Eu dizia gostar das Olimpíadas, certo? Pois a semana produziu uma série de momentos bonitos. Imagens em que o espírito esportivo mostrou ao mundo, como o verso de Caetano, que “gente é muito bom, gente deve ser o bom/tem de respeitar, tem de se cuidar do bom”.
No jogo de handebol entre Brasil e Angola, a goleira do time adversário se lesionou. Tamires, pivô da seleção brasileira, levou-a no colo até o banco de reservas para receber atendimento médico. Aplaudida, gerou uma imagem celebrada nas redes sociais mundo afora, associada ao verdadeiro espírito olímpico.
Comovente foi o gesto de reverência de Simone Biles e Jordan Chiles, ginastas americanas, à medalhista de ouro no salto: nossa Rebeca Andrade. Se a emoção do ouro para o Brasil já nos engasgava o choro, ver as duas atletas americanas se curvarem ao talento da brasileira foi inesperado e uma demonstração carinhosa de respeito e reconhecimento. O pódio pesava em simbolismo. Numa foto, assunto para vários debates e reflexões. Mulheres, negras, origens humildes, histórias de superação física e mental, sacrifícios de vida, sororidade, espírito esportivo real. A ginástica artística, aliás, desfilou um carrossel de delicadezas: por mais que se buscasse vencer, todos torciam entre si e se encantavam com o bom desempenho do outro.
Ser espectador de um evento como os jogos olímpicos mistura emoções diversas. É divertido e emocionante. Pretexto para socialização ou para despertar interesses e vocações. Coroação ou fim do sonho de uma vida. Partem nosso coração aqueles que chegam tão perto e se vêem impedidos de concluir o caminho, como Valdileia Martins, atleta do salto em altura, que, numa homenagem íntima ao pai recém-desencarnado, fez uma apresentação memorável, conquistando uma vaga na final, mas não conseguiu disputá-la em razão de uma lesão.
Sentimentos reais desfilam diante de nós nas tramas engendradas nas provas e pódios dos eventos desses dias. Fazem-nos acreditar num mundo bom porque vemos: está em nós o maior desafio e o maior adversário. Competimos mas entendemos: nosso rival também disputa contra si por um melhor desempenho. Simone Biles dimensionou acertadamente o significado do gesto a Rebeca Andrade: “Sei que foi muito especial e foi muito impactante para as crianças verem isso. Você ganha com graça, você perde com graça”.
No fim, esporte não é sobre rivalidade mas sobre superação pessoal. O mais importante, de novo, está nos versos de Caetano:
“Não, meu nego, não traia nunca essa força, não/Essa força que mora em seu coração”.
DICA DA SEMANA:
A partir do mês de agosto, através da plataforma Zoom, o Instituto Estação das Letras promoverá encontros de leitura, mediados pela escritora Lilian Fontes.
Os encontros ocorrerão todas as quintas-feiras, de 19 às 20:30 horas. Na primeira quinta-feira do mês, o grupo se reunirá para conhecer o livro a ser lido, a trajetória do autor e a importância da obra na literatura. Na última quinta-feira, após a leitura do livro, volta-se a reunir para discutirem-se enredo, estrutura narrativa e demais experiências de leitura dos participantes.
Para mais informações, acesso o link:
https://estacaodasletras.com.br/encontros-de-leitura-do-iel/
No dia 17/08, será o lançamento carioca do livro “Filho de Rio“, do autor Fernando Antonio Viegas, colega da Oficina Literária Eduardo Affonso. O evento ocorrerá na Livraria Argumento, das 17 às 20h.
O livro do autor é recheado de crônicas reais, cotidianas, narrativas, ora amorosas, ora bem humoradas. Uma escrita elegante, que cria cumplicidade com o leitor, emocionando.
Apareçam!
Confira as colunas do Projeto AC Verso & Prosa:
com César Manzolillo