
Andréia Ribeiro. Foto: Nilse Martins
Teatro Ruth de Souza: 16,17,18, 24 e 25 de Setembro
O solo Carolina Maria De Jesus, Diário de Bitita – uma homenagem à atriz Ruth de Souza, será apresentado nos dias 16,17, 18, 24 e 25 de setembro no Teatro Ruth de Souza, no Parque das Ruínas, em Santa Teresa. Com direção de Ramon Botelho, a atriz, pesquisadora e produtora Andreia Ribeiro dá voz às memórias da escritora mineira Carolina Maria de Jesus a partir de uma adaptação de suas obras Quarto de Despejo e Diário de Bitita.
A atriz comenta a homenagem à Ruth de Souza:
Andreia Ribeiro Foto: Luis Teixeira Mendes .
“Me sinto profundamente emocionada ao relembrar os nossos encontros… de ter conhecido sua casa, ter ouvido suas histórias, ter assistido com ela o Caso Verdade exibido pela Rede Globo em que ela interpretou Carolina Maria de Jesus. Nós duas juntas! Ver aqueles olhinhos brilhando, como se estivessem vendo tudo pela primeira vez, foi deslumbrante. Agora, depois de três anos de seu falecimento, fazer essa homenagem e retribuir todo esse amor no Teatro que leva o seu nome é uma emoção muito grande, uma missão que me enche de orgulho.”
O projeto é fruto de uma pesquisa realizada por Andreia Ribeiro, Ramon Botelho e Gabriela Calainho durante três anos e teve sua estreia nacional em 2015, no Teatro Municipal de Uberlândia, em Minas Gerais. Desde então, já foi apresentado em diversos festivais e feiras literárias pelo país, com sucesso de público e crítica. Em 2020, foi apresentado na Alemanha com apoio do Instituto Goethe (Munique), da Associação Mulheres Pela Paz – Frauen Für Frieden, do Departamento de Igualdade de Gênero de Augsburg e IMBRADIVA e.V. Iniciativa de Mulheres Brasileiras na Alemanha.
O espetáculo tem como base duas obras da autora: seu livro mais célebre Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada e o quase desconhecido Diário de Bitita, que foi publicado postumamente na França e depois no Brasil. As obras retratam dois momentos: a fase adulta na favela do Canindé até o sucesso e as lembranças da infância, quando seu amor pelos livros foi despertado e mudou sua história. Ruth de Souza também interpretou Carolina no ano seguinte ao lançamento do livro Quarto de despejo: Diário de uma Favelada (1960) com direção de Amir Haddad.

Andreia Ribeiro. Foto :Dalton Valério
Tanto Ruth quanto Carolina são referências de força, talento e superação. Pioneira, Ruth foi a primeira mulher negra a atuar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a ser protagonista de uma telenovela, além de ter sido a primeira brasileira indicada a um prêmio internacional de Melhor Atriz, no Festival de Veneza (1954), por sua atuação em Sinhá Moça. Carolina foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil e é considerada uma das mais relevantes para a literatura nacional.
A peça trata de diversas questões atuais como luta contra o preconceito e discriminação de gênero e raça, a trajetória do negro no Brasil, a importância da escola e da leitura para a cidadania, exclusão social, lixo e reciclagem, além de contribuir para o reconhecimento e valorização da diversidade.
A história de Carolina é inspiradora e impactante, quase inacreditável, mas também encantadora, cheia de poesia e humanidade. É o relato biográfico de uma vencedora, que teve sua trajetória marcada pela dor, mas principalmente pelo triunfo sobre as adversidades. Tem humor, conteúdo e autenticidade e já conquistou o reconhecimento de muitos críticos e artistas.
Na crítica sobre o espetáculo assinada por Lionel Fischer e publicada em novembro de 2017:
“(…) não estamos diante de alguém que simplesmente nos conta sua história, e sim de alguém cuja memória é ativada por aquilo que constitui seu amargo presente. Sem dúvida, uma opção maravilhosa, plena de teatralidade. (…)”
Em mensagem enviada pela atriz Glória Pires, por vídeo :
“Eu acho esse trabalho uma beleza e você tem que levar para todos os lugares, é uma mensagem muito importante, especialmente nos dias que a gente vive. (…)”
Em depoimento da atriz Monica Martelli:
“(…) É um espetáculo muito inspirador e você percebe que apesar de todo sofrimento, essa mulher ainda tinha um olhar lúdico e infantil sobre a vida. Você vê ali um ato de resistência, um ato de resiliência. Eu indico muito.”
Segundo a fala da cantora e atriz Simone Mazzer:
“(…) quando assisti ao espetáculo, me tocou muito a honestidade, a sinceridade e a verdade do trabalho da Andreia contando a história dessa mulher que tão pouca gente conhece, essa maravilha de artista que tão pouca gente tem o privilégio de conhecer. Esse trabalho é muito importante socialmente, culturalmente e artisticamente(…).“
ENTREVISTA EXCLUSIVA COM ANDREIA RIBEIRO
ArteCult: O solo já foi apresentado em diversos palcos pelo Brasil. Como foi a receptividade do público na apresentação realizada na Alemanha em 2020? Como foi a experiência?
Olha, nem nos meus sonhos mais otimistas eu poderia imaginar que levaria a voz de Carolina para Alemanha, cidades de Augsburg e Frankfurt. Publiquei a capa do livro, em alemão, no perfil do espetáculo/ Instagram. A partir dessa publicação comecei a criar uma relação com a Associação Mulheres Pela Paz Frauen Fur Frieden e começamos a construir essa história. Tive a ajuda incansável do meu irmão, e que também é meu sócio Mario Cezar Ribeiro, para a construção dessa história durante um ano e graças a Deus conseguimos várias parcerias para realizar esse sonho. A experiência foi única, perceber que a obra de Carolina, a minha presença entrelaçada com texto, o figurino, os adereços, a trilha… Todos esses elementos juntos em cena tocaram o coração das pessoas. Tive um retorno muito positivo e amoroso, depoimento comovente em relação ao espetáculo. Quarto de Despejo foi traduzido para o alemão por Johannes Gerold, o livro teve sete edições no período de 1962 a 1993 e representar para os alemães em 2020, ver a obra viva, ali manifestada e emocionando as pessoas não têm preço. Foi mágico, inesquecível.

Andreia Ribeiro. Foto: Luis Teixeira Mendes . l
AC: A obra de Carolina é reconhecida no Brasil e no mundo, com seus livros traduzidos para mais de 40 países. Recentemente, o Instituto Moreira Salles de São Paulo produziu uma exposição sobre a escritora e seus textos têm sido retratados nos palcos. Agora você traz uma versão que enfatiza a infância da autora. Na sua visão, o que torna este tema tão atual e relevante?
Falar de Carolina Maria de Jesus, essa mulher revolucionária, manter sua obra viva é necessário para construção e a preservação da memória do nosso país.
Enquanto ainda houver fome, miséria, racismo e tantas outras dores que a obra de Carolina já nos evidenciava na década de 50 e que ainda é uma realidade no Brasil, esse espetáculo terá espaço. Cabe a nós, artistas e consumidores de arte, público em geral, manter essa voz ecoando no nosso presente como um alerta, uma luta que não devemos parar para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Trazer a infância de Carolina aos olhos do público é fundamental para entender essa menina curiosa, as influências que ela teve, o papel de sua mãe, seu avô, sua professora. Você imagina quantas Carolinas estão espalhadas por esse Brasil sem luz, sem oportunidade. Carolina de Jesus deve ser um farol para o nosso Brasil. O tempo é meu maior aliado nesse projeto e isso não tem preço para um artista. Pretendo levar a história de Carolina para muitas pessoas. Para que elas conheçam essa escritora brasileira tão importante, um patrimônio cultural do Brasil.
AC: O solo que será apresentado no Teatro Ruth de Souza destaca a infância de Carolina de Jesus, o que o diferencia da maioria dos trabalhos sobre ela. O que a infância da escritora revela? Porque é importante destacar esta fase da vida da autora?
Bitita, como Carolina era chamada na infância, foi uma menina que estudou apenas dois anos do primário no Colégio Allan Kardec em Sacramento, Minas Gerais. Sempre foi uma criança esperta e curiosa. Ainda menina ela enchia sua mãe de perguntas. Você imagina uma criança perguntar pra mãe Dona Cota, aquela mulher que também foi uma mãe solo e muito sofrida: “Mãe, o mundo é sempre bom? É sempre assim?! Mamãe fale-me do mundo… O que quer dizer o mundo?” Eu costumo dizer que a casa de Carolina não tinha livros mas tinha palavras. O avô Benedito José da Silva era o contador de histórias, o Sócrates Africano como era chamado. O oficial de justiça que lia jornal para os negros analfabetos, o papel da professora Dona Lonita Solvina, a vizinha que emprestou o primeiro livro “A Escrava Isaura”…ela nos conta que compreendeu tão bem o romance que chorou. Então, o nosso espetáculo vai construindo no imaginário do público essa menina para depois entender a mulher catadora de papel, escritora, mãe, mulher, e antes de tudo esse ser humano de uma resistência às adversidades, de uma resiliência que nos deixa muitos ensinamentos. Carolina entendeu muito cedo que o seu maior patrimônio era o saber, a educação e que isso ninguém poderia tirar dela. Carolina era uma artista como poucas e nos deixa uma obra enorme: romance, peças de teatro, disco de samba…Me sinto tão privilegiada em ter cruzado com a obra de Carolina nessa vida, aprendo muito com ela todos os dias.

Andreia Ribeiro. Foto : Luis Teixeira Mendes.
AC: Esta temporada é uma homenagem à atriz Ruth de Souza que dá nome ao teatro e que no passado também já interpretou a obra de Carolina nos palcos. Vocês se encontraram e ela compartilhou com você esta experiência, segundo matéria publicada no jornal O Globo. Em que ano e onde aconteceu este encontro? O que ela compartilhou com você? Você mudou algo no solo a partir das palavras da Ruth?
Nosso encontro foi em 2017 em seu apartamento no Flamengo. Sua casa repleta de referências da sua arte, de uma vida dedicada ao trabalho, a exercer seu ofício com amor e maestria. De cara testemunhar isso já me encantou. Depois olhar aqueles olhos que brilhavam de encantamento e gratidão por dividir sua experiência. Me sinto tão honrada de ter conhecido sua casa, ter ouvido suas histórias, ter assistido com ela, de mãos dadas, o Caso Verdade exibido pela Rede Globo em que ela interpretou Carolina. Nós duas juntas! Ver aqueles olhinhos brilhando, como se estivessem vendo tudo pela primeira vez, foi deslumbrante. Agora, depois de três anos de seu falecimento, fazer essa homenagem e retribuir todo esse amor no Teatro que leva o seu nome é uma emoção muito grande, uma missão que me enche de orgulho.
Levo para o palco toda a vivência desse encontro. Ruth falava muito em não desistir… Ela nunca desistiu! Nunca se importou com que os outros pensavam ou falavam sobre ela. Me falou várias vezes e em bom tom: Siga seu caminho! Não desista! Não tenha medo! Brilhe! Ainda ouço sua voz.
AC: Qual é a sensação de interpretar este solo no teatro dedicado a ela (à atriz Ruth de Souza)?
Em fevereiro de 2022 me veio a ideia de homenagear Ruth de Souza e enviei a proposta para o teatro que leva seu nome. Foi tudo muito rápido. Estava acabando de cumprir uma agenda em Pernambuco com o espetáculo e recebo um e-mail de ok. Foi uma emoção enorme… O desejo latente de voltar aos palcos, após a dolorosa pandemia, e ainda homenageando a Grande Dama Ruth de Souza.
A partir daí tracei uma reta e assumi totalmente a produção desta temporada. O que me movimenta o que me lança pra frente é o propósito a missão desse projeto. É tão deslumbrante pra mim, antes de tudo como ser humano, está colaborando, nem que seja um pouquinho, para construção de uma memória dessas duas artistas e, deixar para os que virão essa linda homenagem, que está sendo construída com muito amor e gratidão.
SINOPSE
O solo segue o fluxo de memória da escritora refazendo os seus passos da infância miserável, em Sacramento, no interior de Minas, quando a chamavam de Bitita, até o lançamento do seu primeiro livro. Em cena, Carolina adulta cata papel nas ruas de São Paulo. As coisas encontradas lembram os acontecimentos marcantes de sua trajetória: a alfabetização, o primeiro contato com os livros, o trabalho na roça, o avô descendente de escravos… Todos personagens de uma história fantástica de superação, que contribuíram para uma leitura inesperada e comovente do mundo. E fizeram de Carolina uma escritora ímpar no panorama literário internacional.
- Carolina Maria de Jesus amarra o lenço em Ruth de Souza (1961).
- D. Ruth de Souza amarra o lenço em Andréia Ribeiro (2016). Foto: Kátia Ribeiro.
A Atriz – Andreia Ribeiro

Andreia Ribeiro – Atriz
A atriz Andreia Ribeiro tem formação em Artes Cênicas pela CAL e em Dança Contemporânea pela Escola Angel Vianna, onde também concluiu a Pós-graduação em Preparação Corporal. Ela é bacharel em Comunicação Social/Relações Públicas pela Universidade Gama Filho e tem longa trajetória na dramaturgia, com experiência em teatro, TV e cinema. Desde 2001, exerce as funções de atriz, pesquisadora e produtora.
Teatro: É atriz, pesquisadora e produtora do espetáculo solo “CAROLINA MARIA DE JESUS, DIÁRIO DE BITITA” (desde 2015); Atriz, pesquisadora e Produtora do Espetáculo “MEMORIAL” com Renato Carrera, direção Éber Inácio; “FUGA”, “O IMPULSO QUE ME MOVE” – roteiro e direção: Andréia Ribeiro, “JANELAS”- Amostra Grátis (Centro Cultural Carioca), direção Renato Carrera; “CAI O PANO” (Festival de Teatro da Faculdade Veiga de Almeida), direção: Renato
Carreira. Atriz e produtora do espetáculo “RETALHOS PARA UM RECITAL”, baseado na obra de Adélia Prado, direção de Ronaldo Serruya (Teatro Vila Lobos e Sesc Tijuca).
Fez parte durante 3 anos do grupo MUITO PRAZER, dirigido por Márcio Vianna, atuando nos espetáculos: “O ÚLTIMO BOLERO” (Teatro Laura Avim), “FARRA DOS ATORES” (Museu da República) e 2o Festival de Teatro Porto Alegre em Cena. Atuou também nos espetáculos: “OS SETE GATINHOS”, “BONITINHA, MAS ORDINÁRIA” direção de David Herman; “YERMA” (Teatro Gláucio Gil) direção: Armando Nogueira e “O ALIENISTA” (Teatro Cacilda Becker) direção: Almir Telles.
TV: Novela TV Record: “VITÓRIA” 2014 “VIDAS EM JOGO” 2012 “A GRANDE FAMÍLIA” 2008/2007; Novela “PÉ NA JACA” /2007, Programa “TIRA ONDA” /2005 – Canal MultiShow, “MULHERES APAIXONADAS” personagem Lúcia/2003 dirigida por Ricardo Waddingtoun, “UGA UGA”/2001 direção de Wolf Maia, participou dos programas Linha Direta: “SANDRA CRISTINA”/ 2000 personagem: Sandra Cristina, direção de Luís Felipe Sá, “FILHO BASTARDO”/2000 dirigida por Walmor Pamplona. Participou da minissérie “CHIQUINHA GONZAGA”/1999 direção de Jaime Monjardim e “MEMORIAL DE MARIA MOURA”/1995 dirigida por Carlos Manga e Denise Saraceni, personagem: Zita. Na extinta Rede Manchete fez as novelas “MANDACARÚ” /1998 direção de Walter Avancini e “TOCAIA GRANDE” /1997 direção de Jacques Lagoa.
Cinema: fez parte do elenco do filme “A Suspeita” estrelado e produzido por Glória Pires com direção de Pedro Peregrino. Participou de diversos cursos de aprimoramento com Sérgio Britto, Luís Melo e expressão Corporal com Ana Kfouri.
Ficha Técnica
Realização: Casa Forte Produções Culturais e Esportivas e Dealer Parceria: Rotunda e Bambolina Produções Artísticas Coordenação Geral: Andréia Ribeiro
Adaptação, direção e cenário: Ramon Botelho
Atuação: Andréia Ribeiro
Assistente de Direção e contribuição textual: Gabriela Calainho Suporte de produção: Salomão Waisman
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Trilha sonora: Marco Lyrio
Assessoria de Imprensa: Cristiana Lobo (Círculo Comunicação)
Figurino: Wagner Louza
Adereços: Ong Sinhá Recicla
Cenotécnico: Rostand Albuquerque (Galpão 6centos) Assessoria de Imprensa: Cristiana Lobo/Círculo Comunicação Programação Visual: Rafael Paschoal
Fotografia: Arthur Henrique Galvão
SERVIÇO
Carolina Maria de Jesus – Diário de Bitita
- Local: Teatro Ruth de Souza – Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas .
- Endereço: Rua Murtinho Nobre, 169 – Santa Teresa
- Datas: 16,17,18, 24 e 25 de setembro
- Horário: 19h
- Telefone: 21 2215-0621 | 21 2224-3922
- Compra de ingressos pela internet: www.sympla.com.br
- Ingressos presenciais: R$40,00 (inteira) e R$20,00 (meia-entrada)
- Classificação: 14 anos
- Duração: 60 min
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