tido uns tantos rumos esquisitos e bizarros, para dizer o mínimo) e resistir, além do desejo de manter-me fazendo programas de dança, ir ao cinema, viajar etc.; ora me sinto com mais até do que 54 anos, quando me vejo, não raro, com desejos de virar um ermitão e fugir do mundo, dado o fato de que tenho visto muita arrogância excludente, ganância desmensurada inquestionável e um reacionarismo desumanizante tão exacerbado que, por vezes, sinto vergonha de pertencer à mesma espécie de uns e outros desonestos, mesquinhos e autoritários que pululam por aí. Quem não?

Por que você não tem mais 20 anos?

Recorro, novamente, ao escritor e diplomata português Eça de Queiroz (1845-1900) e sua linda personagem, o Conselheiro Acácio (representando algo muito comum, infelizmente, figuras um tanto grotescas, mas sobretudo, pseudo-intelectuais, que falam a maior banalidade com uma pompa digna de realeza absolutista), no livro “Primo Basílio” e digo que a resposta a esta pergunta quase infantil é que não tenho 20 anos porque tenho 54 anos! O tempo, mesmo talvez quase inexistente, passou e nada há o que posso fazer em contrário, a não ser viver feliz.

Você deixou mesmo de ter 20 anos?

Cronologicamente sim, claro; entretanto, se revisitarem as respostas passadas, talvez concordem comigo quando afirmo que, de certo ponto de vista, nunca deixei e, espero, nunca deixarei de ter 20 anos. Ao menos, apelando para um clichê, na cabeça e no coração. Manter vivo, dentro de mim, o jovem é, em minha opinião, muito mais do que uma impossibilidade natural ou do que um mero devaneio de quem usa lugares-comuns: é uma necessidade e, até hoje, uma realidade, não no sentido de assumir qualquer coisa parecida com o que alguns conhecem como “Crise Peter Pan” (recusar-se a crescer), mas no sentido de não deixar que a alegria, a jovialidade (aqui entendida como a garra de viver) e a capacidade de sonhar (e de realizar coisas, claro) se esvaiam, matando-me em vida.

Você gostaria de ter, novamente, 20 anos?

Se pudesse voltar no tempo para mudar algumas coisas, como disse antes, sim, com a mesma condição antes mencionada; contudo, na impossibilidade de tal fenômeno ocorrer, contento-me em saber que aproveitei bem meus 20 anos. Me arrependo mais do que deixei de fazer, do que do que fiz. Se fiz errado, na perspectiva analítica de hoje, mas se o fiz considerando que era o correto, não há porque me arrepender; se fiz o errado, sabendo que era errado (e folgo em ter a consciência tranquila de que nada fiz de errado, conscientemente, para prejudicar ninguém, o que não quer dizer que não tenha errado, e muito!), como não posso mudar o mal feito, em verdade, pergunto-me: para que me arrepender? Para me torturar? É melhor, ao perceber um erro, passado ou presente, buscar meios e motivação para que não se repitam, mas sem deixar que o arrependimento me corroa por dentro e/ou me engesse, no presente.

Quantos anos você tem ou, dito de modo alternativo, com quantos anos você se sente?

Tenho 54 anos e me sinto com 54 anos (corpinho de 53, evidente). A ressalva que faço é que, com acerto e erros, alegrias e tristezas, que todos temos, com 54 anos bem vividos, posso afirmar que dizer que me sinto com 54 anos não elimina que, de algum modo, também me sinta, em determinados momentos e com comportamentos diferentes, evidentemente, com 04, 14, 24, 34 e 44 anos. Somos múltiplos, para sermos um; nos tornamos um para não deixarmos os múltiplos se tornarem evanescentes em demasia. Não é fácil, eu sei, mas é imperioso que tentemos agir deste modo. Como dizia o escritor checo Milan Kundera (1929-2023), temos, na verdade, medo de nossa “insustentável leveza do ser”. Até quando?

Como você se escolhe?

Escolher um caminho, ainda que possa haver, aqui e ali, comunicações esporádicas com outros, é, na verdade e na maior parte dos casos, abandonar, no todo ou em parte, caminhos alternativos. Atalhos podem, eventualmente, ser tomados, mas com cuidado, porque muitas vezes, talvez na maior parte das vezes, não levam, exatamente, onde desejávamos ir; e quando levam, não raro, chegamos estropiados, por serem caminhos não pavimentados, se me faço entender. Escolher um caminho não é fácil; escolher-se, no sentido de escolher como você vai conduzir a sua própria vida, independente do outro, mas respeitando o direito do outro fazer o mesmo, é um dos grandes aprendizados da vida, talvez o maior deles. Eu me escolho, não que consiga sempre, mas me escolho como um ser falho (por inevitável, aceito esta condição), mas que tenta fazer o melhor que pode, para si mesmo e para os outros (próximos e distantes), de modo honesto, afetuoso, solidário e gentil.

Não sou assim o tempo todo, claro, tenho meus defeitos, como ser um tanto explosivo (o que me torna, no momento da explosão, infelizmente, admito, um tanto agressivo e grosseiro), por vezes indócil e com certa dificuldade de aceitar críticas no momento em que são feitas, embora afirme que sempre reflito sobre o que me é dito e, não tendo problema em me desculpar, tento me corrigir, do modo mais contundente que consigo, se me convencer de que errei. Ao invés de teimoso, gosto de pensar que sou convicto. Enfim, a auto-imagem que formamos, ao longo do tempo, nem sempre corresponde à forma como muitos nos veem, né?

Você acha que o sentido que emerge das reflexões que você está fazendo agora, ao ler essas perguntas, talvez um tanto surreais, admito, é idêntico ao que emergiria quando você tinha 20 anos reais de idade, por assim dizer?

Evidentemente que a resposta é negativa. Como poderia ser diferente se a “rodagem” de vida aos 20 anos é, muitas vezes, como é normal, embora haja exceções, menor? Isso significa que, neste cenário, aos 20 anos, não temos tanta capacidade, nem digo cognitiva, mas perceptiva e sensitiva, para vermos as coisas mais próximas do que são; em geral, vemos as coisas com olhos mais maravilhados do que aos 54 anos, quando já olhamos com olhos mais aguçados, entretanto, muitas vezes, também mais cansados e céticos. E ainda bem que é assim, senão ainda estaríamos, talvez, acendendo foguinho nas cavernas.

Qual sentido é melhor, dos 20 ou dos 54? Às vezes um, por vezes outro, contudo, ambos são legítimos e podem ser bons e/ou agradáveis, além de úteis, para nós mesmos e para o mundo, desde que compreendamos que as idiossincrasias de um e outro período são naturais e se soubermos, ao mesmo tempo, e complementarmente, extrair prazer e lições válidas delas.

Por que o aparente epifenômeno da especulação relativa à impossibilidade temporal de não mais termos 20 anos, no dia primeiro após completarmos 21 anos cronológicos é, ou pode ser, relevante para as nossas vidas? E será ruim que assim seja?

Porque a diversidade de sentimentos, de pensamentos e de ações é vital para que avancemos, tanto individual, quanto coletivamente. E isso vale para sociedades, para grupos sociais e para todos e cada um de nós; vale, inclusive para as nossas próprias fases de vida. A relevância, então, está no fato de que, se envelhecemos e morremos a partir do dia mesmo em que nascemos (chegamos a este mundo com data de validade vencida, só não sabemos quando é o vencimento), por outro lado, isso nos proporciona a mudarmos de percepções, de ideias e de ações pelas experiências de vida que temos, o que não aconteceria se ficássemos engessados, dizendo deste modo, em determinada idade. Como já disse Nelson Rodrigues, envelheçamos; até porque, a alternativa não é lá muito boa, certo? Então, não abreviemos o inevitável.

Concluindo. Concluindo mesmo? Huuummm…

Nietzsche, na frase que serve como epígrafe deste artigo, chama a atenção para o fato, infelizmente, corriqueiro da vida, o de sermos, não raro, castigados, ora conscientemente, por outras pessoas, ora pelo que nos acontece e que às vezes sequer temos controle, nem sempre, por nossos defeitos ou erros, mas com frequência, por nossas qualidades e acertos. Em um mundo, com princípios e rumos, no mínimo estranhos e bizarros, não esquecendo os cruéis e com pendores autoritários, ou seja, em um mundo, talvez, errado, por assim dizer, quem tenta pensar e agir de modo correto é penalizado porque se torna “o chato”, para os mais benevolentes, “o errado, mesmo” para muitos.

O que fazer quanto à advertência de Nietzsche? E qual conclusão pode ser extraída desta série de perguntas e respostas? Rapidamente, sem querer ser por demais prescritivo, o que não desejo de modo algum, e tentando ser relativamente breve e um pouco menos prolixo do que fui até aqui, deixo para você, querida leitora, prezado leitor, uma última percepção de vida para tentar esboçar uma resposta à essas duas perguntas. Divido, outra vez mais, aqui, com vocês, um pequeno conjunto de sensações que me acompanham desde… não sei… há muito tempo.

Alguns talvez me acharão muito pessimista com o que escrevi abaixo, talvez em parte porque terão ficado com certo mal-estar, sendo possível que menos pelo que afirmo, mais porque, no fundo, concordarão; aos que discordarem, agradeço a leitura e o debate porque, embora não venha a ter a oportunidade de conversar com vocês sobre sua visão concordante e/ou contrária, no todo ou em parte, às percepções e ideias que aqui expressei, um texto público leva a um “debate interno” em que uma parte, o leitor, reflete sobre o que leu, e fico feliz em proporcionar esse mergulho seu, em si mesmo, querida leitora, prezado leitor.

Eis o que gostaria de dizer. O ser humano é, coletivamente, um projeto que não deu certo. Nosso padrão de vida é comparável ao de um vírus: nascemos, sugamos o nosso hospedeiro, o planeta Terra, e podemos levá-lo à exaustão ou mesmo à morte. Com o detalhe nada irrelevante que, até onde sei, um vírus não tem consciência de que seu padrão é esse! Mas isso quer dizer, então, que ninguém presta? Não mesmo, há muita gente boa, competente, honesta, solidária, gentil e dedicada às boas causas, de todas raças, credos, gêneros, ideologias e lugares. Não creio que, quantitativamente, sejam a maioria de nós, seres humanos, mas são em número suficiente para podermos ter alguma esperança de que ainda podemos reverter os rumos que a humanidade tem se dado; muita coisa boa, igualmente, já aconteceu desde que paramos de matar tigres dentes-de-sabre e mamutes! A questão é: como e quando isso acontecerá? Na parte II deste artigo, tentarei esboçar uma proposta concreta, já posta em prática, inclusive, embora há um bom tempo, pois foi construída entre meus 23 e 33 anos, mas que, tenho certeza, ainda pode ser útil e que será um caso concreto da temporalidade entre um jovem de vinte e poucos anos e um jovem na casa dos cinquenta anos.

 

Carlos Fernando Galvão, Geógrafo, Doutor em Ciências Sociais e Pós Doutor em Geografia Humana, cfgalvao@terra.com.br

 

 

 

 

 

Author

Carlos Fernando Galvão é carioca, Bacharel e Licenciado em Geografia (UFF), Especialista em Gestão Escolar (UFJF), Mestre em Ciência da Informação (UFRJ/CNPq), Doutor em Ciências Sociais (UERJ) e Pós Doutor em Geografia Humana (UFF). Autor de mais de 120 artigos, entre textos científicos e jornalísticos, tendo escrito para periódicos como O Globo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e Le Monde Diplomatique Brasil (atual colaboração), também foi colaborador do Portal Acadêmico da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) entre 2015 e 2018. Além deste, o autor publicou outros 9 livros, textos acadêmicos e literários.

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