O que esperar de um filme com início em uma cena com um plano detalhe, onde uma planta carnívora se nutre com uma mosca? Pois, bem! Diante dessa estética é que se passa o filme O Banquete.
Descrito como um drama/suspense, o filme vai muito, além disso. Trazendo dentro do enredo um cunho político e social enorme e é possível enxergar visivelmente uma grande crítica a política do país, ademais uma grande crítica social aos elitistas e a todo o luxo de pessoas que ocupam grandes cargos.
Baseado em eventos reais, como o envio de uma carta aberta publicada na época por Otávio Frias Filho a Fernando Collor que ocupava o cargo de Presidente da República, O Banquete serve-se de referências a grandes figuras políticas e a grandes filósofos também. Todavia, não espere citações formais ou com um grande cunho perspicaz, já que elas veem a partir de frases do tipo “Sócrates, queimava a rosca”. Algumas citações ficam dentro de uma nuvem de incógnita, como “Neves”, que é citado diversas vezes em telefone.
Ted (Chay Suede) aparenta fazer o papel do espectador curioso, que apenas escuta tudo, mas, não influencia as discussões, muito menos o conteúdo. Na trama ele interpreta o chefe da equipe contratada para o jantar e é a pessoa que se comunica com os convidados e anfitriões. Se fosse necessário descrever o longa em uma palavra, seria sarcasmo. Esse substantivo, que significa no dicionário ironia cáustica, impera durante toda a trama.
O que me leva a compartilhar uma visão mais simbólica e que me deixou muito pensativa. Dentro do roteiro, Daniela Thomas, que também é diretora do longa, aborda uma parte da classe jornalística e artística, como a grande editora, a crítica de teatro, o colunista ‘gay’, a grande atriz de teatro mas que, na verdade, não são nada e vivem mais de status.
Então, porque não dentro de todo o circo de horror que é formado durante o jantar que deveria celebrar o 10º aniversário de casamento de um casal, não podem estar representados características reais de quem somos?
Por exemplo, o elegante colunista bem resolvido com a sua opção sexual, que, na verdade é um pobretão, avarento e de linguajar chulo. Este ser simboliza notoriamente o status e prestígio vazio, a máscara da mentira que é vestida por tantos e que tecnicamente jamais cairia para o povo, dos rostos de figuras públicas.
A relação estética é muito importante, além do mais o filme se passa em um só cenário, então cada detalhe conta, até mesmo o espelho na parede, que não é apresentado como um espelho limpo e comum, mas sim, cheio de emendas e pedaços mais sujos, o que acaba distorcendo a imagem de todos.
Detalhe: o espelho fica ao lado da mesa de jantar, constantemente todos se refletem nele. O suspense sobre os convidados fica ainda maior quando a trilha musical, instrumental, se faz presente somente no momento que a campainha toca. Todos os sons bem destacados, te fazem ouvir e prestar atenção até nos goles de bebidas.
Uma trama sarcástica, imersiva e precisa. O Banquete chega aos cinemas quinta-feira, dia 13/09 e entrega a todos um cinema brasileiro que precisa ser cada vez mais divulgado.
CONFIRA O TRAILER:
MARIANE BARCELOS
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