Revendo minhas lembranças para escrever a série de artigos sobre a ESTRADA REAL, ocorreu-me um “causo” que vale a pena mencionar – ainda mais levando-se em conta que esse nosso cantinho aqui surgiu pra que a gente pudesse conversar sobre gastronomia. E já faz algum tempo que não coloco uma receitinha por aqui, né?
E essa me surgiu quando estava em São Thomé das Letras, num desvio estratégico da rota pra conhecer um local que tem fama de mágico. E o é, realmente. Uma aura toda misteriosa invade até mesmo quem não é lá místico ou esotérico, como eu…
Pois bem, estava no alto de uma pedra observando o pôr do sol, quando entabulei conversa com um coroa motoqueiro, que também estava ali de passagem, vindo do Caminho da Fé – outra rota turística existente no país.
E aí, conversa vai, conversa vem, falou-me que era da cidade de Barroso/MG, distante dali cerca de 195km. Como não conhecia, tampouco tinha ouvido falar, fui dar uma pesquisada e obtive a seguinte informação no site www.minasgerais.com.br:
Situada entre Barbacena e São João Del Rei, a cidade de Barroso vem investindo no turismo com o embelezamento de avenidas, praças e jardins. A praça de Sant’Ana, que recebeu tratamento arquitetônico e paisagístico, é tombada pelo município. Atualmente, a cidade é uma grande produtora de cimento, referência marcante da sua economia.
Além de suas indústrias do setor de construção, malharias e laticínios, a cidade possui também um comércio ativo e atrações culturais de destaque. O patrimônio edificado conta com uma arquitetura moderna, jardins, praças e igrejas. O artesanato produzido pela comunidade também ganha destaque. Os produtos ficam expostos na loja da Cooperativa dos Artesãos de Barroso – Cooperart, instalada na entrada da cidade. Na zona rural, o município dispõe de duas fazendas produtoras de cachaça e licor – a Fazenda Sagarana e a Fazenda Boa Vista.
A tradição musical é outra característica marcante da cidade. A Banda de Música Municipal tem mais de cem anos e, através de sua escola, repassa seu conhecimento para os jovens. Para promover esses e outros talentos, o município realiza todos os anos o Festival da Canção de Barroso – Festican, que também já tem seu lugar no Calendário de Eventos do Circuito Trilha dos Inconfidentes.
“Criado com muito amor e carinho”, assim diz Cirlene Lopes ou simplesmente Ché, a inventora do prato típico barrosense, Chico Paio. O caldo vem sendo divulgado pelo site da Secretaria de Estado de Cultura, fazendo parte do turismo mineiro como um patrimônio do município de Barroso.
Segundo a barrosense, a inspiração para o surgimento do prato veio após provar um caldo de dobradinha com feijão branco na casa de sua tia, no Rio de Janeiro. Desde então, ela resolveu fazê-lo em sua casa e também utilizá-lo como fonte de renda.
Aqui, o caldo de dobradinha com o feijão branco teve uma venda positiva, porém, houve resistência de parte da freguesia, o ponto de partida para a origem do prato mais ‘chique’ de Minas Gerais.
Por conta do alto valor do paio, ingrediente pouco conhecido na época, o preço do caldo era considero caro se comparado aos demais. Assim, a clientela o rebatizou ironicamente de “Chique Paio”.Sendo assim, Ché precisou encontrar uma alternativa econômica para continuar vendendo sua invenção, de modo que agradasse a todos.
O fim do nome ‘Chique Paio’ se deu através dos motoristas da comunidade do Bananal que consumiam o produto, estes não pronunciavam corretamente o termo irônico, sendo chamado por eles de ‘Chico Paio’, um nome popular que agradou a autora da iguaria que apesar do nome já não levava mais o ingrediente paio.
O Chico Paio, assim como os demais patrimônios culturais da cidade catalogados, colabora para o aumento do ICMS cultural do município. Desse modo, Barroso chega à pontuação de 12,80 e a expectativa é de receber um investimento de cerca de R$ 250 mil.
O Governo de Minas Gerais por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Minas Gerais promovem a Jornada do Patrimônio Cultural, inspirada na experiência francesa Journées du Patrimoine, que tem por finalidade mobilizar municípios, entidades e agentes culturais para a realização de atividades que sensibilizem a sociedade para a promoção, valorização e preservação do patrimônio cultural. As Jornadas são promovidas pela Secult-MG por meio do Iepha-MG, desde 2009, que alcançou a participação de mais de 600 municípios, logo em sua primeira edição. O prêmio é um reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, que valoriza as ações que se destacam na preservação do patrimônio cultural no país.
Em 2023, na sua nona edição, cujo tema foi “Caminhos Gerais: Itinerários e Rotas do Patrimônio Cultural Mineiro”, foi apresentado o autêntico caldo barrosense CHICO PAIO como parte da programação do Fest´Arte 2023. Esta especialidade local, devidamente inventariada em 2021, é parte importante da identidade e tradição culinária do município e o fato de ter a receita inventariada é forma de preservação da cultura e garantia de que as gerações futuras possam saborear a autêntica essência de Barroso/MG. Além disso, abre portas para a criação de novas variações desse prato, enriquecendo ainda mais a gastronomia barrosense e fortalecendo a economia local.
A receita – pra quem gosta de ter tudo medido e não faz como eu, de “olhada” – está disponível em www.minasgerais.com.br e eu a transcrevo a seguir:
INGREDIENTES:
(Receita Chico Paio para 10 pessoas)
. 1 pacote de 500 gramas Feijão Branco
. 300 gramas de Bacon
. 300 gramas de Paio
. 600 gramas de filé peito desfiado
. Milho verde
. 1 tomate Tomate picado
. ½ Pimentão Picadinho
. 1 Cebola de cabeça média
. 1 colher de sopa rasa Coloral
. Tempero de alho
. 50 ml Óleo
. Sal
. Pimenta do ReinoMODO DE PREPARO
Cozinhar o feijão na panela de pressão. Refogar óleo, alho e o coloral e em seguida acrescentar o feijão cozido e todos os ingredientes citados acima, mexendo sem parar até o caldo ferver. Por último temperar com sal e pimenta do reino a gosto. Servir com cheiro verde.
Então, vamos fazer juntos? É claro que, para quem me conhece, sabe o quanto sou tentado a mexer nas receitas – embora não as siga – pra acrescentar algum toque pessoal. Mas prometo que vou tentar me manter fiel ao prato. De antemão, vale lembrar que a maioria das receitas disponibilizadas se utilizam da linguiça calabresa, inclusive fazendo-se um mix dos dois embutidos. Eu, aqui pro canal, como a referência está no nome, resolvi fazer só com paio… E outro adendo: por uma falha minha, esqueci-me do bacon. Mas não cometam essa heresia, ok? Bacon é vida…
Vamos, então, aos ingredientes que utilizei:
Espero que tenham curtido o artigo e que eu tenha conseguido passar todos os detalhes. Claro que é possível fazer um sem-número de modificações, acréscimos, substituições, criando variações sobre o tema. Afinal, a cozinha não é algo engessado… Ela é livre, você decide por qual caminho seguir.
Em breve, pretendo trazer novos “quitutes” aqui pra gente fazer juntos, pode ser? E digam aí pra mim se gostaram, sugiram novas receitas – principalmente pratos regionais, pouco conhecidos, como o CHICO PAIO, pra que a gente possa ir descobrindo o nosso Brasil através dos sabores…
Bom apetite a todos!
A gente se vê em breve…
Muito bom, temos que experimentar…kkkkkkk