Segui Friends, série que consagrou Matthew Perry, por anos. Fiz a coleção de DVDs. Não há uma vez em que, girando os canais, encontre uma cena da série e não pare para assistir ao episódio.
Friends remete a um momento da minha vida. Além de bem escrita, engraçada, tinha o fato de as personagens terem idades próximas a minha, na época. Despertava o desejo de fazer parte de uma turminha íntima de amigos, que se apoiasse e se divertisse tanto como aquela.
Cada personagem permitia alguma projeção. Podíamos admirar suas idiossincrasias do nosso sofá, quando os dias acabavam em frente a tevê. Dispostos à alegria, ríamos com as tramas universais e, ao mesmo tempo, criativas.
Chandler, o personagem de Matthew, talvez fosse mais como a maioria de nós. Alguém que sobrevive à roda da sociedade, sem nenhum brilho especial. Era sensato, possuía um emprego para pagar as contas (não o “dos sonhos”), era solidário com os amigos, inclusive financeiramente. Sonhava relacionamentos, mesmo sendo um homem comum. Ser desengonçado se potencializava na proximidade com Joey, seu melhor amigo, postura oposta no jogo sexual: bom de lábia e de cama.
Todas as personagens eram risíveis. Mas coube a Chandler, na história, ser o propositalmente engraçado. Sarcástico, como defesa de suas inseguranças, possuía um humor ora sagaz, ora infantil.
Durante a trama, ele amadureceu e desaguou numa relação duradoura com Monica, desbancado o casal principal da trama, Ross e Rachel. Muitos fãs da série idealizavam o tipo de relação que Chandler oferecia a Monica, com aceitação das neuras, apoio e admiração pela pessoa que a amada se tornara. Bom de relacionamentos, também protagonizou, com Joey, o melhor bromance da série.
Naqueles anos, iniciou-se a luta do ator contra os vícios que o tirariam do trilho de uma carreira mais constante. Seu talento era inquestionável. Seu carisma também.
Por isso, os dias têm sido tão tristes. Ele partiu cedo, após assumir seus fantasmas e pedir, inclusive, para ser lembrado como alguém sempre disponível a outras pessoas com os mesmos problemas. Foi de repente, mesmo parecendo pouco saudável no especial sobre os 30 anos da série, se comparado aos colegas de elenco.
Matthew atravessou desafios muito maiores que sua personagem. Talvez tenhamos fingido não ver sua dor por não poder associá-lo a outra coisa que não fossem os risos que nos provocou.
Rompe-se o sonho de uma nova reunião, de um filme sobre a série, ou de qualquer continuação. Um véu de saudade e compaixão cobrirá o rosto de Chandler cada vez que revermos um episódio de Friends.
Eu, que nunca o conheci, ainda não li seu livro e sei apenas recortes da sua história, não consigo parar de pensar em Matthew. No quanto a vida exige, no quanto é ilusória a sensação da calma após a conquista, nos perigos de tratarem-se com ares de glamour os gatilhos de doença tão séria como a dependência química, na exaustão que deve ser viver, diariamente, em luta.
Continuarei amando, em sua eternidade, Chandler Muriel Bing. Ou Chanandler Bong.
Que Chandler garanta a seu criador, sempre, ondas de amor e gratidão a alcançá-lo onde estiver.
Obrigada, Matthew!