É normal que algo que impacta a nós ou a sociedade vire um marco de comparação. Portanto, não é surpreendente que o magnífico “O Parasita” seja frequentemente citado daqui em diante quando formos discutir filmes que tratam sobre ascensão social. Então, caso ainda não tenha visto “O Tigre Branco”, já faço o necessário disclaimer: não se trata de nenhum “O Parasita” desta temporada de premiações.
É um bom filme, assim como “A Casa” e “O Poço” (ambos da Netflix, assim como o próprio O Tigre Branco), para discutir um assunto que ganha cada vez mais os holofotes e, infelizmente, tende a ser um problema ainda maior com a gravidade da pandemia do novo coronavírus.
O filme acompanha a história de Balram, desde os seus primeiros passos na escola, a maneira abrupta como isso lhe é cerceado e o trabalho infantil com requintes de crueldade, afinal, trata-se de uma criança notadamente acima da média em relação aos estudos. A medida em que o filme avança, torna-se impossível não nos afeiçoarmos ao protagonista e, mesmo sendo este um anti-herói, torcer por um desfecho de menos sofrimento em sua vida.
Em sua fase adulta, o ator Adarsh Gourav dá um verdadeiro show de atuação. Ainda que em momentos mais tranquilos com seus patrões, sempre demonstra aquele verdadeiro incômodo de quem sabe que a qualquer momento poderá ser substituído ou humilhado. Inclusive esta tensão faz parte do início do último ato do filme e serve como uma ótima analogia a como a mão de obra é vista no capitalismo: substituível a qualquer sinal/sintoma de proximidade extrema, envelhecimento etc.
A naturalidade como isso tudo é exposto assusta. A manutenção da desigualdade social é o padrão daquela (e de toda a) sociedade em que as pessoas se propõem a: romper com seu passado, viver para o trabalho, tirar de modo inescrupuloso as pessoas que estão hierarquicamente acima de você, servir literalmente como capacho de seus patrões, etc. Pessoas que podem até ter alguma chance de prosperar na vida, mas, sempre certos de que seu destino será, muitas vezes, o de terminar próximo de como começou. Outra analogia impressionante com o capitalismo.
Claro que nem tudo são flores na obra. Existe uma linha a ser explorada aqui sobre o fato de que os indianos que foram até os EUA são os que acabam por expandir a visão de mundo daqueles que lá sempre viveram (inclusive culturalmente). No mais, a personagem a que mais nos afeiçoamos, mesmo sendo cúmplice de algo inadmissível e que no final ainda tenta por ajudar nosso anti-herói, acaba por voltar para os EUA… Entendo que os filmes precisem ser “vendáveis” mundo a fora, mas, ele já o seria sem essa necessidade, fora a existência de outras cenas e diálogos inseridos para que o longa seja percebido como algo mais global.
Nota: 8/10
Para quem não assistiu ainda, abaixo o trailer da obra indicada a Melhor Roteiro Adaptado no Oscar 2021 :
Até mais e bons filmes e séries! 😉
JOÃO FRANÇA FILHO (@CINESTIMADO)
ArteCult Cinema & Companhia
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