Há quem saia das redes sociais por não aguentar a perfeição da vida alheia. A nossa, às vezes, tumultuada, vazia ou triste, não orna com a vibração de felicidade nem de ostentação dos amigos virtuais. Muitos se sentem infelizes se imaginando únicos em seus infortúnios.
Eu não me recolheria por isso. Não me iludo. Sei que todos carregam seus enfados. Mas não posto dores. Às vezes, se for importante ou se transbordar, posso deixar escorregar um comentário sofrido. Mas, via de regra, oculto. E nada tem a ver com a vida ser perfeita ou a felicidade constante. Justamente porque não é. Não quero registro de lágrima mas, sim, de resistência.
Talvez quem julguemos “insuportável” na sua página colorida e festiva, esteja, justamente, construindo um pensamento que possibilite a vida tornar-se suportável.
Isso me tem ocorrido nas últimas duas semanas tristes. Três amigos com problemas graves de saúde, minhas dores diárias na perna, limitantes, as angústias com o filho, os problemas no trabalho, os fãs da estrela americana mortos, na minha cidade, pela violência e pela ganância, a crueldade da guerra.
Por não suportar ver a guerra pela tevê sem achar que vivemos o fim do mundo – ao menos, o ético, que fomos educados a construir, mesmo na divergência -, posto fotos dos pássaros e das flores na varanda. São eles que rememoram a inocência e me apontam milagres ao alcance dos olhos. Por despedidas iminentes, pelo luto passado, celebro encontros com amigos, colegas. Porque os dias de trabalho carregam durezas e frustrações, poso em frente ao templo grego e sorrio. Se a vida me feriu, digo a ela – melhor, a mim, que preciso ouvir – que não perdi a esperança. Se a felicidade da foto for efêmera, registro o sonho de, um dia, ser plena.
Há quem se queixe por estar sozinho, pelos descompassos e impasses entre a sua vontade e a vontade do outro. Já amei sem saber “que o pra sempre, sempre acaba”. Mas, ao término, ancorei em mim a felicidade. Acreditei haver – e há! – várias coisas que podem iluminar-se com seu interesse quando o amor “romântico” não acontecer. Abraçar a solidão, não de forma melancólica mas com o gozo da liberdade, desperta potências. E a capacidade de amar está em mim e impregna todos os campos da vida: família, amigos, profissão, hobbies, paisagens, ideais.
Minha rede social é simples. Deve haver quem me ache meio boba com meus encantos óbvios e minha positividade de botequim (existe?). Mas se a positividade não pode sufocar a tristeza, sob o risco de ser tóxica, da mesma forma a tristeza de um momento não pode ser a protagonista da história.
A minha história virtual se faz com palavras, trabalho, músicas que emocionam, flores, passarinhos, jabutis, abacaxis, banda de rock do filho, declarações de amor, saudades boas, leituras instigantes, muitos abraços e corações nos comentários dos amigos. Não é todo o contexto da minha vida. No universo sob o meu controle, é aquele que importa guardar.