As primeiras lentes grande angulares para SLRs começaram a surgir somente após a Segunda Guerra, pois sendo um projeto óptico complicado, devido ao fato da distância da flange (espaço entre a lente e o filme ou sensor) das SLRs, em especial as Exakta, ser muito maior que o das rangefinders. Com isso o elemento traseiro das lentes grande angulares, invariavelmente, invadiria a câmera, chocando-se contra o espelho.
Foi então que duas empresas distintas chegaram, quase que simultaneamente, na solução do problema. Na França, Pierre Angenieux e na Alemanha Oriental, Harry Zolnner e Rudolph Sollich, da VEB Carl Zeiss Jena, baseando-se na ideia de 1931 de Horace W. Lee, da Taylor, Taylor & Hobson de inverter o sistema óptico de lentes tele para câmeras de cinema, isso faria com que o elemento traseiro não precisasse entrar muito no interior da câmera, evitando-se, desta forma, de se chocar contra o espelho.
A Carl Zeiss então denominou suas lentes de Flektogon, nome esse derivado do verbo em Latim Flektare, que significa fletir, dobrar, curvar, que é exatamente o que esse tipo de lente faz com a luz.
Dessa forma o eminente cientista soviético e especialista em sistemas ópticos, o Professor David Samuilovich Volosov, de posse do esquema óptico das Flektogon, começou a aperfeiçoar o projeto para desenvolver a lente que seria conhecida mundialmente por Mir (???), que significa paz, em russo, em uma bonita tentativa de arrefecer os ânimos em tempos de Guerra Fria.
Não sendo cópia da lente na qual foi baseada, o projeto das Mir foi evoluído e aperfeiçoado, conseguindo-se melhorar o desempenho e a nitidez geral da lente, além de ter os vidros Zeiss, de Lantânio radioativo, sido substituídos por vidros ópticos soviéticos comuns que, barateando, e muito, os custos de produção, conseguiram, consecutivamente, reduzir seu preço.
Sendo inicialmente produzida pela KMZ e, posteriormente, pela ZOMZ, VOMZ e Arsenal Zavod, chegou ao mercado em 1954, inicialmente com os mount KMZ ZM39 e M42, sendo seguidos pelas baionetas russas Kiev 10 e Kiev 15, além do mount T do modelo A que, possuindo suporte intercambiável, poderia ser utilizado em diferentes montagens, incluindo, o então novíssimo, Mount F.
A lente possuía fórmula óptica de 6 elementos em 4 grupos, com rosca para filtros de 49mm e diafragma de 10 lâminas para um bokeh suave com os reflexos das altas luzes perfeitamente arredondados e chics, quando fechada.
Pesava agradáveis 250g de metal e vidro, possuindo sistema de abertura preset, declicado, variando de f/2.8 a f/16, ficando o anel de foco, estreito e incomodo, em posição posterior ao anel de abertura do diafragma, bem posicionado e de movimento leve e preciso. Vá entender…
A lente possui 3 curiosidades interessantes e pouco comentadas. A primeira é em relação ao seu bokeh que, tal como suas irmãs mais famosas da série Helios, as Mir também são capazes de apresentar o famoso “swirly bokeh” em condições ideais.
Outra curiosidade, estranha, por assim dizer, é em relação à sua distância mínima de foco ou DMF de 70cm, em relação às Flektogon 35 que possuíam DMF de 33cm. Ocorre que, se a Mir for desmontada, se notará que ela possui um parafuso de contensão do anel de foco e que, se este for retirado irá se permitir que ela foque nos mesmíssimos 33cm das Flektogon, ficando o anel de foco com rotação de, aproximadamente, longos 340°. Estranho, não?
A terceira curiosidade é em relação à sua distância focal pouco usual de 37mm. Na verdade esta é exatamente a mesma distância focal da Flektogon 35/2.8 mas que, por questões mercadológicas, a Zeiss afirma ser de 35mm. Interessante, não?
Em 1958 a Mir 1, a Helios 40 e as Tair 3 e 11, todas criações do Professor Volosov, venceram o Grande Prêmio da Exposição Mundial de Bruxelas, fato este tão importante que os modelos iniciais dessas lentes traziam no corpo a inscrição “Grand Prix” Brussels 1958, em alusão ao feito, não sendo nenhuma série especial das lentes que também podem vir sem a referida inscrição.
As Mir foram produzidas em diferentes versões, todas trazendo a mesmíssima fórmula òptica, sendo o modelo mais comum a Mir 1B, que deixava o corpo de alumínio polido para traz, trazendo agora um corpo todo em laca preta.
Sendo uma lente fabulosa, super nítida e com reprodução de cores suaves em agradáveis e soviéticos tons pastéis, a Mir, assim como a maioria das lentes do período, sofre com luzes diretas que geram flares acentuados.
Entretanto, diferentemente das lentes modernas, essas extravagâncias luminosas carregam uma profunda conotação artística, se bem empregadas, claro, capazes de gerar imagens belíssimas tanto em fotos quanto vídeos que, ainda dela se beneficiam do fato de não ser clicada entre os f/ stops, sendo as lentes da série Mir 1, com absoluta certeza, uma das melhores lentes soviéticas de todos os tempos, permanecendo um grande prêmio para o fotógrafo analógico… Lógico!
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