Arte Naïf – Nenhum museu a menos: Parque Lage apresenta a exposição-manifesto

 

Arte Naïf – Nenhum museu a menos é uma exposição-manifesto que parte do acervo do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil, em diálogo com mais 30 artistas de fora da coleção, marcando uma posição da Escola de Artes Visuais do Parque Lage em favor das instituições culturais brasileiras e sua liberdade de expressão. No ano de 2018, o Brasil sofreu a maior catástrofe museológica de sua história, de irreparáveis perdas para a humanidade: o incêndio do Museu Nacional. De acordo com o Instituto Brasileiro de Museus, há hoje, no Brasil, 261 museus fechados por falta de verba e de manutenção. Esse número representa 7% do universo de 3.789 instituições do país. A Escola de Artes Visuais do Parque Lage defende instituições culturais e espaços de exposição como zonas de aprendizagem, territórios de confrontamento e dúvida, de ensino e trocas de conhecimento.

A própria noção de “arte naïf” – do francês, ingênuo – escapa às tentativas de definição. Sugere algo “natural”, “primitivo”, “instintivo” ou “original”. No passado, foi compreendida como arte da espontaneidade, da criatividade autêntica, do fazer artístico sem escola nem orientação. Sendo uma escola livre, interessa pensar a produção de artistas que não recorreram a escolas ou academias. De maneira mais contemporânea, importa pensar esta realidade também com um recorte de classe: quais artistas escolheram não se formar em escolas e quais aqueles que não tiveram condições para tal experiência? Com um recorte curatorial que privilegiou desmontar a ideia de ingenuidade ao buscar o fundo político, as pinturas selecionadas no acervo do Museu Internacional de Arte Naïf frequentemente narram o cotidiano e o extraordinário que nele se alojam. Ritos e festas populares, experiências de trabalho e prazer, convívio social e lazer, esportes e paisagens naturais, manifestações religiosas e crenças espirituais, do terreno ao extraterrestre.

A dimensão laboral é uma importante ferramenta para pensar a trajetória destes artistas. Odoteres Ricardo de Ozias desenhava e pintava nos intervalos do trabalho na Ferroviária com as pontas dos dedos, palitos amassados e escova de dentes. Amadeu Lorenzato era pintor de paredes, tal como Alfredo Volpi. Em tempo, Rafael Alonso apresenta sua pintura sobre as paredes da exposição, dialogando com referências populares urbanas e com a potência cromática dos quadros ditos naïf.

Confira a entrevista com o curador Ulisses Carrilho publicado no “Canal + DH”:

 

 

 

 

 

Os artistas autodidatas trabalham geralmente a matriz popular da cultura brasileira com investidas plurais. Em 2019, faz sentido atualizar essa noção, aliando-se às pautas feministas, antirracistas e às narrativas de coloniais, que revisam as histórias ligadas à formação do país e denunciam o racismo estrutural, causa fundante da desigualdade social que assola o país. Resta o compromisso com o arrojo daqueles artistas que se formaram por uma prática livre. Tais medidas singularizam esta mostra inspirada na EAV Parque Lage, criada em 1975 para ser uma escola de vanguarda, atenta às questões brasileiras e antropológicas, sensíveis às demandas da sua comunidade e de seu tempo.

 

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ARTE NAÏF – Nenhum museu a menos

 

 

Author

Ana Maria Carvalho é jornalista, fotógrafa, especializada em comunicação e psicanalista. Empresária especializada em Arte Contemporânea. Escreve sobre artistas, galerias, feiras e exposições.

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