UM TREM SEM DESTINO
Dora acordou cedo, decidida a embarcar no primeiro trem que partisse. O destino não era importante, precisava apenas escapar de casa, deixar sua vida para trás… Tomou banho, comeu, sem muita vontade, um sanduíche de queijo e presunto no pão francês do dia anterior e se arrumou. O vestido bege de zibeline, usado nas bodas de ouro dos pais dois anos antes, estava agora um pouco largo. A mala, pronta desde a véspera, a esperava ao lado do sofá. Em cima do piano, um bilhete escrito à mão depositado num envelope meio amassado. Parou um momento e mirou entorno, sentindo que poderia hesitar. Fixou o olhar em Valentina pela última vez enquanto a gata rodopiava pela sala antes de se instalar na poltrona preferida. Com um gesto brusco, fechou a porta, venceu dois lances de escada e seguiu a pé rumo à estação, aonde chegou após 15 minutos de caminhada resoluta. No guichê, uma pequena fila. Diante do funcionário, ficou muda por alguns instantes. Ele finalmente perguntou:
− Para onde, senhora?
− Para Felicidade & Paz, apenas ida. Posso pagar com cartão?
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