Da loucura a emoção

 

Escrever sobre esse espetáculo é uma honra, não pelo fato de se tratar de um grupo de artistas, mas pela aula de teatro que tive no Teatro II do Sesc Tijuca.

Dificilmente eu enviaria a professores universitários de teatro a notícia de uma peça que serve como ferramenta para pesquisas de qualquer estudante das artes cênicas, mas eu o fiz.

É tão bom quando temos a oportunidade de estar de frente a obras singulares e ricas, como “Foi Enquanto eu Esperava a Encomenda de um Livro de Maiakóvski que Tive uma Epifania Sobre a Revolução“, o nome do espetáculo é imenso, mas fazer o que se os fazedores de teatro envolvidos nessa peça também são?

Quem é Maiakóvski? Um poeta sobrevivente da Revolução Russa!

Vladimir Vladimirovitch Maiakovski, também chamado de “o poeta da Revolução”, foi um poeta, dramaturgo e teórico russo, frequentemente citado como um dos maiores poetas do século XX.

E o que foi a Revolução Russa?
A Revolução Russa de 1917 foi um período de conflitos internos na Rússia Imperial, iniciado em 1917, que derrubou a monarquia russa e levou ao poder o Partido Bolchevique, de Vladimir Lênin.

Paty Lopes, e o que isso tem a ver com o Brasil? Um espetáculo desse pode ser contemplado em um dos maiores editais de cultura do nosso país? Pode e deve!

Todo poeta, como Maiakovisk, é um sonhador, assim como todos os artistas. Sonhamos com um país melhor, com seres humanos melhores, com revoluções que tragam ao povo melhores condições, sei que parece utópico, mas se não for desse jeito eu desconfio do artista. E foi diante do poeta russo, durante a pandemia, em meio ao desgoverno da época que o dramaturgo Caio Silviano resolveu pensar na revolução do país e começou a costurar seu sonho, costurou e ao começar a costurar, viu problemas na máquina de costurar, começou a perceber que costurar não era tão fácil. Assim como as revoluções, por onde começar? E tudo parece um deboche, piada, devaneio, mas não! É tudo tão inteligente, complexo e, ao mesmo tempo, tão necessário. Faltam idealistas, isso já sabemos, por que será? Questiono a mim mesma a todo tempo. Onde estão os Cazuzas? Os Renatos Russos? Os Betinhos? Será que estão no teatro? Possivelmente, foi no teatro que aprendi muito e alimentei minhas ideologias.

Uma maquete convida o Brasil a essa revolução, com as bonecas matrioskas da cultura russa, que apontam o poeta mencionado. Tudo muito interessante, muitíssimo. E daí começa a saga textual, será que através das ligações de uma central é possível começar uma revolução? Ideias do dia a dia contemporâneo chega, nos fazendo rir.

E tudo acontece diante dos nossos olhos, com uma estética visual competente embora simples, visagismo, figurino, tudo nascido de uma magnânima criatividade, fazendo teatro como dá, mas tudo com ricas pesquisas, tudo aprofundado, de raso afirmo que nada encontrei.

Reprodução do Instagram @grupopano

Além da capacidade cênica dos artistas, vozes e musicalidade que mais me lembram as anascentes de um rio, tão vislumbrante quanto. Inesquecível a quantidade de instrumentos no palco, ainda mais quando cantam o brasileiro Luiz Gonzaga, um trem desgovernado com toda a sua força me atropelou nesse momento, se o cai ou não cai do frevo que era parecido, eu caí por conta do encantamento dos jovens artistas. E digo que se não quiserem mais seguir nas artes cênicas, uma banda de música está criada. Não foi por política que O diretor musical Marco França foi indicado ao Prêmio Shell pela criação da música de outro espetáculo do grupo em 2024.

Figurinos e maquiagem da também atriz e soprano Cecília Barros, que me levou aos céus.

Alice Guêga, Amanda Quintero, Bernardo Bibancos, Cecília Barros, Henrique Reis, Juliano Veríssimo e Rafael Érnica, fazem parte do elenco, entre eles não há um melhor ou iro estão no mesmo nível, parece que saíram da mesma maternidade, o destino deles devem ter sido traçado por lá, mencionando a tal ideologia…
Olhares avassaladores. Entrei no teatro com dois artistas embebecidos na mímica, que maravilha! Fizeram eu viver de perto o filme ganhador do Oscar “O Artista” em 2011. Gratidão por isso.

Preciso evidenciar, o momento que “Novo Mundo” é abordado na peça, o que trouxe? Guerra? Falta de capacidade de cuidar da terra? Com tanta evolução, como nós perdemos a capacidade de cuidar do que merece realmente cuidado?

Não sei se eles entenderam que eles fizeram uma revolução, mas junto a milhares de brasileiros tiramos do poder o nosso Putin, na data de hoje, o ex presidente tornou-se réu, o que comemoramos. Essa revolução custou a vida da minha mãe, do artista Paulo Gustavo (com vasta história teatral) e muitos outros brasileiros.

Fazer teatro não é fácil no país, eu já tinha mencionado isso antes, é preciso se abdicar de muita coisa, é preciso saber viver diante do não ter e não poder, é ter um vício imortal de acreditar que vai dar certo, é deixar de lado a vaidade, é ser grande e pequeno ao mesmo tempo, mas acima de tudo é ter coragem e saber que a história um dia criada para um palco qualquer se transformará em verdade, viu? Ele é réu!

Ao final desse espetáculo eles são ovacionados, porque há neles uma ESPERANÇA para todos nós seres humanos, é impossível não se emocionar depois de tanta loucura, depois do que somos convidados a entender e rever, isso fala sobre todos NÓS, que presente é a capacidade que eles nos trazem de entender que há um motivo dentro de cada um de nós de persistir, algo que nos eleva a lama e que não vou contar!

Estarei sempre pronta para aplaudir o Grupo Pano (@grupopano), reverenciar as obras desses artistas que me lembram pássaros, daqueles que voam alto, migram, mas sabem exatamente aonde querem chegar. São os artistas do futuro, tipo a turma do Asdrubal…

Parabéns!

 

 

SINOPSE

Quatro camaradas estão reunidos numa célula revolucionária para planejar o Grande Ato que promoverá a revolução efetiva no Brasil. Ao se depararem com a falta de inspiração para uma ação consistente, fazem uma encomenda online de um livro do poeta Vladimir Maiakóvski. A história se desenrola nesse período de espera e recebimento do livro que lhes parece ser a peça fundamental para a constituição de sua força revolucionária. Uma sátira que nos atenta para o agora e o agir efetivo que não será proveniente de nenhum tipo de inspiração.

 

FICHA TÉCNICA

  • Direção e dramaturgia: Caio Silviano.
  • Elenco: Alice Guêga, Amanda Quintero, Bernardo
    Bibancos, Cecília Barros, Henrique Reis, Juliano Veríssimo e Rafael Érnica.
  • Figurino: Cecília Barros.
  • Cenário: Grupo Pano.
  • Adereços: Amanda Quintero e Bruno Britto.
  • Máscaras: Rafael Érnica.
  • Iluminação: Gustavo Gonçalo.
  • Trilha Sonora e Música: Grupo Pano.
  • Direção de Produção: Isadora Petrin – Pitô Produções.
  • Assistente De Produção: Ian Noppeney.
  • Design Gráfico: Cecília Barros.
  • Boneco: José Valdir Albuquerque. inflável: Infla Power.
  • Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes.
  • Realização: Grupo Pano.

 

SERVIÇO

Espetáculo “Foi Enquanto eu Esperava a Encomenda de um Livro de Maiakóvski que Tive uma
Epifania Sobre a Revolução” com o Grupo Pano.

  • De 20 de março a 13 de abril – De quinta a sábado às 19h. Domingo às 18h.
  • Classificação etária: 12 anos.
  • Duração: 80 minutos.
  • SESC TIJUCA  –  Rua Barão de Mesquita, 539 – Tijuca, Rio de Janeiro – RJ, 20540-001
  • Telefone: (21) 4020-2101
  • Ingressos: R$ 10 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira), Gratuito (PCG).
  • Vendas somente na bilheteria.

Paty Lopes (@arteriaingressos). Foto: Divulgação.

Siga-nos nas redes sociais: @showtimepost

 

 

 

 

Author

Dramaturga, com textos contemplados em editais do governo do estado do Rio de Janeiro, Teatro Prudential e literatura no Sesi Firjan/RJ. Autora do texto Maria Bonita e a Peleja com o Sol apresentado na Funarj e Luz e Fogo, no edital da prefeitura para o projeto Paixão de Ler. Contemplada no edital de literatura Sesi Fiesp/Avenida Paulista, onde conta a História de Maria Felipa par Crianças em 2024. Curadora e idealizadora da Exposição Radio Negro em 2022 no MIS - Museu de Imagem e Som, duas passagens pelo Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com montagem teatral e de dança. Contemplada com o projeto "A Menina Dança" para o público infantil para o SESC e Funarte (Retomada Cultural/2024). Formadora de plateia e incentivadora cultural da cidade.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *