Assim como as decorações de rua para a Copa do Mundo, parecem ter diminuído as varandas iluminadas para o Natal de 2022 pela cidade. Mas pode ser uma impressão. Quando atravesso a cidade, tenho a sensação de que, antes, os caminhos eram mais iluminados nesta época do ano. Será que a memória me trai?
Sorrio internamente, lembrando-me de uma história que dividi, há uns anos, numa rede social. Por vários motivos, a ornamentação da árvore de Natal fora adiada diversas vezes naquele ano. Acabamos por fazê-la no próprio dia 24 de dezembro. Enquanto estávamos separando os enfeites e os pisca-piscas, achei, no meio de tudo, as luzes da varanda. Comecei um diálogo com meu filho.
– Ih, as luzes da varanda! Vamos colocá-las também?
– Hum, vamos deixar pro próximo ano? Já é hoje o Natal, mãe.
– É, estou com preguiça. Aliás, filho, você percebeu que não há luzes nas varandas? Não vi nenhuma. As pessoas não puseram luzes nas varandas dos prédios!
– Claro que puseram, mãe. Você que não viu.
– Nem parece Natal. Que Natal chocho! Não tem clima mesmo. A cidade desse jeito, o estado, o país…
Os servidores do Estado estavam sem salário há meses. Precisavam pegar doações de cesta básica naquele ano. Eu emendei:
– Se um servidor está nessa situação, imagina quem ganha salário mínimo, o desempregado.
– Olha o prédio ali. Puseram luz.
– Ou será que foi por causa da conta de luz? Lembra que a conta subiu demais?
– Mãe, tem luz nas varandas! Você está pensando essas coisas e não percebeu. Pode ter menos luz, mas tem.
– Não vi nenhuma.
Deixamos a história pra lá e finalizamos a decoração de Natal. Segui nos preparativos, adiantando-me para o almoço do dia 25 de dezembro.
À noite, fui levar meu filho para a ceia de Natal com sua família paterna. No carro, passaram-se poucos minutos até que ele começasse:
– 1…2…3,4…
– Que é isso, filho?
– 5…6…7 ali na frente.
Sorri com o coração. Entendi que ele contava as luzes espalhadas por onde passávamos. Casas, prédios, árvores na rua. Acesas, como em outros Natais.
– Você está contando as luzinhas, seu implicante?
– E você disse que não tinha visto, hein?!
Perto da hora de saltar, ele me disse:
– Mãe, já contei 52 luzinhas até aqui. Posso parar?
Rimos juntos. Aquela brincadeirinha me divertiu e me ensinou. Meu filho me apontara o que eu não tinha sido capaz de ver. Se há mais ou menos varandas iluminadas, não importa. Desde então, busco manter-me mais atenta, para não perder a capacidade de enxergar as luzes existentes no caminho. Caso isso aconteça, desejo que, sempre, a meu lado haja alguém para apontar-me onde elas estão.
Desejo o mesmo a vocês também. Feliz Natal, amigos!
ANA LÚCIA GOSLING
Que seu caminho continue iluminado e irradiando luz por onde passa. Feliz Natal minha amiga querida.
Amém, amiga querida!