Analógico Lógico: Fujifilm Neopan Acros 100. Um tremendo filme

 

Hoje vou falar, para quem não viu o vídeo no Analógico Lógico, no Youtube, sobre o Fuji Neopan Acros 100. Tremendo filme. Vem de uma linhagem de filmes Fuji que remonta à sua linha de películas para cinema. Curiosamente a Fuji começou inicialmente na produção de filmes cinematográficos para o cinema japonês e, posteriormente, ingressou no mercado de filmes prosumer ou para o consumidor e filmes profissionais, nos formatos conhecidos.

Dentre as várias e fantásticas emulsões que produziu, a sua consagrada linha Neopan de filmes PB se tornou famosa entre os fotógrafos profissionais devido às suas características únicas que agregavam uma excelente tonalidade, granulação super fina, excelente latitude e, principalmente, reciprocidade.

Sendo definido pela própria Fujifilm como um filme orthopanchromático, que nada mais é que um dos conhecidos filmes pancromáticos, tais como os Ilford Delta 100, HP5 Plus 400, Kodak Tri-X 400 e T-Max 100 II que, apesar de terem uma sensibilidade espectral ao vermelho, esta não é tão fabulosa, situando-se em torno dos 650nm, diferentemente dos filmes infravermelhos ou superpanchromaticos, como estes também podem ser chamados, nos quais essa sensibilidade espectral é bem mais elevada, podendo passar dos 830nm, bem como também é diferente dos orthochromáticos, os quais não têm sensibilidade ao vermelho, sendo esta cor representada pelo preto absoluto, logo, inviabilizando o uso de filtros vermelhos.

Tendo sido descontinuada no decorrer dos anos 2000, a linha Neopan era composta do Neopan 400CN, Neopan 100 SS, Neopan 400 Professional (ou Presto, no Japão), Neopan 1600 Professional (ou Super Presto), além do mais famoso de todos eles, o Neopan Acros 100 e é dele que falaremos.

O Neopan Acros 100 era um filme PB de grão extremamente fino e de excelente estrutura, graças à sua tecnologia de emulsão “Super Fine – ? (sigma) Grain”, oriunda da linha de filmes Fuji para cinema, tendo uma excelente latitude de 2 ½ stops para cima e para baixo, podendo ser usado na velocidade da caixa na maioria das vezes, apresentando resultados excelentes.

Apesar de ser um PB de médio contraste, o Neopan Acros conta com pretos poderosos à sombra, funcionando maravilhosamente bem no concreto urbano já que, além disso, também consegue apresentar os brancos como brancos e não como tonalidades claras de cinza, o que por um lado é bom, mas há que se levar em conta que pode estourar nas altas luzes. Nada que 1/3 de compensação não resolva.

Em retratos apresenta texturas cremosas e com suavidade e peles com lindas gradações tonais. Um filme chic.

Em fotografia de paisagens, pode ser utilizado com filtros vermelhos 25A sem drama, muito embora os amarelo-esverdeados, amarelos e laranjas gerem resultados subjetivamente melhores. Em tempo nublado continua a ser bem constante, não esmorecendo. Um filme muito correto.

Agora, onde o Neopan Acros realmente brilha é em sua reciprocidade ou na quase ausência de falha desta. Para quem não sabe o que estou falando, uma breve explicação. Reciprocidade, resumidamente, é a capacidade de se receber algo igual, recíproco. Em fotografia funciona da seguinte forma: se a sua câmera ou fotômetro disse para você que a velocidade que a foto deverá ser batida é de 1/125seg, isso significa que o filme que você está usando deverá gravar a imagem em 1/125seg. E por ai vai: se medir 1/60seg, o filme deverá gravar a 1/60seg, se for 1/30 seg, deverá gravar a 1/30seg. Ou seja, medição igual, gravação igual. Recíproco. Fez sentido? Ok!

Ocorre que o filme é um sistema químico de captação da luz, então acontece que, em determinadas velocidades esse químico começa a falhar em sua capacidade de apreensão da informação luminosa, perdendo a capacidade de gravar a imagem na velocidade indicada, logo, precisando de mais tempo para compensar essa perda. Então a captação da informação luminosa deixa de ser recíproca à velocidade indicada e começa o que se denomina de “falha de reciprocidade”, que é quando a química do filme falha na captação da imagem e se precisa de mais tempo para compensar isso. Fui claro?

Então dessa forma, se na reciprocidade 1/125 seg de velocidade medida era igual aos mesmos 1/125seg de capacidade de gravação da imagem pelo filme, na falha de reciprocidade, por exemplo, uma velocidade medida de 1 segundo, em determinado filme, deverá ser compensada, colocando-se um tempinho a mais para que o filme seja capaz de gravar a imagem, então poderia ser 1 ½ seg, por exemplo.

Desta forma, quanto maior for o tempo fotometrado, maior deverá ser a compensação dada. Só que isso varia de filme para filme. Há filmes em que a falha na reciprocidade é muito grande, como os Kodak Tri-X 400, por exemplo em que, se for fotometrado uma velocidade de 2 minutos, o filme deverá ter uma exposição de cerca de meia hora para compensar essa falha na reciprocidade. Entenderam?

O que não acontece ou acontece muito pouco com o Neopan Across 100, que mantém a sua reciprocidade, sem falhar, até 120 segundos e, após isso, a compensação da falha na reciprocidade deverá ser de apenas ½ stop. Ou seja, se pegarmos o exemplo acima e fotometrarmos para o Neopan uma exposição dos mesmos 2 minutos, este não precisará de compensação, como o Tri-X e deverá se batido nesses mesmíssimos dois minutos. Fazendo com que esse seja um filme extremamente previsível de se fotografar, sendo um filme fantástico para condições de luz extremamente baixas ou que requeiram um grande tempo de exposição, tais como fotografia noturna, astrofotografia ou longas exposições. Legal, né?

Tendo sido descontinuado em abril de 2018, a Fuji percebeu o tiro no pé que havia dado e o ressuscitou como Neopan Acros II, em junho de 2019, sendo apresentado como uma versão reformulada do original mas que, para nossa alegria, permaneceu 98,5% como o original, mantendo, inclusive, suas fabulosas características de reciprocidade.

Atualmente o filme é vendido nos formatos 135 e 120, tendo sido extintos, em definitivo, os grandes formatos 4×5 e 8×10, que haviam sido descontinuados desde 2017.

Sendo um filme magnífico, uma verdadeira alegria de se fotografar, o Fuji Neopan Acros 100 é um daqueles filmes absolutamente memoráveis e que deveria ser batido, com certeza, por todo fotógrafo analógico… Lógico!

CONFIRA O VÍDEO:

 

Espero que tenham gostado e nos vemos no Analógico Lógico, no YouTube. Forte abraço e boas fotos!

VITOR OLIVEIRA

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Author

Vitor Oliveira é dono de uma visão poética sobre a vida e o mundo que o permeia. Fotógrafo experiente e autodidata, fotografa desde os 10 anos de idade influenciado por seu avô, o pintor paisagista Altamiro Oliveira, de quem, além da pintura clássica, o influenciou no desenho e na literatura, arte que exerce escrevendo romances ambientados no submundo de uma São Sebastião do Rio de Janeiro do final do Séc XIX e começo do Séc XX que não mais existe. Pesquisador de métodos, técnicas e equipamentos fotográficos e colecionador, Vitor Oliveira fotografa principalmente em película, por considerar que, após quase 200 anos de evolução desta forma de arte, esta ainda oferece os melhores resultados, ao depurar a técnica artística, quase que alquimicamente. Sendo um dos únicos fotógrafos de nível mundial a participar, usando filme, no maior concurso fotográfico do mundo, o Sony World Photography Awards, da World Photography Organization, Vitor Oliveira inaugura seu Canal Analógico Lógico!, no YouTube, através do qual procura compartilhar um pouco de uma aprendizagem que nunca finda. Hare Hare! Canal Analógico Lógico! : https://youtube.com/channel/UCom1NVVBUDI2AMxfk3q8CpA Video de abertura: https://youtu.be/N_cuYPi6b4M

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