OS FABELMANS: Steven Spielberg conta sua relação com o cinema nessa obra prima pessoal

 

Os Fabelmans, novo filme escrito e dirigido por Steven Spielberg, é mais uma obra prima do cineasta que mostra não só sua paixão e entusiasmo pelo cinema, mas também é, sem dúvida, a obra mais pessoal do diretor, tendo como base sua própria biografia, usando diversos pontos e acontecimentos de sua juventude para compor esse tocante filme.

Cena de OS FABELMANS da Universal Pictures. Foto: Divulgação.

Quem conhece a trajetória da juventude e adolescência do cineasta, vai se familiarizar muito com o filme. Assim como Dor e Glória está para a autobiografia não assumida de Pedro Almodóvar, Os Fabelmans está para a de Spielberg, porém, o próprio cineasta assume que usou sua própria história para compor o roteiro do filme, começando do ponto mais crucial de sua vida (depois de seu nascimento, óbvio), que é a sua primeira experiência com o cinema , quando mostra como isso  desencadeou um anseio enorme no protagonista em fazer parte de tudo aquilo e, a partir daí, não parou mais.

Cena de OS FABELMANS da Universal Pictures. Foto: Divulgação.

No mesmo instante em que Spielberg usa sua biografia como base, ainda homenageia o Cinema dentro de sua própria história, o que diferencia a vida do diretor com a do personagem Sammy (Gabriel LaBelle), pois é contada de forma mais fantástica e ilusionista, pelo menos até um certo ponto, já que as referências ao cinema deixa o filme mais fantástico, mas não tão distante da realidade, o diretor apenas recontou alguns momentos de sua vida de uma forma de como queria que tudo tivesse acontecido. É o que separa Sammy de Spielberg, sendo apenas um personagem baseado na sua persona. A forma como o Spielberg usa essa homenagem como metalinguagem dentro da história é incrível, usando-a de forma progressiva junto com a evolução de Sammy ao explorar mais e mais métodos de filmar e editar seus filmes caseiros, começando desde o início, ao usar a clássica referência do primeiro filme feito na história da chegada do trem dos irmãos Lumière, passando por diversas outras Eras ou de filmes específicos que os cinéfilos mais atentos vão notar nesses detalhes. Alguns ficam bem claro, como a passagem sobre a 2º Guerra Mundial, um dos temas mais abordados dentro da indústria e sobre o qual o protagonista também acaba fazendo um filme caseiro sobre isso. Ou algo mais sutil, como a cena do tornado que lembra “O Mágico de Oz”, sendo usado como analogia com a situação que o filme conta naquele momento antes de uma grande mudança na vida dos Fabelmans.

Cena de OS FABELMANS da Universal Pictures. Foto: Divulgação.

O drama familiar, no início, é bem superficial, mas de modo proposital, para mostrar a forma ilusionista que o protagonista enxerga, com uma vida perfeita, com todos rindo e se divertindo, até a revelação de um segredo que não só muda a visão do protagonista, mas a do espectador também, enxergando algumas risadas como um disfarce para esconder a angústia e o desespero de alguns membros da família. Além da preparação que o roteiro faz até chegar nesse momento, a montagem é ótima ao revelar essa informação através da revelação de um dos filmes de Sammy, quebrando o parâmetro de realidade e ilusão do protagonista, o que acaba sendo um choque para ele e o que muda seu jeito de olhar para sua família, e até do modo de enxergar seus filmes.

Isso acaba provocando um desgaste gradual e no momento que novas mudanças começam a ocorrer na sua vida: sua família se distancia de um velho amigo e ele para de produzir seus filmes. O ritmo do filme muda então por completo, mostrando uma vida mais problemática e complicada, como se a ilusão fosse quebrada por completo e a realidade viesse à tona. A felicidade dos Fabelmans, ao se afastarem do personagem do Seth Rogen termina, tanto que depois que Sammy volta a gravar algo novamente, o filme fica mais alegre, mesmo sendo um momento de felicidade, sua trajetória mostra como a vida não é um filme e que, às vezes, criamos uma figura fictícia que pode até ser real para os outros, mas que sabemos que é algo falso, o que chega a ser um pouco apelativo ao expor isso verbalmente no terceiro ato, porém acaba funcionando.

Cena de OS FABELMANS da Universal Pictures. Foto: Divulgação.

Um dos temas discutidos na história é a decisão de escolher entre seguir o lado artístico ou pensar no que é melhor para a família e isso é muito bem debatido em uma cena rápida que envolve o protagonista. O personagem vivido por Judd Hirsch, que apesar do amor que o personagem tem com sua família, é bem diferente com o que ele tem com sua arte. É que raramente essas duas coisas se combinam e chega uma hora em que ele precisa escolher seguir sua arte ou desistir e focar na família como sua mãe, interpretada por Michelle Williams. Isso seja a ser irônico, já que esse é um filme praticamente do Spielberg contando a relação com sua família e apesar de apenas ser uma obra que foi baseada nisso, existe um momento de uma grande discussão familiar, onde Sammy encontra-se sem interferir no desentendimento, mas que mostra rapidamente uma visão do seu pensamento filmando o momento, como se o próprio diretor estivesse refilmando um dos momentos mais traumatizantes de sua vida e o revivendo nesse filme: o divórcio dos pais de Steven, algo que ele já declarou abertamente que não foi uma fase fácil em sua vida.

Cena de OS FABELMANS da Universal Pictures. Foto: Divulgação.

Novamente, Spielberg retorna com sua parceria com o compositor John Williams na trilha sonora, trazendo faixas que engrandecem o clima do momento e melodias harmoniosas e fantásticas, que trazem tudo o que é de melhor da identidade sonora de Williams para a composição da trilha desse filme.

Confira o trailer:

 

Os Fabelmans pode ser um pouco longo, mas raramente cansa, entretanto, é um filme em que se nota o nível do tratamento pessoal do diretor, usando a própria trajetória de vida para criar a sua homenagem ao Cinema, do começo ao fim, finalizando o filme de uma forma incrivelmente perfeita após uma última homenagem a um grande cineasta do gênero do Velho Oeste.

NOTA: 10

BRUNO MARTUCI

 

 


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Colaborador de CINEMA & SÉRIES dos sites ARTECULT.com, The Geeks, Bagulhos Sinistros, entre outros.

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