SETE ANOS
̶ Oi… Quem é? Tem alguém aí?
̶ …
̶ Tem alguém aí?
̶ Sou eu.
̶ Uau, que surpresa. Isso sim é uma surpresa.
̶ Pensei que você ficaria feliz em me ver.
̶ Eu preferia que você tivesse ligado.
̶ Eu tentei, mas não consegui. Acho que o número não é mais o mesmo.
̶ Feliz… Essa não é bem a palavra. Sim é verdade, você tem razão, o número mudou. Em sete anos, muita coisa muda na vida das pessoas, entende? Você foi embora e não deixou sequer um bilhete. No início, eu me preocupei, procurei em todos os lugares possíveis, falei com todo mundo. Ninguém sabia de nada. Nos três primeiros anos, eu parei minha vida, minha única preocupação era encontrar você, descobrir o que tinha acontecido.
̶ Eu precisava, eu…
̶ É dinheiro que você quer? Foi por isso que voltou?
̶ Não, claro que não, você não tá entendendo.
̶ Olha, chega. Não faz diferença. Estou com dor de cabeça e sem a menor paciência. Agora não. Agora não dá mesmo.
̶ Será que eu poderia ao menos passar a noite? É tarde, eu gostaria de tomar um banho, comer alguma coisa. Estive na estrada o dia inteiro.
̶ Minha querida, isso aqui não é hotel. Seu quarto está alugado, as coisas não têm sido fáceis.
̶ Eu posso me ajeitar aqui na sala mesmo. Serão apenas poucos dias.
̶ Uma menina ótima, faz faculdade à noite, trabalha durante o dia e me faz companhia. Bem, pelo menos não me sinto tão só. E paga em dia, não atrasa nunca. Nunca atrasou. Mas isso você não entende.
̶ A gente pode conversar melhor amanhã.
̶ Primeiro seu pai, depois você. Nem eu sabia que tinha tanta força.
̶ Amanhã a gente conversa melhor. Estamos cansadas e…
̶ Eu realmente preciso me deitar. Tenho de acordar bem cedo. Me faz um favor? Bate a porta quando sair, ok?
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Forte, bem forte. E real. Parabéns!
Ótimo conto. Retrata um comportamento atual das relações familiares. Parabéns, César.