DESIGN versus DESIGUALDADES: Projetar um mundo melhor

Polo Cultural ItaliaNoRio inaugura primeira exposição do ano apontando soluções de designers brasileiros, ítalo-brasileiros e italianos para as desigualdades do mundo contemporâneo

 

Como o design pode transpor as desigualdades e direcionar o olhar para novas possibilidades, tanto no presente quanto no futuro? Esta é a pergunta que permeia a exposição “DESIGN versus DESIGUALDADES: Projetar um mundo melhor”, a primeira do calendário do Polo Cultural ItaliaNoRio (@poloitalianorio) em 2025, e que estará aberta ao público a partir do dia 16 de abril. Sob curadoria de Alexandre Rese e Carol Baltar, ambos do Instituto Europeu de Design  (IED Rio), foram selecionadas peças do Instituto Campana e dos designers Franz Cerami, Bernardo Senna, Débora Oigman, Flávia Souza, Giácomo Tomazzi, Giorgio Bonaguro, Gustavo Bittencourt, Jorge Lopes, Júlio Augusto da Silva, Karol Suguikawa, Marco Zanini, Marcos Bravo, Marcos Husky, Maria O’Connor, Paulo Goldstein, Pedro Galaso, Philipe Fonseca, Rafo Castro, Ricardo Graham, Sofia Gama, Pedro Leal, Thiago Antonelli e Thélvyo Veiga, Thiago José Barros e Zanini de Zanine. Mesmo apresentando diferentes propósitos, todas as criações refletem o seu tempo, celebram a diversidade, a inovação e a investigação, explorando soluções e apontamentos que instigam o público a conhecer, experimentar e repensar o papel multidisciplinar do design. Cada criação é um convite à reflexão e à ação, demonstrando que o design não se limita apenas à estética e funcionalidade, 30.

Como um elo de ligação com a Itália, a exposição integra a programação referente ao Italian Design Day (IDD) de 2025 uma campanha de promoção a nível global do design e criatividade italiana, promovida pelo Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional da Itália cujo tema é inspirado no Salone Del Mobile de Milão (que acontece de 8 a 13 de abril este ano) e no mote da Triennale Di Milão, “Desigualdades: Como Consertar as fraturas da Humanidade. As instalações do térreo do espaço são dedicadas ao Compasso d´Oro, mais importante condecoração do design italiano, com imagens dos vencedores dos prêmios desde o ano 2000.

Ao longo dos dois meses de exposição, o Polo Cultural ItaliaNoRio sediará um ciclo de seminários, workshop e encontros sobre as temáticas das desigualdades e o impacto do design nas suas mais variadas facetas, atuando na resolução e redução dos conflitos do mundo contemporâneo.

O Polo Cultural ItaliaNoRio é uma iniciativa do Consulado Geral da Itália no Rio, em parceria com o Instituto Italiano de Cultura (IIC) e do Instituto Europeu de Design (IED) de Rio:

“Acreditamos que o design pode ser uma ferramenta poderosa para melhorar a qualidade de vida e enfrentar os desafios da desigualdade em suas diversas formas. É com grande entusiasmo que o Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro, o Instituto Italiano de Cultura (IIC) e o Instituto Europeu de Design (IED Rio) têm a honra de apresentar essa mostra”, destaca o Cônsul Geral da Itália, Massimiliano Iacchini.

O projeto conta com produção da Artepadilla e patrocínio da Ternium, Tenaris, Grupo Autoglass, Instituto Cultural Vale e Generali Seguros, via Lei de Incentivo à Cultura, e aportes diretos da TIM Brasil e Saipem do Brasil.

Confira algumas imagens da exposição

 

Bergère de chapas de moeda, rostos de artesãs bordados e crânio de fóssil humano do Museu Nacional reproduzido: alguns exemplos do que será mostrado

Partindo da ideia da missão dada ao design, cujo objetivo prático é a resolução de “problemas”, muitas vezes, do cotidiano, a mostra reuniu designers que abordam diferentes temáticas, em variadas superfícies e plataformas de representação. Os projetos apresentados nessa exposição buscam na adversidade e nas desigualdades alternativas para pensar a vida por outro ângulo. Como, por exemplo, o Instituto Campana, que selou parceria com a Associação de Bordadeiras de Entre Montes, em Alagoas, e Novos Sítios, no Sergipe. A partir dessa parceria, foram criadas luminárias com os rostos das próprias artesãs bordados, imprimindo protagonismo a essas mulheres com saberes ancestrais. Sofia Gama, uma jovem designer de ascendência indígena, resgatou com a avó fazeres manuais que reforçam sua identidade, refletindo em peças que fazem uma interação entre designs vestíveis e arte.

A Poltrona Moeda Bergère do Zanini de Zanine apresenta uma estrutura perfurada feita de chapa de moeda, que anteriormente moldava as moedas de 10 centavos ainda em circulação no país. Outro projeto que ilustra a proposta da mostra é o escaneamento em 3D feito pelo BioDesgin Lab da PUC-Rio, que permite desde o entendimento detalhado do corpo humano, servindo como apoio a profissionais da saúde para procedimentos complexos, até a impressão usando as cinzas do Museu Nacional para imprimir e recriar o crânio da Luzia, reproduzindo o registro mais antigo já encontrado da ocupação humana na América Latina. Há também peças do italiano Marco Zanine, um dos fundadores do movimento Memphis, que revolucionou o design e a arquitetura mundial nos anos 70/80. A exposição traz para o Polo Cultural ItaliaNoRio outros tantos projetos que se somam à pluralidade que o design pode alcançar, desde questões religiosas, raciais, de gênero, sustentáveis, mas acima de tudo reconhecíveis e de identificação com público.

“Em um mundo marcado por profundas desigualdades, o design emerge como uma ferramenta poderosa para transformar realidades e construir pontes entre diferentes contextos sociais. A exposição “DESIGN versus DESIGUALDADES: Projetar um mundo melhor” propõe um diálogo urgente e necessário, reunindo designers brasileiros, ítalo-brasileiros e italianos em torno de soluções criativas e inclusivas. Através de novas linguagens visuais, materiais inovadores e abordagens sustentáveis, a mostra convida o público a refletir sobre como o design pode contribuir para promover um futuro mais justo e equilibrado”, afirma um dos curadores, Alexandre Rese.

 

Entrevistas com os curadores e o Cônsul da Itália – Exposição “DESIGN versus DESIGUALDADES: Projetar um mundo melhor”

 

A exposição “DESIGN versus DESIGUALDADES: Projetar um mundo melhor” abre o ciclo de atividades de 2025 do Polo Cultural ItaliaNoRio com uma proposta ousada e urgente: discutir, através do design, caminhos criativos e inclusivos para reduzir desigualdades no mundo contemporâneo.

A mostra integra o Italian Design Day e traz obras de designers brasileiros, italianos e ítalo-brasileiros que exploram temas sociais, culturais e sustentáveis. Conversamos com os curadores Alexandre Rese e Carol Baltar, e com o Cônsul Geral da Itália no Rio de Janeiro, Massimiliano Iacchini, sobre o conceito da exposição e a força transformadora do design.

 

Entrevista com Alexandre Rese (Curador – IED Rio):

 

1) ArteCult: A exposição propõe um diálogo entre design e desigualdades. Como foi o processo de curadoria para garantir que as obras realmente provocassem reflexão e sugerissem soluções concretas?

Alexandre: Começamos o nosso trabalho de pesquisa muito direcionado pela temática trazida pelo Salone del Mobile e Trienalle Di Milano, que é voltada para as desigualdades do mundo e como podemos superá-las. O Consulado Geral da Itália no Rio e Polo Cultural ItaliaNoRio nos convidou para abordarmos o tema com foco no design, pensando na programação do Italian Design Day 2025. A partir desse ponto de partida começamos uma pesquisa de designers com projetos que pudessem refletir as discussões do mundo atual, com temáticas pertinentes como sustentabilidade, diversidade de gênero, reinterpretações de linguagens, ancestralidade, religiosidade e tecnologia, por exemplo.

 

2) O que mais te surpreendeu durante a seleção dos trabalhos, considerando a diversidade de origens e temáticas dos designers participantes?

O que me surpreendeu foi a continua capacidade que temos em criar. E isso é fascinante. Temos uma percepção que para quase tudo temos soluções, que já foi inventado tudo. Mas novas questões surgem a todo tempo e continuamos revendo, revisitando conceitos sobre vida, estética, meios de linguagem, materiais e descobrindo possibilidades de leitura do meio onde estamos inseridos. E a exposição tenta trazer esse universo de possibilidades, aproximando propósitos, criando pontes e instigando a reflexão.

 

3 ) Muitos projetos dialogam com saberes tradicionais e comunidades periféricas. Na sua opinião, o quanto essa conexão fortalece o papel social do design?

O design precisa estar onde as pessoas estão. Entender a vida das pessoas para tentar transformar o dia-a-dia mais humano, seja com um projeto de impacto urbano, de uma embalagem de produto bem pensada, de um móvel que seja confortável e eficiente na função ou simplesmente na concepção de aparatos para registros da nossa história e memória. E quando olhamos para os saberes fora das nossas bolhas conseguimos estabelecer novos entendimentos. A troca, a construção de processos faz qualquer projeto ser mais rico. E atualmente, se não nos conectarmos com nossas origens, com o nosso entorno, será impossível vislumbrar um futuro mais equilibrado, sustentável, justo e acessível.

 

4) Que tipo de impacto você espera que essa mostra tenha sobre o público visitante, especialmente em um contexto urbano como o do Rio de Janeiro?

Eu espero que as pessoas entendam que o design é uma metodologia multidisciplinar aplicável em nossas vidas cotidianas, que está além da materialidade de peças, objetos. O design pode ser ferramenta de mudança ambiental e social. O design pode ser filosofia e prática, mas precisa ser acessível, com uma linguagem descomplicada. Espero que a exposição possa apresentar ao público uma reflexão sobre as muitas possibilidades, que apresente novos olhares e desperte diálogos e reflexões sobre o que fomos, somos e como queremos ser em futuro desafiador.

 

Entrevista com Carol Baltar (Curadora – IED Rio):

 

1) A exposição reúne obras de brasileiros, ítalo-brasileiros e italianos. Como essa mistura de olhares culturais contribuiu para a construção da narrativa curatorial?

A presença de brasileiros, ítalo-brasileiros e italianos certamente traz uma diversidade cultural interessante, mas o que realmente guiou a curadoria foram as abordagens e os temas que cada trabalho propunha. Independentemente da origem, buscamos projetos que se debruçassem criticamente sobre desigualdades e que apresentassem contribuições potentes para pensar um futuro mais justo. Naturalmente, diferentes contextos culturais aparecem nos trabalhos — o que acaba enriquecendo a exposição — mas o ponto central foi sempre a relevância das propostas diante dos desafios contemporâneos.

Um outro ponto interessante, foi a oportunidade de refletir mais sobre o design no contexto do Brasil. Cada conversa com cada designer participante da mostra, naturalmente suscitou uma comparação saudável e instigante. É importante termos senso crítico e justo, enaltecer os pontos fortes do design em ambas as culturas, mas também avaliar nossas fraquezas e como cada um pode contribuir para reduzi-las.

 

2) Você acredita que os materiais e as linguagens visuais utilizadas nas peças têm um papel tão importante quanto a mensagem que elas transmitem?

Sim e não!

Com certeza forma e conteúdo precisam caminhar juntos e ser coerentes com a proposta de cada designer. Cada escolha em um projeto, seja ela visual ou construtiva, comunica alguma coisa e reflete valores e crenças de cada designer. Então, sim, temos peças cujas linguagens e materiais são, por si só, o que carregam a mensagem contra preconceitos e situações de desigualdade. Mas, não só. Há outras peças nesta exposição em que identificamos que a relação com o tema está em algo que surgiu após a criação da peça e sem necessariamente ter sido fio condutor do processo criativo dos designers.

É o caso das duas peças da dupla Thiago Antonelli e Thélvyo Veiga, da Jabuticasa, por exemplo. Tanto a escrivaninha AL13 quanto a cadeira TT39 são peças ícones da Jabuticasa, cujo portfólio prioriza um design contemporâneo, em que o apuro estético e o cuidado com os detalhes e com a qualidade dos materiais são questões fundamentais, o que naturalmente coloca a marca num nicho de mercado mais específico e acessível para classes de renda mais alta. Ao doar exatamente essas mesmas peças para mobiliarem leitos e salas de espera do Hospital Público de Miracema, os designers contribuem ativamente para transformar a realidade de uma camada da população que nem sempre tem acesso a esse tipo de produto, inserindo noções de conforto, qualidade e, por que não, beleza, no dia a dia de colaboradores e pacientes. Ações como essa tem potencial inclusive educativo, para difusão do bom design entre camadas da sociedade sistematicamente excluídas de uma discussão que tem relevância na qualidade de vida de todos nós, não só dos ricos.

 

3) Como curadora e educadora, qual o valor formativo de uma exposição como essa para jovens designers e estudantes?

Diria que é um valor “incalculável”! Ampliação de repertório, aumento de senso crítico, possibilidade de reflexão sobre as pautas, enriquecimento cultural…

Durante nossa conversa com um dos expositores, o designer Jorge Lopes, ele compartilhou uma percepção que teve durante seu doutorado na Royal College of Arts em Londres: o térreo do prédio que abrigava as salas de aula da instituição era uma espécie de centro cultural e, todos os dias para irem para as suas respectivas aulas, os estudantes eram “obrigados” a passar por uma exposição de arte antes de pegar os elevadores. Ao longo de um ano, era notável como essa imersão diária no universo das artes contribuía, inevitavelmente, na qualidade dos trabalhos desenvolvidos por esses alunos.

Também somos resultado do meio ao qual somos expostos, então, fazendo uma brincadeira com as palavras: quanto mais exposição, melhor!

 

4) O ciclo de seminários e workshops previstos durante a exposição amplia o alcance do projeto. Como essas ações paralelas foram pensadas para dialogar com a mostra principal?

Desde o início concordamos que o tema tem grande amplitude, merecendo ser abordado sob diversos aspectos, e que seria impossível todos esses aspectos serem esgotados apenas com a exposição. Então, promover outros encontros para aprofundar e instigar mais a reflexão sobre como o design pode contribuir para reduzir desigualdades sempre esteve na pauta desse projeto e certamente vai complementar muito.

 

 

Entrevista com Massimiliano Iacchini (Cônsul Geral da Itália no Brasil):

 

1) O Consulado Geral da Itália tem investido fortemente na promoção do design como ferramenta de transformação. O que representa para o senhor a realização desta exposição com a curadoria do Instituto europeo do design ?

A parceria com o IED, cuja sede no Rio de Janeiro está na nossa Casa d’Italia, è fundamental pelo desenvolvimento de nossa atididade de divulgação das cultura italiana no Rio de Janeiro. O design è um dos temas principais do Polo Cultural ItaliaNoRio, é o IED representa uma excelência italiana no ensino superior nesse setor.

 

2) Como essa mostra se conecta ao espírito do Italian Design Day e à temática “Desigualdades” da Triennale de Milão?

Nossa exposição è formada de um conjunto de obras de 18 designer italianos, ítalo-brasileiros e brasileiro, que, sob a curadoria do Alexandre Rese e Caroline Baltar (IED) e com produção da ArtePadilla, abordam a temática comum do Italian design Day, do Salão do móvel de Milano (que terminou a poucos dias) e da Triennal e mostram como design possa resolver ou reduzir as desigualdades no mundo contemporario. No térreo do Polo, è exibida também uma mostra fotográfica sobre o Compasso d’Oro, a mais prestigiada condecoração italiana no mundo do design.

 

3) Quais são os próximos passos do consulado no fortalecimento das conexões culturais entre Itália e Brasil no campo das artes e da inovação?

Aqui no Rio reforçaremos a conexão histórica e cultural entre Itália e Brasil principalmente mediante a programação do Polo Cultural ItaliaNoRio, que foi inaugurado ano passado no aniversário de 150 anos da imigração italiana no Brasil. Graças ao aporte de nossos patrocinadores, à também via as lei de incentivo à cultura, nossa ideia è de representar o passado, o presente e o futuro desses laços entre os nossos países.

 

SERVIÇO

Exposição “DESIGN versus DESIGUALDADES: Projetar um mundo melhor”

  • Curadores: Alexandre Rese e Carol Baltar (IED Rio)
  • Visitação: de 16 de abril a 14 de junho de 2025
  • Produção e coordenação: Artepadilla
  • Funcionamento: de segunda a sexta, das 8h às 17h; aos sábados, das 10h às 17h.
  • Local: Polo Cultural ItaliaNoRio – Casa d’Italia
  • Endereço: Av. Pres. Antônio Carlos, 40 (térreo) – Centro – Rio de Janeiro (RJ)
  • Classificação livre, com entrada gratuita
  • Para mais Informações: BriefCom Assessoria de Comunicação

 

 

 

 

 

 

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Redação do Portal ArteCult.com Expediente: de Seg a Sex - Horário Comercial. e-mail para Divulgação Artística: divulgacao@artecult.com. Fundador e Editor Geral: Rapha Gomide.

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