

Falar sempre o mesmo parece ser redundante, mas quando saímos de casa para assistir ao espetáculo da Cia Armazém, por mais repetitivas que sejam algumas dramaturgias, o teatro da Cia é uma surpresa.
A montagem “Dias Felizes” do dramaturgo Beckett transformou-se em um show de interpretação, uma aula de teatro, aquela que todo artista focado em chegar a algum lugar não deveria perder.
Patrícia Selonk é uma fera do teatro, com um texto imenso, nos convida não apenas a assistir à peça, mas para ficarmos admirados diante do seu fazer teatro.
Não é de hoje que a atriz me coloca prostrada, totalmente entregue à sua forma magnânima de atuar.
Não importa se o texto é robusto, chato, maçante, ela traz vida, um brilho que hipnotiza, independente dos recursos que ela tem em mãos.

O cenário do espetáculo é rico, inteligente, que presenteia a dramaturgia com a verdade que um dia o dramaturgo quis oferecer aos espectadores. Com efeito especial ludibriando a cena, tudo acontece. Mesmo sem montantes, a beleza da Cia Armazém conquista a plateia. A coragem da Cia é imensa, uma das suas maiores características.
Antes de iniciar a peça, o diretor da Cia, Paulo de Moraes, avisa que mesmo sem patrocínio, a montagem chegou, reconhecendo o apoio do criativo dele. Artistas capacitados que deram as mãos e construíram uma obra relevante.
Paulo defende seu teatro, luta por ele, pode-se dizer que é o maestro da orquestra, onde tudo acontece.
O texto traz uma personagem que reclama da vida, mas, ao mesmo tempo, agradece por ela. Complexo e, ao mesmo tempo, simples. Rico em suposições e análises de como deveria ser essa nossa passagem.
O teatro do absurdo é tentar entender o que deve ser entendido por meio de uma ótica singular de alguém, que habita em um mundo paralelo, porque tudo tem uma explicação, um porquê.
Falar de Beckett e Ionesno é ver o mundo como é só que de cabeça para baixo, isso é o mínimo, porque vai para além, isso é o que eu penso.

A iluminação coopera muito com a obra, não poderia deixar de destacar essa ferramenta teatral.
Um grande salve para “Dias Felizes”, para louca vida e para nossa inexatidão humana!
Sinopse
Entre o riso e a ruína, o espetáculo — com direção de Paulo de Moraes — constrói um jogo cruel e fascinante, onde cada palavra dita ressoa como um eco entre a esperança e o delírio.
Patrícia Selonk volta à cena e ao palco do Espaço Armazém para dar vida a Winnie, que, enterrada até a cintura — e depois até o pescoço — procura em seus pequenos rituais a última linha de defesa contra o colapso. Felipe Bustamante, Isabel Pacheco e Jopa Moraes, interpretam Willie em dias alternados, revelando facetas variadas desse cúmplice silencioso, que serve como um lembrete incômodo de que até a solidão pode ter companhia.
SERVIÇO
DIAS FELIZES, de Samuel Beckett
De 1 a 18 de maio
Espaço Armazém — Fundição Progresso
Quintas, sextas e sábados às 19:30
Domingos às 19:00
FICHA TÉCNICA
- Direção: Paulo de Moraes
- Elenco:
Patrícia Selonk (Winnie)
Felipe Bustamante, Isabel Pacheco e Jopa Moraes (Willie) - Tradução: Jopa Moraes
- Iluminação: Maneco Quinderé
- Cenografia: Carla Berri e Paulo de Moraes
- Figurino: Carol Lobato
- Música original: Ricco Viana
- Colaboração artística: Lorena Lima
- Videografismo: Paulo Moraes e João Gabriel Monteiro
- Design gráfico: Jopa Moraes
- Fotografias: João Gabriel Monteiro
- Adereços pedras: Alex Grilli
- Adereço sombrinha: Paulo Denizot
- Produção: Armazém Companhia de Teatro



Paty Lopes (@arteriaingressos). Foto: Divulgação.

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