NELSON PEREIRA DOS SANTOS – VIDA DE CINEMA: Veja a cobertura da Pré-estreia na ABL do documentário dirigido por Aída Marques e Ivelise que traz o cineasta apresentando, em primeira pessoa, sua própria obra

Documentário passou pelos principais festivais de cinema do Brasil e do mundo e chega aos cinemas nacionais no dia 16 de novembro vai ao ar. 

Depois da estreia mundial no Festival de Cannes, onde foi exibido na mostra Cannes Classics, e de passar pelos principais festivais de cinema do Brasil – tendo sido selecionado para a Mostra Retratos do Festival do Rio e com sessão especial na Cinemateca Brasileira na Mostra SP –, o longa-documentário “Nelson Pereira dos Santos – Vida de Cinema”, dirigido por Aída Marques e Ivelise Ferreira, viúva do cineasta, foi exibido na Academia Brasileira de Letras (ABL) no último dia 9 de novembro e o ArteCult, é claro, esteve presente para conferir o filme, conversar com as diretoras e demais convidados.

Confira todas as entrevistas em nossa página no Instagram (@artecult) ! Conversamos com as diretoras Aída Marques e Ivelise Ferreira, com Luiz Ernesto Bretz (Bretz Filmes), os Imortais da ABL Antônio Torres, Merval Pereira e Cacá Diegues, o cineasta e jornalista Orlando Senna e o ator e diretor Paulo Betti. Não deixe de ver em nosso Instagram!

Explorando a obra e o legado de um dos maiores cineastas brasileiros, o filme, que estreia no dia 16 de novembro, é uma coprodução da Globo Filmes, Canal Brasil e GloboNews, com distribuição pela Bretz Filmes e patrocínio da Neltur.

Ao longo de seis décadas, a obra de Nelson Pereira dos Santos projetou o Brasil aos olhos do mundo. Precursor do Cinema Novo, Chévalier de la Légion d’Honneur e Comendador des Arts e de Lettres na França, Nelson foi mais que um realizador, foi um ideólogo e um pensador do seu país. Reunindo um material com mais de 80 horas de gravações de arquivo, “Nelson Pereira dos Santos – Vida de Cinema” é narrado em primeira pessoa e exibe o percurso desse grande cineasta brasileiro, cujo talento atravessou fronteiras e conquistou importantes premiações internacionais.

Como conta Ivelise:

“A decisão de inscrever o documentário no festival de Cannes não foi à toa. Os filmes de Nelson sempre foram muito bem recebidos em Cannes, e dois deles foram premiados: em 1964, ‘Vidas Secas’ ganhou o Prêmio OCIC, e, em 1984, ‘Memórias do Cárcere’ recebeu o Prêmio FIPRESCI”.

“Entre filmes e vídeos de acervo, encontramos Nelson em várias idades, revelam as diretoras.

“Descobrimos verdadeiras preciosidades, como as imagens inéditas do início dos anos 60, quando Nelson era jovem, além do making of de ‘Juventude’, o primeiro filme que Nelson fez”, conta Ivelise.

“As imagens praticamente inéditas das gravações de Radamés Gnattali com Tom Jobim, para o programa da TV Manchete com o mesmo título que originou o celebrado filme ‘A Música Segundo Tom Jobim’ são outro valioso achado”, completa Aída.

Os relatos de sua vida pessoal e processos criativos conduzem o percurso dessa produção que transborda brasilidade. A trilha sonora, feita especialmente para o documentário, também é uma homenagem ao diretor. De autoria de Tim Rescala, ela traz referências de Villa Lobos e Tom Jobim, dois dos compositores brasileiros preferidos de Nelson.

Sinopse: 

Ao longo de seis décadas, o cinema de Nelson Pereira dos Santos projetou o Brasil aos olhos do mundo. Precursor do Cinema Novo, Chévalier de la Légion d’Honneur e Comendador des Arts e de Lettres na França, Nelson foi, mais que um realizador, um ideólogo, um pensador do seu país.

No Festival de Cannes, “Vidas Secas” (Prix OCIC, Prix de la Jeunesse), “Azyllo Muito Louco” e “O Amuleto de Ogum” competiram pela Palma de Ouro. “Quem é Beta?”, “Como Era Gostoso o Meu Francês” e “Memórias do Cárcere” (Prêmio FIPRESCI) participaram da Quinzena dos Realizadores. “Cinema de Lágrimas”, realizado a convite do BFI, teve sua estreia em sessão comemorativa dos 100 anos do cinema. Em 2012, “A Música Segundo Tom Jobim” foi exibido em sessão-homenagem ao cineasta brasileiro.

 

CONFIRA O DEPOIMENTO DO ESCRITOR E IMORTAL ANTÔNIO TORRES SOBRE NELSON PEREIRA DOS SANTOS

O acadêmico Antônio Torres. Foto: Guilherme Gonçalves.

Duas ou três coisas que sei sobre Nelson Pereira dos
Santos

Primeiro, recordo a tarde de um dia qualquer do ano de 1960 em que três
estranhos adentraram a Redação do Jornal da Bahia, em Salvador, e,
tendo um deles à frente, foram diretos para a sala do editor-chefe, que
vinha a ser um renomado escritor baiano, Ariovaldo Matos. O Ari, como
era chamado o nosso poderoso chefão, não demorou a sair do seu
cubículo para dizer o que aqueles visitantes queriam. Olhou de um lado
para o outro do salão cheio de máquinas de escrever sobre as mesas e
apontou na direção de um rapazola a catar milho numa delas. – Venha cá
– ele disse. E pôs-se à procura de uma mesa em que os três recém-
chegados, e mais o repórter escalado para ouvi-los, pudessem ficar
minimamente confortáveis.
Naquele exato momento eu ia ouvir o nome de Nelson Pereira dos Santos
pela primeira vez. Sim, era ele que ali chegava, acompanhado dos dois
atores principais de um filme que acabava de rodar em Juazeiro, lá à beira
do rio São Francisco. Eram eles Mozart Cintra e Ivan Souza.
A história que levou Nelson à Redação do Jornal da Bahia: ele havia ido a
Juazeiro para filmar Vidas Secas, uma adaptação do romance de Graciliano
Ramos. Só que chovia sem parar naquele sertão, que de seco passou a
ficar verde, deslumbrantemente. Para não perder a viagem, ele teve a
ideia de outro filme, Mandacaru Vermelho, que foi feito às pressas e
praticamente sem roteiro, mas igualmente com ambiência nordestina.
Nelson e os seus dois atores se foram, a matéria saiu, num bom espaço, e
precisei rodar um bocado pelo país e o mundo até reencontrá-lo, aí já
internacionalmente consagrado como um ícone do Cinema Novo.
Foi no Centro do Rio, onde ele tinha um escritório, que passei a vê-lo com
uma certa regularidade, sobretudo quando eu estava escrevendo o
romance Meu Querido Canibal e o procurava para conversar sobre o
tempo dos tupinambás. Afinal, Nelson Pereira dos Santos era o autor de
Como era gostoso o meu francês, cujas fontes de pesquisas também me
municiavam.

Daí fomos nos tornando amigos, a ponto de ele sempre me incluir na lista
de convidados para as suas pré-estreias e para a festa de comemoração da
sua eleição para a Academia Brasileira de Letras, em 9 de março de 2006,
assim como para a cerimônia da sua posse (17/07/06), quando foi
recebido pelo acadêmico Cícero Sandroni para ocupar a cadeira número 7,
hoje ocupada pelo também brilhante cineasta Cacá Diegues.
Uma vez bati na porta do seu escritório sem aviso prévio. Ele a abriu, todo
sorrisos, ao ver quem lhe interrompia no trabalho. E mais alegre ficou, ao
saber o motivo da visita. Era para lhe dar um exemplar da revista do
Festival Internacional de Cinema de Roderdã, na Holanda, em edição
dedicada aos vinte melhores filmes de cine-literatura do século XX, de
acordo com os vinte jurados que participaram da escolha, sendo um deles
o que assina estas linhas. E o meu voto estava nela, em holandês e inglês,
nas 10 linhas solicitadas, numa página ilustrada com fotogramas de Vidas
Secas, o que escolhi.
“Que bom que você votou em Nelson Pereira dos Santos” – me disse o
diretor do festival, lá em Roterdã. “Teria sido uma vergonha para nós se
ele ficasse de fora”.
Ao ver que na virada do século vinte para o vinte e um Vidas Secas ainda
era capaz de ganhar prêmio around the world, Nelson me abraçou, e me
chamou de irmão.
No dia da minha eleição na Casa de Machado de Assis, ele me telefonou
para dizer que estava viajando, mas havia enviado o seu voto por carta. Ao
contrário do que esperava, não vim a conviver muito com Nelson na ABL,
pois ele, com problemas de audição, pouco a frequentava, depois que lá
entrei.
Ele nos deixou no dia 21 de abril de 2018, mas agora está de volta, para
contar a sua história. Assim o vimos e ouvimos noite dessas lá na ABL
mesmo, em Nelson Pereira dos Santos – Vida de cinema, de Aída Marques
e Ivelise Ferreira, um documentário para crítico ou cinéfilo algum botar
defeito. Nele, Nelson vive. Assim como nos corações e mentes de tantos
quantos tiveram o privilégio de conviver com ele.

Antônio Torres (@antoniotorres781)

 

CONFIRA O DEPOIMENTO DE RICARDO COTA (CURADOR DO FESTIVAL DO RIO E ESCRITOR) SOBRE O CINEASTA:

Ricardo Cota, curador do Festival do Rio e autor do livro “Até o Último Fime“. Foto: Divulgação.

“Estive em uma oportunidade com o Nelson Pereira dos Santos, em 2012, em Cannes, quando foi exibido A Música Segundo Tom Jobim, documentário dirigido pelo próprio Nelson. O filme foi apresentado numa sessão especial na então chamada Salle du Soaxantième (hoje Salle Agnes Varda), que é uma sala especial, construída quando Cannes fez o seu 60º aniversário. Ela, em geral, exibe os filmes da competição um dia depois da exibição oficial no Palais du Festival, ou então sessões de filmes especiais, de filmes convidados. 2012 foi também o ano em que Walter Salles estava concorrendo na competição oficial com o filme On The Road.

Foi a primeira exibição internacional do filme do Nelson, recebido com uma inesquecível ovação, seguido de uma grande festa, que foi realizada logo na saída da sala, num pavilhão onde o cineasta e a equipe técnica foram recebidos por Daniel Jobim ao piano, mimetizando o avô, o Tom, tocando suas músicas, com direito a coquetel, queima de fogos à beira-mar, uma noite de muita festa. No mesmo Festivale foi organizado um jantar especial, onde se deu o encontro do Nelson, do Cacá Diegues, que também estava no festival, exibindo o 5xFavela agora por nós mesmos, com o pessoal do Nós do Morro, e o Walter Salles. Foi um momento muito especial. Talvez, eu acho, tenha sido a última participação do Nelson em Cannes. Foi uma festa muito bonita, porque permitiu ao filme ser exibido para um público internacional de jornalistas e também de prováveis compradores, o g último grande momento do Nelson na sua história linda, rica, reconhecida no Festival de Cannes, onde ele foi premiado por Vidas Secas, recebeu o Prêmio da Crítica por Memórias do Cárceres e teve esse momento especial celebrando seu grande ídolo Tom Jobim.”

Ricardo Cota (@ricardocota)

CONFIRA O TRAILER

 

 

NELSON PEREIRA DOS SANTOS

Colecionador de homenagens, Nelson Pereira dos Santos foi o primeiro cineasta eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 2006. Também Bacharel em Direito, professor e jornalista, criou o primeiro curso de cinema do país, na Universidade de Brasília – UNB, e fundou o curso de graduação em cinema da Universidade Fluminense – UFF. Um dos mais recentes sucessos de Nelson foi a “A Música Segundo Tom Jobim”, de 2012, que surpreendeu os apaixonados por cinema: o diretor abriu mão de uma cinebiografia clássica do músico e exibiu imagens de arquivo de uma série de interpretações (nacionais e internacionais) de músicas do compositor, sem qualquer tipo de narração ou legenda.

Entre as obras de Nelson Pereira dos Santos constam “Rio, 40 Graus” (1955), “Rio Zona Norte” (1956), “Vidas Secas” (1963), “Fome de Amor” (1968), “Azyllo Muito Louco” (1970), “Como Era Gostoso O Meu Francês” (1971), “Tenda dos Milagres” (1977), “O Amuleto de Ogum” (1973), “Estrada da Vida” (1980), “Memórias do Cárcere” (1984), “A Terceira Margem do Rio” (1994), “Cinema de Lágrimas” (1995), série realizada com outros cineastas, entre os quais Martin Scorsese e Jean-Luc Godard, “Casa Grande e Senzala” (2000), “Raízes do Brasil” (2003), “Brasília 18º” (2006), “A Música Segundo Tom Jobim” (2011) e “A Luz do Tom” (2013).

AÍDA MARQUES | Diretora

Doutora em cinema pela ECA-USP, Aída Marques é cineasta e produtora com mais de 30 anos de experiência. Entre seus trabalhos mais destacados estão: “Expedito” (2006), vencedor do prestigiado prêmio da CNBB, Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema Etnográfico, e apresentado na Mostra Internacional de Cinema do Rio, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo Festival de Cinema Autres Brésils (França); “Abdias Nascimento” (2011), exibido no Festival Internacional de Cinema do Rio e no Cinesul; e “Trágicas” (2019), estreado no Festival de Cinema de Tiradentes e premiado no Festival de Cinema El Ojo Cojo (Espanha).

Aída foi a idealizadora de uma série de exposições sobre cinema no Rio de Janeiro, trazendo ao Brasil a Expo(r) Godard, sobre o lendário cineasta e Vistas Lumière, sobre os pioneiros Irmãos Lumière, e a oficina de crítica de cinema Questão de Crítica. É professora emérita de Cinema e Audiovisual, curso fundado por Nelson Pereira dos Santos na Universidade Federal Fluminense, UFF.

Recentemente, Aída Marques dirigiu o documentário “Agudas: Os Brasileiros de Benin” (2023) e “Nelson Pereira dos Santos – Uma Vida de Cinema”.

IVELISE FERREIRA | Diretora 

Formada em licenciatura em artes cênicas pela Universidade de Brasília, UnB (1982) e administração e marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing ESPM/RJ (2003). Iniciou sua carreira em cinema no Centro de Produção Cultural e Educativa, CPCE – UnB (1988) produzindo documentários sobre produção de alimentos por associações de agricultores no entorno de Brasília, populações quilombolas e impactos da universidade de Brasília na formação da cidade.

Em 1991 trabalha como assessora do cineasta Nelson Pereira dos Santos na criação do Polo de Cinema e Vídeo de Brasília. A partir desse trabalho torna-se assistente de direção e de produção do diretor nos filmes: A Terceira Margem do Rio, (1993) O Cinema de Lágrimas da América Latina, (1995) Casa Grande & Senzala, (2000) Raízes do Brasil, (2002) Brasília 18%, (2005) A Luz do Tom, (2012) e A Música Segundo Tom Jobim, (2011).

2023 – Direção “Nelson Pereira dos Santos – Vida de Cinema”.

Ficha Técnica  

  • Argumento: Ivelise Ferreira
  • Direção: Aída Marques e Ivelise Ferreira
  • Produção executiva: Aída Marques
  • Roteiro: Bernardo Florim, Ivelise Ferreira, Aída Marques e Luiz Guimarães de Castro Pesquisa de imagens: Laís Rodrigues
  • Montagem: Luiz Guimarães de Castro
  • Composição e regência: Tim Rescala
  • Designers: Pedro Kuperman, Thomas Mendel e Bady Cartier
  • Produção: MP2
  • Coprodução: Globo Filmes, GloboNews e Canal Brasil
  • Patrocínio: Neltur
  • Finalização: Afinal Filmes
  • Desenho de som e mixagem: Damião Lopes
  • Fotografia adicional: Luiz Abramo

GLOBO FILMES e GLOBONEWS | Coprodutoras

Globo Filmes e GloboNews assinam juntas a coprodução de mais de 100 documentários, que alcançaram mais de 15 milhões de audiência e estiveram em mais de 300 festivais no Brasil e no mundo. “Sinfonia de um homem comum”, de José Joffily, “Marinheiro das Montanhas”, de Karim Aïnouz, e “Babenco – Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou”, de Bárbara Paz, são alguns destaques.

CANAL BRASIL | Coprodutora

No ar há mais de duas décadas, hoje é o canal responsável pela maior parte das parcerias entre TV e cinema do país e um dos maiores do mundo, com 365 longas-metragens coproduzidos, além de programas de entrevistas e séries de ficção e documentais. Sua pauta é a diversidade e a palavra de ordem é liberdade – desde as chamadas e vinhetas até cada atração que vai ao ar.

BRETZ FILMES | Distribuidora  

Com mais de 30 anos de presença no mercado cinematográfico, a Bretz Filmes vem atuando como distribuidora e produtora associada, tendo distribuído filmes de renomados diretores como Walter Salles, Karim Ainouz, Eduardo Coutinho, Helena Solberg, Sandra Kogut, Sérgio Machado, Flávia Castro, Izabel Jaguaribe, Marina Person, Nelson Pereira dos Santos, Ricardo Calil, Renato Terra e Heitor Dhalia. Seu diretor, Luiz Bretz, também dirigiu por 10 anos a área de distribuição da VideoFilmes. Atualmente a Bretz Filmes é uma das principais distribuidoras de documentários e filmes de autor nos cinemas do Brasil.

 

 

Author

Fundador, CEO e Editor-Geral do ArteCult.com (@artecult), Sócio-fundador e Editor-Geral do QuadriMundi (Quadrinhos, Mangás e Animações) @quadrimundi , sócio-diretor do CinemaeCompanhia (@cinemaecompanhia), admin do @portalteamigo no Instagram. Apaixonado pela sua família, por tecnologia e por todas as formas de ARTE e CULTURA.

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