Às Quartas – Pequeno manual para desgarrados sociais

Foto: Cleyton Ewerton, em Unsplash

 

Pequeno manual para desgarrados sociais

 

  1. Introdução

O desgarrado é aquele que, por opção, vai a encontros sociais sem a necessidade de ter uma parceria real ou conveniente para participação no evento. Desgarrados podem ser casados ou solteiros. 

  1. Das vantagens e desvantagens de estar desgarrado:

Desgarrados se misturam facilmente aos grupos. Sem a obrigação de parearem compromissos ou conversas com um acompanhante pré-definido, podem tornar-se mais interessantes para livre interação. Mas podem, também, destoar dos casais siameses, que os vê como uma espécie de desencaixe na ordem social.

Se estar desgarrado gerar especulações em redes sociais, as vantagens reais compensarão eventuais perdas virtuais. Alguns exemplos:

* Chegar e sair da festa na hora que quiser. Se o papo estiver bom, esticá-lo na volta para casa, numa carona. Se estiver chato, educadamente, deixar a pessoa aproveitando a festa e voltar sozinho. Todos ficam felizes.

* Fazer menos concessões. Não obrigar-se, por exemplo, a passar o Réveillon com uma multidão de desconhecidos, só para não estar só. Ir, se as companhias forem boas e houver alegria em fazê-lo. Mas considerar assistir a um filme na TV, no ar condicionado, de pijamas, uma excelente maneira de começar o ano. Só desgarrados estão preparados para tamanha liberdade, libertos da compulsão por estarem em bando nessas ocasiões. 

* Ter acesso a segredos ocultados por conveniência social, boas moedas de troca em negociações românticas. Exemplo: dormir sozinho é muito bom. Se a cama for de casal, ainda melhor. “Cama vazia, acostumada aos dois” é verso sertanejo. Espalhar-se na cama é puro rock and roll. 

* Permitir-se escolher, verdadeiramente, o altruísmo. Segurar vela para um amigo que conheceu alguém na noite ou levá-lo, de volta, bêbado para casa, sem ser o responsável designado por ele, é altruísmo. Não se confunde com a obrigação de aguardar o amigo porque combinaram, antes, irem juntos e ele ser o motorista da vez. 

  1. Dicas de sobrevivência social 

3.1. Se você estiver desgarrado num evento mas for comprometido:

Se você se importa com a opinião alheia, você não pode estar desgarrado em nenhum evento. Sempre poderá haver quem ponha em xeque sua relação por você estar desacompanhado do seu parceiro. 

Se você não se importa, mesmo assim, evite gabar-se da confiança entre o casal ou da individualidade de cada um. Saboreie sua condição e não dê munição para perturbarem sua paz. 

3.2. Se você estiver desgarrado num evento mas for solteiro:

3.2.1. Você é totalmente livre para fazer o que quiser. 

3.2.2. Desvie das tias nas reuniões de família. Elas vão querer apresentá-lo à pessoa certa para a formação de uma família. 

3.2.3. Desvie de amigos que queiram apresentá-lo a sua alma gêmea. Se você discordar do gosto deles, será considerado “complicado”. Se resolver testar, arrisca-se a descobrir que seu amigo sabe muito pouco sobre quem você realmente é e as escolhas que faria. Pior do que não encontrar o amor, é desiludir-se com um amigo.

  1. Recomendações finais:

Permita-se desgarrar-se, eventualmente. O rebanho protege e aquece. Mas lembre-se: também é desejo animal correr livre ou, em silêncio, ver o mundo acontecer. 

 

ANA LÚCIA GOSLING

@analugosling

 

 

 

DICA DA SEMANA:

Foto: Divulgação

Nesta semana, no sábado, 14/9, haverá o segundo evento de lançamento da coletânea de crônicas da Oficina Literária Eduardo Affonso: “Nuvens de Palavras“, dessa vez na cidade de São Paulo.  Dois livros, com textos dos integrantes da Oficina Literária Eduardo Affonso, o organizador da coletânea.

Estou entre eles, orgulhosa e cercada pelos melhores.

Os livros são um projeto coletivo, sem vinculação editoral. Os prefácios foram escritos por Martha Batalha e Cora Ronai.

O evento reunirá parte dos seus 60 autores. Apareçam!

Será na Julí Casa de Comida, na Rua Gaivota, 555, em Moema, São Paulo, SP, a partir das 17 horas.

Esperamos vocês por lá!

 

 

 

 

 

 

 

 

Confira as colunas do Projeto AC Verso & Prosa (@acversoeprosa:


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Author

Ana Lúcia Gosling se formou em Letras (Português-Literatura) em 1993, pela PUC/RJ. Fixou-se em outra carreira. A identidade literária, contudo, está cravada no coração e o olhar interpretativo, esgarçado pra sempre. Ama oficinas e experimenta aquelas em que o debate lhe acresça não só à escrita mas à alma. Some-se a isso sua necessidade de falar, sangrar e escorrer pelos textos que lê e escreve e isso nos traz aqui. Escreve ficção em seu blog pessoal (anagosling.com) desde março de 2010 e partilha impressões pessoais num blog na Obvious Magazine (http://obviousmag.org/puro_achismo) desde junho de 2015. Seu texto “Não estamos preparados para sermos pais dos nossos pais” já foi lido por mais de 415 mil pessoas e continua a ser compartilhado nas redes sociais. Aqui o foco é falar de Literatura mas sabe-se que os processos de escrita, as poesias e os contos não são coisa de livro mas na vida em si. Vamos falando de “tudo” que aguçar o olhar, então? Toda quarta-feira, no ArteCult, há crônica nova da autora, que integra o projeto AC VERSO & PROSA junto de Tanussi Cardoso (poemas) e César Manzolillo (contos). Redes Sociais: Instagram: @analugosling Facebook: https://www.facebook.com/analugosling/ Twitter: https://twitter.com/gosling_ana

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