As Mãos Sujas, de Jean Paul Sartre, estreia no SESC Ipiranga

Cena de As Ma?os Sujas. Créditos para Yghor Boy

Com direção de José Fernando Peixoto de Azevedo, espetáculo propõe uma reflexão sobre a política, o indivíduo e o coletivo ao utilizar recursos cinematográficos inspirados pelo filme Terra em Transe, de Glauber Rocha.

A peça de teatro As Mãos Sujas, escrita pelo filósofo, crítico e escritor Jean Paul Sartre (1905 – 1980) ganha nova montagem dirigida por José Fernando Peixoto de Azevedo que estreia dia 1º de novembro de 2019, sexta-feira, no Sesc Ipiranga. O espetáculo conta a história de um jovem intelectual que decide matar o líder de seu partido após este propor uma aliança com partidos conservadores. No elenco estão Gabriela Cerqueira, Georgina Castro, Paulo Balistrieri, Paulo Vinicius, Rodrigo Scarpelli, Thomas Huszar e Vinicius Meloni. Também estão em cena os músicos Ivan Garro, Rodrigo Scarpelli e Thomas Huszar e o câmera Yghor Boy.

O espetáculo marca desdobramentos na linguagem de José Fernando Peixoto de Azevedo em criar um dispositivo cênico que relaciona o teatro ao cinema. Em um cenário quase vazio, destaca-se um telão em que são projetadas imagens captadas ao vivo. “Em seus deslocamentos espaciais, a câmera de fato contracena com os atores. Ela assume uma função de saturar as suas presenças e intensificar planos”, conta o diretor.

A escolha coloca a peça em diálogo direto com Terra em Transe, uma das obras-primas do cineasta Glauber Rocha, lançada em 1967, cuja estética também inspirou os figurinos e as músicas executadas ao vivo por Guilherme Calzavara. A trilha sonora sobrepõe sonoridades presentes no filme a outras que foram pensadas a partir do texto de Sartre.

José Fernando Peixoto de Azevedo conta que o desejo de montar esse texto de Sartre surgiu há mais de uma década, em meio a pesquisas feitas em conjunto com a companhia Teatro de Narradores  (1997-2016) sobre engajamento político nas artes, que contemplava textos do francês, de Glauber Rocha, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht e do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini.

A encenação elabora o que o diretor nomeia “deslizamentos temporais”, de modo que a cena transita entre 1943 (ano em que Sartre situa a ação), o presente e  interrogações a um futuro próximo. Com esses deslizamentos temporais, a peça discute questões como o conceito de um partido político, o sentido e as consequências das alianças com forças conservadoras e guerra ideológica que vivemos nos dias de hoje.

O diretor complementa que a reflexão também se estende para as condições que o engajamento político impõem a um indivíduo. “Quais são as alianças necessárias para a sobrevivência da esquerda e qual é a real necessidade disso?”, questiona-se.

José Fernando Peixoto de Azevedo 

Zé Fernando, como é conhecido, é professor na Escola de Arte Dramática e no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Estudou cinema, possui graduação e doutorado em Filosofia pelo Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde defendeu tese sobre o teatro do dramaturgo alemão Bertolt Brecht.

Atua como pesquisador nas áreas de história e estética do teatro brasileiro e do teatro negro, além de estética e filosofia contemporânea. Foi fundador, dramaturgo e diretor do Teatro de Narradores e é colaborador do grupo de teatro negro Os Crespos. Atua também como curador. Dirigiu recentemente o espetáculo Navalha na Carne Negra e publicou, pela editora n-1, o volume da coleção Pandemia intitulado Eu, um crioulo e pelas editoras Cobogó/Sesc, como co-organizador,  o livro Maratona de Dramaturgia.

SINOPSE

Hugo é um jovem intelectual burguês que se engaja no Partido Comunista numa região ocupada pelo inimigo fascista. O líder do partido, Hoederer, propõe uma aliança com partidos conservadores, contra o ocupante. Seus companheiros se opõem a essa política de alianças e sua linha conciliatória e decidem eliminar o líder. Para tal tarefa convocam Hugo, como condição para sua legitimação no coletivo, numa espécie de ‘batismo de fogo’. Anos depois, já fora da prisão, Hugo depara-se com os desdobramentos da política do partido.

 

FICHA TÉCNICA

Texto: Jean-Paul Sartre

Tradução: Homero Santiago

Atores: Gabriela Cerqueira, Georgina Castro, Paulo Balistrieri, Paulo Vinicius, Rodrigo Scarpelli, Thomas Huszar e Vinicius Meloni.

Câmera e edição: Yghor Boy

Direção musical: Guilherme Calzavara

Desenho de som, sonoplastia: Ivan Garro

Música em Cena: Ivan Garro, Rodrigo Scarpelli e Thomas Huszar

Desenho de luz: Guilherme Bonfanti

Figurino: Marcelo Leão e José Fernando Peixoto de Azevedo

Consultoria para o trabalho de voz: Mônica Montenegro

Consultoria teórica: Franklin Leopoldo e Silva

Assistente de direção: Murilo Franco

Operador de luz: David Costa

Assessoria de imprensa: Canal Aberto

Produção: Corpo Rastreado

Direção e dispositivo de cena: José Fernando Peixoto de Azevedo

SERVIÇO

As Mãos Sujas

Temporada: De 1º de novembro até 24 de novembro de 2019.

Sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 18h. No dia 15/11, sexta-feriado (feriado), a sessão será às 18h.

Local: Sesc Ipiranga. (R. Bom Pastor, 822 – Ipiranga).

Capacidade: 200 lugares.

Duração: 180 minutos.

Não recomendado para menores de 14 anos.

 

Author

Musicalmente eclética, apaixonada pela diversidade dos estilos, das festas e festivais, amante de uma boa música, principalmente das batidas eletrônicas. #Música #MúsicaEletrônica - Nunca se precisou de drogas para senti-la, a essência da batida, a sonoridade toca a alma de um jeito que não da pra ficar parado! "Quem não sente a melodia acha maluco quem dança"!!!

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