O ENGENHO DOS CORPOS EM MOVIMENTO: Novo livro de Rubermária Sperandio será lançado no dia 29/1 na Taberna da Glória

No ano em que a Ventura Editora completa 10 anos, mais uma obra muito esperada está prestes a ser lançada. Trata-se de O engenho dos corpos em movimento, com 12 contos de Rubermária Sperandio.

O lançamento será na quarta-feira, dia 29 de janeiro, a partir das 18h, na Taberna da Glória (Rua do Russel, 32A. Glória) no Rio de Janeiro.

Confira o book trailer :

Produção de @visual_poema

 

Perguntamos à autora sobre como nasceu a vontade de escrever o livro:

“A vida é movimento, e, em cada movimento, uma nova história se desenvolve.” (Rubermária Sperandio)

Capa do novo livro de Rubermária Sperandio. Foto: Divulgação

No prefácio da obra, o escritor e artista visual Jozias Benedicto escreve:

“Mergulho nos contos do livro O engenho dos corpos em movimento e tenho a sensação – tal qual a criança, personagem de um dos contos – que o tempo se passou como se eu estivesse a ler nuvens, a deslizar por elas em um céu azul ou ameaçador ou apenas indiferente; a tocá-las, vasculhá-las, revolvê-las e a todo momento ser surpreendido por desfechos imprevisíveis; a revisitar outra e outra nuvem para descobrir preciosidades não percebidas na primeira leitura. Sigo imerso na delicadeza, precisão e esmero com que a escritora Rubermária Sperandio tece, suave e habilidosa, suas narrativas, como uma pastora de nuvens que, “queimando vigílias na planície eterna” com doce vigor, apascenta suas criações.”

Na orelha, a cargo do escritor e professor Marcelo Mourão, lemos:

“Neste seu primeiro livro de contos a vir a lume, Rubermária Sperandio nos revela uma bela amostra de o quão estudiosa da arte literária ela é. Leitora diária, voraz, viciada na arte da devoração constante de gêneros literários os mais diversos, ela derrama sobre nós, em cada um de seus 12 contos, não só essa sua vasta erudição, mas também o seu cuidadoso (e habilidoso!) apuro técnico, tanto no campo linguístico quanto no literário. Neste volume, iremos encontrar textos que ora mergulham no mais puro surrealismo (e na poesia, não esqueçamos que a autora também é poetisa), ora transbordam, para todos os lados, cenas que esfregam em nossas caras as hipocrisias, falhas, medos, paranoias e tantas outras idiossincrasias nossas que, de tão corriqueiras que são em nossas vidas, não nos permitem enxergar o quão esquisitos, no fim das contas, somos todos nós. Sendo assim, posso afirmar, sem medo algum de errar, que esta é uma obra não só literária, mas também filosófica, de tão profundas que são as questões aqui suscitadas.”

Já a escritora Ione Mattos é a responsável pela quarta capa:

“O que é uma mulher? Precisamos ver para acreditar ou acreditar para ver? Quais as nuances entre realidade e fantasia que um “rasgo ontológico” pode romper? Viver é melhor que sonhar? Um corpo desejante pode voltar ao barro, moldar a diversidade de suas formas e mudar a vida? Pequenas mortes e renascimentos: a quem ou a que devemos exatamente o quê? Escrever e ler com o corpo faz pensar ou faz magia? Perguntas para as quais os contos deste livro são pequenos cortes – precisos, incisivos, penetrantes, firmes, reveladores – incidindo sobre corpos: os dos narradores, os dos personagens, os dos leitores. Colocados em relação entre si, intra si, além de si, somos um em todos, todos em um, engenhocas corpo-testemunhas, fabricantes de sentidos para incompreensíveis movimentos. Escrevo, leio. Logo.”

E você o que está esperando para mergulhar fundo nas 12 maravilhosas histórias contidas em O engenho dos corpos em movimento?

Confira abaixo nossa entrevista com Rubermária.

 

ENTREVISTA COM A AUTORA

Aproveitamos a oportunidade e conversamos com a autora sobre o lançamento do livro e outras questões relevantes. Confira abaixo:

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?

Rubermária Sperandio. Foto: Divulgação

Rubermária Sperandio: A literatura entrou na minha vida através do meu avô, que era um contador de histórias. Quando eu e meus irmãos nos encontrávamos com ele, tinha sempre uma história na manga. Ainda hoje, me lembro, particularmente, da história da dona Iara, nossa preferida. Também teve o papel da igreja através da contação de histórias religiosas; da escola, por meio das histórias contidas no livro de português. Quando o livro chegava, eu as lia numa semana. Assim, quando adulta, eu já gostava muito de ler e não parei mais. Hoje, sou uma grande leitora. Termino de ler um livro e logo começo outro. Num determinado momento, comecei a pensar em também escrever. Mas, no início, escrevia apenas para mim mesma. Guardei por muitos anos uma pasta com as coisas que eu escrevia.

 

ArteCult: Há alguns anos, você lançou Matrioskas, um livro de poemas. Agora, apresenta ao público O engenho dos corpos em movimento. O que poderia nos dizer sobre essas experiências?

Matrioskas. Livro de poemas de Rubermária Sperandio. Foto: Divulgação.

 

RS: Eu comecei a pensar em publicar quando me mudei para o Rio de Janeiro (antes, eu morava em Cuiabá). Aqui, tomei conhecimento dos cursos da Estação das Letras e de outras instituições e fiquei muito interessada em conhecer a literatura mais de perto. Fiz vários cursos e fui me aperfeiçoando. Na época, me dediquei mais ao conto e comecei a escrever contos e a guardá-los num arquivo pensando numa futura publicação. Paralelamente, eu também lia e escrevia poemas, mas, nesse caso, eu me sentia mais insegura. Um dia, durante o evento de lançamento do livro de um amigo, conheci um professor que dava oficinas de poemas. Resolvi me inscrever. Disse a ele que tinha poemas escritos. Ele me pediu que levasse alguns no nosso primeiro encontro. Levei 20 poemas. Ele os leu e disse que certamente teria algumas coisas para me passar, mas que eu já era poeta. Eu disse a ele que tinha mais de cem poemas. E então ele me propôs que trabalhássemos com vistas a uma possível publicação. Foi assim que o livro de poemas Matrioskas passou na frente do livro de contos que agora apresento. Mais recentemente, voltei à feitura do meu livro de contos. Posso dizer que foram duas experiencias bem diferentes. Quando escrevia os poemas, estava muito envolvida com o movimento feminista e passando por uma mudança importante na minha vida íntima. Matrioskas constitui um mergulho na minha subjetividade naquele momento. Já a experiência com o livro de contos é muito mais distanciada, mais cerebral. Claro, de algum modo, tem a ver comigo, com minha interpretação dos fatos, mas muitas das histórias são eventos completamente externos a mim.

 

ArteCult: Como nasce um conto, ou seja, o que inspira você a escrever esse tipo de texto?

 RS: Os contos nascem de várias maneiras. Alguns surgem de leituras que faço, uma frase, uma imagem que eu alargo e preencho com a história que eu acredito estar contida ali. Noutras vezes, são acontecimentos do cotidiano, não necessariamente ligados a mim, que eu procuro alinhar a um sentido psicológico ou filosófico, por exemplo.

 

ArteCult: Segundo o seu ponto de vista, que características um bom conto deve apresentar?

 RS: Diferentemente do período clássico do conto, existe, na contemporaneidade, muito mais espaço para invenção e criação. Parece que pode tudo. Seja como for, eu acredito que, de um modo geral, todo bom conto deve ser conciso. O autor deve optar por colocar apenas os elementos necessários que vão ajudar o leitor a “entender” o que ele deseja passar.

 

ArteCult: Para finalizar, peço que você deixe aqui um trecho de um dos contos de O engenho dos corpos em movimento.

RS: Segue um trecho do conto “Banguela ou entredentes”:

Nesse instante, um corpo veloz deu-lhe um esbarrão e quase a derrubou, fazendo surgir diante dela uma cena inusitada: uma mulher alta e magra, estilete na mão direita, corre atrás de outra mulher gorda e baixinha. Sônia acompanha aflita o evento. Não vê nenhum policial por perto. As pessoas continuam seu ir e vir de formigas, no mesmo ritmo, como se nada as afetasse. Puta! Puta! — grita a travesti em tom grave.  Samantha corre mais. Está cada vez mais próxima da mulher. Vai pegá-la…

 

SERVIÇO

Lançamento de O engenho dos corpos em movimento, com 12 contos de Rubermária Sperandio.

  • Quando: Quarta-feira, dia 29 de janeiro, a partir das 18h
  • Onde: Taberna da Glória. Rua do Russel, 32A. Glória – Rio de Janeiro – RJ

 

CÉSAR MANZOLILLO

 

 

 

 

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Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de 32 coletâneas literárias. Autor do livro de contos "A angústia e outros presságios funestos" (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos. Toda quinta-feira, no ArteCult, publica um conto em sua coluna "CONTO DE QUINTA", que integra o projeto "AC VERSO & PROSA" junto com Ana Lúcia Gosling (crônicas) e Tanussi Cardoso (poemas).

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