Ana Lúcia Gosling se formou em Letras (Português-Literatura) em 1993, pela PUC/RJ. Fixou-se em outra carreira. A identidade literária, contudo, está cravada no coração e o olhar interpretativo, esgarçado pra sempre. Ama oficinas e experimenta aquelas em que o debate lhe acresça não só à escrita mas à alma. Some-se a isso sua necessidade de falar, sangrar e escorrer pelos textos que lê e escreve e isso nos traz aqui. Escreve ficção em seu blog pessoal (anagosling.com) desde março de 2010 e partilha impressões pessoais num blog na Obvious Magazine (http://obviousmag.org/puro_achismo) desde junho de 2015. Seu texto “Não estamos preparados para sermos pais dos nossos pais” já foi lido por mais de 415 mil pessoas e continua a ser compartilhado nas redes sociais. Aqui o foco é falar de Literatura mas sabe-se que os processos de escrita, as poesias e os contos não são coisa de livro mas na vida em si. Vamos falando de “tudo” que aguçar o olhar, então? Toda quarta-feira, no ArteCult, há crônica nova da autora, que integra o projeto AC VERSO & PROSA junto de Tanussi Cardoso (poemas) e César Manzolillo (contos).
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– Manda a real, vai. – Como? – Diz logo: você não me ama mais. – Não é isso. Preciso de um tempo pra mim. – “Vamos dar um tempo” é só um jeito de antecipar o “seu tempo acabou”!…
No Marrocos, as cidades à beira do Saara são parecidas, se avistadas da estrada. As construções em cor de barro sugerem aridez. Mas nos enganam: há estúdio de cinema, com estátuas grandes, no estilo hollywoodiano, locações de filmes famosos…
“Toda criatura de Deus merece ser perdoada. Você me ama, não ama? Se ama, perdoa”. A chantagem era um sinal de desespero, no fim da longa conversa de que eu, involuntariamente, acabei participando. Fui me ajeitar e atraí a…
Fiquei preguiçosa para as superstições. Mais nova, passava a virada de branco, vestia uma calcinha vermelha, um toque pessoal para encontrar amor. Acendia todas as luzes da casa e, se lá não estivesse, pedia a minha mãe para deixá-las acesas…
Há quem queira cancelar Papai Noel. Não porque “não se mente pra crianças”ou “não se alimentam fantasias”. Outro tipo: “Papai Noel é símbolo do consumismo”. Comungo da tristeza de a data ter-se tornado tão comercial. A obrigação de comprar presentes,…
Paul McCartney no Maracanã. Encontro um lugar vazio, espremido entre uma família e um casal. Nas cadeiras, o público mistura faixas etárias. A maioria é da minha geração. Os mais novos vieram acompanhando pais e, até, avós. Ao meu…
Queria amar você, achar uma forma de nos encontrarmos. Menos mensagens, necessidades mais urgentes, marcaríamos no fim do dia. Um café, um jantar, um cinema. No tempo para deixar o amor ser broto no seu coração. Para conseguir fazer você…
Em 2020, numa oficina de escrita criativa com o ótimo Luiz Antonio Aguiar, numa das dinâmicas propostas, meu texto foi sobre um poeta interagindo com Machado de Assis. Uma crônica do autor surgira como mote na aula. O professor, admirador…
Caber na mala de papai me salvou. Miúdo, abracei os joelhos e entrei na bagagem de couro, quase vazia, antes de sermos parados. Havíamos deixado a casa de madrugada, num impulso de sobrevivência. O plano era manter-se a salvo,…
Há quem saia das redes sociais por não aguentar a perfeição da vida alheia. A nossa, às vezes, tumultuada, vazia ou triste, não orna com a vibração de felicidade nem de ostentação dos amigos virtuais. Muitos se sentem infelizes se…
Naquela hora específica em que a casa sossega, ainda é dia. O marido não chegou da academia. A filha não voltou da faculdade. Repouso as chaves do carro sobre a mesa. Tiro os sapatos e toco o piso gelado…
Garranchos sobre o amor em folhas, enquanto espero você. Porque não vem, jogo-os na tela do computador. O que calo se estampa no mundo. Desejo que me leia mas não tenho certeza se prestará atenção ao que digo. Mesmo que…
Segui Friends, série que consagrou Matthew Perry, por anos. Fiz a coleção de DVDs. Não há uma vez em que, girando os canais, encontre uma cena da série e não pare para assistir ao episódio. Friends remete a um momento…
A peste, o silêncio, o luto, a humanidade em xeque. A esperança do ritmo desacelerar. Os homens obrigados a ressignificarem prioridades, relações. Tudo iria mudar. Não mudou. Ela estava, à beira da madrugada, finalizando um trabalho, como antes. “Você…
– Você vai operar catarata, não vai? – Não, vou pôr uma lente. – Tá com vergonha de dizer que tem catarata? Medo de que te achem velha.? Mentira tem pena curta. – Miopia, Marina. Ou astigmatismo, sei lá.…