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Quando Ana Clara Caetano e Vitória Falcão entraram em estúdio para gravar “N”, terceiro álbum da dupla ANAVITÓRIA, o autor das oito canções que elas regravariam naquelas sessões não fazia a menor ideia do que as duas estavam aprontando. Tinha que ser uma surpresa completa também para ele: Nando Reis. Tanto assim que, para que o segredo pudesse ser mantido até o último minuto, todos os trâmites legais – como as autorizações que compositores assinam pessoalmente para que qualquer regravação de um tema seu seja liberada – foram resolvidos na surdina pela mulher e pelo empresário de Nando.
Àquela altura, ANAVITÓRIA e Nando Reis já tinham uma bela história escrita. Os três se conheceram por acaso no corredor de um avião, pouco tempo depois de as duas meninas terem gravado uma edição do programa “Versões”, do Canal Bis, dedicada à obra dele. O compositor agradeceu a homenagem, elogiou as duas vozes e a relação levantou voo. Pouco tempo depois, fizeram juntos uma turnê de dia dos namorados: um total de cinco shows em cinco cidades. Os ensaios serviram para que a intimidade fosse conquistada. E Nando se apaixonou definitivamente não apenas por ANAVITÓRIA, mas também por Ana e por Vitória. A recíproca já era verdadeira. Seguiram fazendo shows em dobradinha pelo interior do país, em que um abre a noite para o outro. Fazem até hoje.
Seguindo o desejo de fazer um álbum “de intérprete”, ANAVITÓRIA e o empresário Felipe Simas chegaram à conclusão de que Nando Reis seria a mais natural entre todas as opções. O repertório seria selecionado pelo simples critério da afinidade absoluta. Gravariam apenas as prediletas, as oito canções de Nando que mais ouviam juntas, em casa ou na estrada. Chegaram a essas: “Pra Você Guardei o Amor”, “Relicário”, “As Coisas Tão Mais Lindas”, “Espatódea”, “Quem Vai Dizer Tchau?”, “All Star”, “Por Onde Andei” (todas de Nando sozinho) e “Dois Rios” (dele com os parceiros Lô Borges e Samuel Rosa).
Trancaram-se com o produtor Tó Brandileone, do quinteto 5 a Seco, no Estúdio do Tó e produziram, a seis mãos, tudo o que está no álbum. Tó e Ana são os dois únicos instrumentistas – ela, nos violões; ele, revezando entre tantos outros instrumentos. Ana se envolveu tão apaixonadamente em todas as questões musicais que o próprio Tó achou apropriado que ela assinasse como coprodutora. As vozes de Nando que surgem no início, no final e em meados do roteiro foram retiradas de conversas anteriores de whatsapp.
“N” ficou pronto e Nando continuava sem saber de nada. Até, a duas semanas da data programada para o lançamento, foi incluído em um grupo de whatsapp. Ali, recebeu duas mensagens de áudio, uma de Vitória, outra de Ana. E um link para ouvir o álbum.
Vitória:
“Oi, Nando, tudo bem? Olha só: a gente fez esse grupo e tá te mandando esse link. Na verdade, a gente queria que isso chegasse físico, junto com um presente que a gente tem pra te entregar há mais de 200 anos. Mas essa foi a maneira mais fácil que a gente encontrou. Nem sei como te falar isso. Nesses últimos meses, a gente tava inventando nosso novo projeto. E a gente só queria deixar você saber quando tivesse tudo pronto. É isso: agora tu pode ouvir o link e, se você quiser gravar tua reação ao ouvir… Eu queria mesmo era que a gente ouvisse junto pra eu ver tua cara, mas… Tempos e espaços, né? Eu espero muito que tu goste. E, também, se não gostar, não sei, mas foi muito forte pra gente fazer isso… Eu tô falando sem falar, né? Mas eu também não queria falar de uma vez. Mas eu só queria dizer que pra gente foi um presente muito grande regravar essas músicas. E… Ana, me ajuda?”.
Ana:
“Oi, Nando! Tudo bem? Eu tô muito nervosa pra fazer esse áudio. Eu fiz pelo menos 58. Mas tava tudo uma bagunça e tu não ia entender nada. Então eu tô aqui tentando fazer o 59. E organizar meu pensamento e ser o mais breve possível. Porque, meu Deus do céu, muito bagunçada, eu sou. Enfim. A gente te mandou esse link. E dentro desse link tem nosso novo disco. E dentro desse disco tem oito músicas que você, por acaso, escreveu. Você não estava sabendo disso antes porque era pra ser uma surpresa. Mas Vânia estava sabendo, Diogo estava sabendo e tava todo mundo com a gente nessa. A gente só queria que você recebesse quando estivesse tudo bem prontinho e do jeito que a gente estava imaginando. Enfim.
Eu só queria mesmo dividir com você um pouquinho de como foi o processo, porque foi muito muito especial pra gente, foi um negócio muito forte no nosso coração. As suas músicas já são muito familiares pra gente, tu sabe disso. Mas essas oito que a gente pegou pra mexer e pra se apropriar, a gente redescobriu todas elas. Cada palavrinha, cada melodiazinha, tudo ficou muito novo na gente. Foi um processo muito intenso e muito foda. Todos os dias no estúdio foram muito especiais. E, quando escutei ele prontinho, eu me emocionei demais. E eu espero que você sinta tudo o que a gente colocou nessa obra.
Eu não sei muito o que falar, na verdade. Talvez se você olhasse pra minha cara você ia entender mais do que ouvindo esse áudio. Porque meu coração fica falando um monte de coisa, mas pra reproduzir é muito complicado. Mas eu sei que você sabe de tudo. Eu amo muito você, amo muito suas músicas e amo nosso encontro nessa vida. Queria muito agradecer por tudo. Esse foi um jeito que a gente encontrou de homenagear, mesmo. A gente tem uma admiração muito forte por você.
Você vai ver que tem umas intervenções suas ali no meio, porque você mandou um áudio um dia – não sei nem se você lembra disso – falando sobre processo de voz e violão por causa do show que a gente tinha acabado de começar a fazer. Eu dividi com você que estava sendo muito foda. E você me falou um monte de coisa sobre tirar a casca protetora que a gente carrega com a gente. Fez muito sentido e eu encaminhei pra Vi esse áudio e fez muito sentido pra ela também. A gente queria que você estivesse presente de alguma maneira e foi essa a maneira que a gente encontrou. Enfim. Esse disco é pra ser ouvido inteiro igual a um filme. Espero de todo o meu coração que você goste. É isso.
Meu Deus, eu tô muito feliz que esse dia chegou! Eu queria muito ver sua carinha. Ai, Nando, muita coisa, muita coisa. Meu Deus, nada com nada esse áudio. Um beijo!”.
Menos de uma hora depois, pelo grupo de whatsapp, veio a resposta. Por escrito.
“Ana, Vitória,
não sei se vou conseguir escrever e descrever a emoção que estou sentindo: comoção é uma palavra melhor. Que disco lindo! Que surpresa, que declaração, que honra, que homenagem… todas essas sensações não definem a gama de elementos que faíscam dentro de mim, numa algazarra de felicidade indizível e íntima. Íntima porque, com vocês e por vocês, julgo ter a amizade e a proximidade que sabe e sente a autêntica verdade do que são, do que cantam. Agora que conheço cada uma das duas – sei separar a Ana da Vitória dentro de Anavitória – reconheço em cada uma das vozes a identidade e a preciosidades de cada ser. E o casamento que acontece na música de vocês. Pois a música vai além da composição (justapostas melodia e poesia); a música é a dança do som das vozes soprando vida aos ouvidos, alegria aos dias, embalando o coração de quem ama.
Acho que vocês já devem ter ouvido por aí eu falando sobre a emoção que me causa a voz feminina. A própria música, sua essência e sua transcendência, ressoam em mim com a alma da mulher, mãe de tudo o que há em mim, mãe do que sou enquanto existência em corpo, dor e amor. Minha mãe cantava, e sua voz é o som que dá voz a tudo, está em tudo que escuto e ouço, diapasão da minha própria voz, no que digo ou falo. Sou filho dela, da voz de uma mulher. A voz feminina é a matriz da minha vida.
Ouvir vocês cantando minhas músicas já tinha sido acontecimento responsável por trazer momentos de júbilo e felicidade. Vivi isso com vocês em todos os momentos que estivemos juntos: nos ensaios, nas passagens de som, nos shows, naqueles cinco dias e em outras ocasiões, outros palcos. Agora, ouvir esse disco…. -aaahhhh!… Um conjunto conciso, preciso e precioso de oito músicas, costuradas como uma colcha madrigal. Está tão lindo! Que arranjos, que interpretações, que vozes! Não vou me embrenhar em fazer comentários, pois sou suspeito e estou sob um impacto que não permite ter qualquer tipo de clareza além de saber que EU AMO VOCÊS!
Sempre me achei um cara de sorte por ter conhecido duas grandes cantoras – as duas maiores da minha geração! – Cássia e Marisa. E ouvi elas transformarem em maravilhas as coisas que escrevi. E, agora, vêm vocês, tão jovens e talentosas, verdadeiras e únicas. Puras sementes duras que brotaram a flor do futuro amor. Estou embevecido e muito – muito! – agradecido. Muito obrigado por fazerem esse disco e mostrarem ao mundo que olha e escuta a beleza da arte de vocês. Andava jururu com as agruras desses tempos de ódio e estupidez, sem vontade até de compor. Agora fiquei animado para escrever, e só me vem à mente fazer música pra vocês. Deixo aqui registrado meu eterno amor. Muito obrigado!
Nando”.