Nanda Torres devolveu, neste início de 2025, a dignidade do povo brasileiro.
Não, definitivamente não somos uma pátria de vira-latas, conforme previu Nelson Rodrigues em 1968 e 1962 o scretch brasileiro derrotar com elegância, sutilezas e samba nos pés – Garrincha, Pelé, Didi, Nilton Santos e Zagalo – as seleções favoritas dessas duas Copas do Mundo.
De repente, num piscar de olhos, éramos bicampeões mundiais de futebol, desde então o esporte mais popular do planeta. Mas não era só isso: inaugurávamos Brasília, com JK, o Presidente Bossa Nova, desbravando a Amazônia e o Planalto Central, com os índios do Xingu e seus corpos nus.
Tínhamos a batida do tamborim no violão Mágico de João Gilberto que, com Tom Jobim e o Poetinha Vinicius de Moraes, criaram uma nova maneira sincopada de cantar e tocar sambas. Frank Sinatra adorou. E gravou.
E mais, dentro de um contexto universal de vanguarda, no Caderno B do Jornal do Brasil (JB) nasce a Poesia Concreta, com seus não-versos que assombrariam o academicismo barroco-rococó-lusitano do Padre Antônio Vieira.
Do ponto de vista cultural o Brasil da virada dos 50 para os 60 inventava uma nova maneira de fazer cinema na trilha de Humberto Mauro e do russo Serguei Einsenstein. O cinema nacional ganhou o Festival de Cannes com o filmaço O Pagador de Promessas. Daí surge o Cinema Novo com Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor, Ruy Guerra, entre outros nomes significativos daquela geração.
Apaixonado pelas bachianas brasileiras de Heitor Villa-Lobos, Glauber Rocha cria sua obra prima: Deus e o Diabo na Terra do Sol, revelando um ator que até os dias de hoje nos encanta: Othon Bastos. Pois é nesse contexto político-cultural-histórico que Walter Salles se dá conta que gosta de brincar de Super 8, passando a ter a consciência de certezas e fracassos. Vinicius Jr ainda não existia para o racismo fascista, mas o goleiro Barbosa, negro e vascaíno, passou a ser acusado e perseguido pelo fracasso da Seleção Brasileira na Copa de 50, no chamado Maracanaço.
Por todas essas razões citadas anteriormente, a vitória de Ainda Estou Aqui é histórica e também é História. Traz à tona dois ou mais Brasis que fazem parte desse Brasilzão que nos orgulha e refresca a memória, o Brasil que transforma suas culturas em avanços sociais, ecológicos, econômicos e democráticos.
O filme, com seus lances tensos e densos, vibrantes e dançantes, revela as complexidades do nosso país e do planeta Terra.
Ainda Estamos Aqui, ora, se estamos!
Ainda Estamos Aqui, mas eles também estão: conspiradores, corruptos, assassinos de Marielles e Andersons, negacionistas da ciência e das vacinas, racistas, massacradores de homossexuais, mulheres e indígenas, sob o comando de um capitão energúmeno e biruta, que enfiou os pés pelas mãos em um enredo golpista de fazer inveja aos roteiristas mais trapalhões da realidade tupiniquim.
Tivemos a vantagem do povo escolher Lula para governar o país nestes tempos pós-modernos. Elegemos um governo democrático e progressista, voltado para as políticas públicas – o SUS sobrevive e sobreviverá. Mas o governo Lula não é apenas de gente de esquerda.
O presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), o jornalista Merval Pereira deu um toque importante na sua coluna de hoje, de O Globo:
“Ainda Estou Aqui leva aos cinemas milhões de brasileiros para conhecerem parte da sua História, que lhes tem sido negada anos a fio.”
A nossa atriz Fernanda Torres tem toda a razão quando diz:
“A coragem e as ações de Eunice Paiva nos revelou um Brasil que estava escondido nos escombros da Ditadura. Eunice, sim, é uma grande heroína.”
Texto de Luis Turiba.
Revisão: Rose Araujo.
LUIS TURIBA
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Luis Turiba em Brasilia. Foto de Rose Araujo.
*Luís Turiba é jornalista aposentado, poeta com 3 livros editados pela 7 Letras do RJ, e outros 8 livros no campo da poesia independente e/ou marginal.É editor da revista anual de invenções poéticas Bric a Brac, criada em Brasília, em 1985. A Bric a Brac 8, última edição, saiu em 2022, uma celebração ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e ainda pode ser encontrada nas melhores livrarias de Ramos.