
com César Manzolillo

Ilustração: ArteCult/ChatGPT
O JARDIM DOS URUBUS
No coração de um campo abandonado, onde o vento carregava murmúrios de histórias esquecidas, havia um jardim de flores murchas cujas pétalas pendiam como lágrimas congeladas. Entre elas, urubus pousavam, olhos brilhantes como espelhos negros que refletiam a decadência ao redor. Na parte mais baixa do jardim, um ser decaído emergiu do meio das flores. Vestia roupas rasgadas, que flutuavam como bandeiras de um reino perdido. Seus passos lentos constituíam uma luta contra o peso do mundo. Nas mãos, carregava um espelho quebrado. Cada fragmento refletia pedaços de um rosto que não pertencia a ninguém. Juízes de um tribunal imaginário, os urubus observavam em silêncio. O ser parou diante de uma flor baça, suas raízes se agarravam ao solo como dedos desesperados. Ele ergueu o espelho, tentando encontrar algo além do vazio. Mas o que viu foi um desfile de imagens: rostos distorcidos, risos que se transformavam em gritos, olhos que choravam sangue.
— Você é o que vê, sussurrou uma voz rouca que vinha de todos os lados. Você é o jardim, as flores, os urubus… Você é a loucura que alimenta este lugar.
O ser caiu de joelhos. O espelho escorregou de suas mãos e se despedaçou ainda mais. Os urubus levantaram voo, e suas asas criaram uma tempestade de sombras que engoliu o jardim. Quando o silêncio retornou, tudo havia desaparecido, exceto a flor baça, agora florescendo num vermelho vivo, um coração pulsando no vazio.

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Excelente o conto desta quinta-feira como os demais. Este apresenta a dor em seu ponto máximo metaforizada neste jardim dos urubus.