
com César Manzolillo

A PALAVRA AUSENTE
Vitório era um poeta de silêncios e tempestades. Naquela manhã, ao se sentar diante da folha em branco, sentia que o universo inteiro repousava na ponta de sua pena. O poema já estava todo dentro de si, pulsava, ardia, mas ainda lhe faltava algo: aquela palavra capaz de acender o verso como um fósforo em meio à escuridão. Vitório percebia seu contorno, sua intenção, quase escutava o som que ela faria ao tocar o papel, mas a palavra sempre escapava… O poeta tentou sinônimos, metáforas, imagens, figuras. Mergulhou em dicionários como quem escava ruínas em busca de um artefato sagrado. Tudo em vão. E a folha continuava a encará-lo com desdém. A angústia crescia e alastrava-se como uma sombra dentro do peito. Vitório começou a suspeitar que a palavra não o queria, que havia escolhido outro poeta para servir. Naquele momento, lágrimas misturadas à tinta formaram borrões sobre a folha. Foi só quando fechou os olhos e decidiu escutar o que o silêncio dizia que ela veio. Suave, serena, quase tímida. Vitório sorriu, respirou fundo e finalmente a escreveu.

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