Milton Nascimento, noite de devoção na Jeunesse Arena

O mais difícil para qualquer crítico talvez seja deixar o fã de lado quando vai cobrir algum show de um ídolo.
Milton Nascimento é, com certeza, uma das maiores influências da MPB, ao lado de Chico, Caetano e Gil, ainda ativos. Milton traz a turnê Clube da Esquina para a Jeuneusse Arena, fazendo a apresentação de encerramento, com vários convidados.

Milton no palco – Foto: Paulo Ricardo (Divulgação)

Mas como criticar um show de um ídolo, que só tocará um dos discos mais festejados na MPB, e ainda trouxe parcerias com Lô Borges, Flávio Venturini, Marcio Borges, Ronaldo Bastos, Wagner Tiso, Eis Regina, Chico Buarque. grandes da Música Brasileira, de qualquer tempo? Essa questão vai ser debatida ainda por muito tempo.
É certo que Bituca sofre com a idade, e isso vemos na sua voz, ainda bela, mas sem a potência ou o alcance de outrora.

 

O “passarim preto de terno branco” fez história na música, e se não tem a voz de antes, tem os arranjos, as composições e o carisma de antigamente, e isso o tempo não tira, aprimora! Milton é ímpar, talentoso e genial, voz doce , suave, aguda e precisa, que está ali no palco, e mesmo fustigada pelo tempo, está ali no palco, trazendo para uma plateia cativada uns dos raros momentos de ternura e verdadeira felicidade que carregaremos por um bom tempo! Vivemos história, e Bituca fez este show para lembrar isso.

O Show de abertura coube à banda Boiadeiros, que trouxe um sopro da MPB contemporânea para o público, que é extremamente eclético! Mas, chega de tietagem, de lembrar como Milton é importante, e vamos ao show!

A produção é ótima, tendo aquecido o público com clássicos da MPB, que foram devidamente cantados e aplaudidos! O palco era simples, com uma bela pintura atrás, onde o jogo de luzes brincou com as músicas que foram apresentadas. A Arena estava muito cheia, mas não lotada como Milton merce.

Milton e Flávio Venturini – Foto: Paulo Ricardo (Divulgação)

O som da Arena estava muito bom, sem distorções, microfonias ou ecos, mostrando que se pensou na qualidade que seria entregue a público. Milton cantou sentado, levantando pouco do palco, mãos trêmulas, e arranjos refeitos para comportar a extensão atual de sua voz, ou seja, ele sabe de seus limites, e explorou isso muito bem.
A abertura, com “Tudo que você podia ser” foi emocionante. A banda, extremamente afiada, teve a responsabilidade de trazer os ricos arranjos para o palco. O show seguiu com “Dos Cruces”, uma interpretação carregada na emoção.

 

Em seguida veio o primeiro convidado da noite, Flávio Venturini, para cantar Nuvem Cigana.

Depois, Nascente, o clássico, lindamente cantada pelo público. Venturini saiu do palco, e foi cantado “Casamiento de Niegros”, pérola do Clube da Esquina 2
E mais uma convidada sobe no palco, Maria Gadú, para cantar, e o que se viu foi devoção explicita, e “Canoa e Canoa”  foi devidamente festejada, aproveitando a visita, “Cravo e Canela”, parceria com Ronaldo Bastos, foi servida, devidamente embalada!

Lô e Milton

“Girassol da Cor seu Cabelo”, música de Lô Borges foi saudada pelo púbico, seguida por “Paisagem da Janela”, acompanhada por todos lindamente! Maria Gadú deixou o palco, e Milton dividiu algumas lembranças conosco. Como por exemplo: quando roubou um violão que sua mãe havia encomendado, tocando Lilia, que fez para ela!
Dedicada para Lô Borges, Bituca o chamou ao palco para cantar “Trem Azul”, com uma bela camiseta do disco Autobahn, do Kraftwerk!!

 

Lô e Milton saíram para uma pequena pausa, e a banda atacou “San Vicente”, “Trem Doido” e “Estrelas”.
Milton e Lô voltaram para cantar “Clube da Esquina 2”, um verdadeiro hino! Com a saída de Lô do palco, foi a fez de Criolo, cantando “Cais” nitidamente emocionado, seguido por “Não me deixe em Paz” e “Não existe amor em SP!” Despedindo-se de Criolo, e o som de uma Sanfona, Bituca mandou “Ponta de Areia!”

Gal Costa subiu no Palco para cantar Paula e Bebeto, “Canção da América”. Logo após Wagner Tiso veio , para celebrar a amizade desde os 13 anos de Bituca, tocando “Coração de Estudante.”

Milton e Gal – Foto: Paulo Ricardo (Divulgação)

Já com todos os convidados que antes passearam no palco, Bituca finalizou o show com “Nos Bailes da Vida”, “Nada Será como Antes” e “Maria Maria”,  encerrando uma apresentação de gala.
Milton é um gênio, tanto nas músicas que compôs, nas interpretações delas, quanto nas parcerias que teve.

Estamos vendo o ocaso de um gigante, que ainda abre espaço para os mais jovens.
A voz não é a mesma, mas Milton ainda é!

 

Obrigado Bituca, a noite foi maravilhosa.

Author

Apesar da sua formação em direito, sempre amou a música e os gameboards como banco imobiliário, jogo da vida, WAR, tendo sido apresentado ao RPG no fim da década de 80. Desde 2013 se aventurou pelos novos jogos de tabuleiro (board games), um mundo bastante lúdico e bem rico. Vocalista do Dinossauros Nacionais, colabora com o canal Música & Bandas Novas e agora vai nos ajudar a desbravar esse mundo muito legal dos Gameboards, sempre aprendendo também sobre os novos jogos!

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