– Eu não disse que foi maldade. Mas há vinte e cinco apartamentos no prédio e só o meu interfone quebrou? Fui reclamar. O porteiro me disse: “A namorada do ‘Seu’ Paulo apertou o botão com força, quebrou. O técnico vem amanhã”. Você acredita que o Paulo trouxe uma namoradinha para dormir no apartamento dele? Pois é…Virei fofoca de porteiro. Há duas semanas, eu era o amor da vida dele. Agora, já há quem frequente a casa e quebre meu interfone! Vinte e cinco apartamentos…Por que ela tocou aqui, 503? O Paulo é 501. Vai dizer que não sabia? Marina, eram duas da manhã, o interfone berrando, atendi, nem uma palavra. Para sempre. O dia inteiro. De manhãzinha, o porteiro teve que largar a portaria para vir aqui me entregar a farmácia. Essa aí já chegou causando problema. Atendi a porta de pijama, sem maquiagem. E o Paulo saiu com a garota de casa, bem na hora. Ela cheirava àquele perfume do Boticário, o que imita Carolina Herrera. Quem toma banho de Carolina Herrera às 8h da manhã, gente? Dava pra sentir de longe. Fiquei logo com dor de cabeça. Sei que não tem nada a ver, mas eu de pijama na frente do casal? Ippon, né? Mas já combinei tudo com “Seu” José: quando o Paulo e a fulana estiverem estacionando o carro na garagem, ele corre aqui e me avisa. Vou desfazer a impressão. Arrumei o cabelo, coloquei aquele macaquinho que você me pede emprestado, sabe? Ué, pra quê? Pra ela ver com quem está lidando. Meu perfume, amiga, é alfazema! Não preciso de subterfúgios. Por onde passo, me notam. Quero ver só a cara do Paulo! Ele adora quando eu uso essa roupa. Contra a luz, aparece, um pouco, o contorno do corpo. Cumprimento os dois, entro no elevador e desço. Vou pra noite, nada me prende. Dou um tempo lá embaixo e subo pela escada. Eles não podem me ver voltando pelo visor da porta, né? Paranóia nada. Se me vêem voltar, parece que levei um bolo. Potência, Marina, potência! Espera, “Seu” José está tocando aqui. Chegaram. Fica na linha. Vou sair falando com você. “Já estou descendo, um minutinho”. “Epa! E aí? Obrigada por segurar a porta. Valeu!…” Amiga, ouve esta: o shortinho dela estava na bunda! Paulo perdeu a noção do ridículo. Alô, Marina? Alô? Ai, meu Deus, o elevador parou! E ela empesteou esse cubículo com aquele perfume. Droga! Vinte e cinco apartamentos e o elevador enguiça na minha vez? Será que eles apertaram algum botão, antes de saírem? É guerra, é? Só me faltava essa… Alô? Socorro!
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com César Manzolillo
Kkkk adorei!
Que bom que gostou, Rapha! Bjs.