Ainda comemorando 2025

 

Coluna de Márcio Calixto

Ainda Comemorando 2025 – Ilustração ArteCult DALL.e

Ainda comemorando 2025

 

Nesse processo particular de exposição, algo que quero trazer como produto primordial dessa últimas crônicas que escrevo, preciso fazer uma tergiversação sobre a escola do município onde agora me encontro. Comparando com as outras duas onde já lecionei, vivo um mundo totalmente novo.

Está bom, totalmente novo é forçar. Há boas diferenças que me fizeram traçar algumas reflexões. São elas que têm me movido à escrita. (Além, óbvio, do caderninho, que tem sido uma bênção). Iniciei na escola pública nova. Todas as considerações sobre sucateamento são válidas. As escolas públicas têm o dever cívico de irem onde a rede particular jamais irá. Essa diferença se tornou fundamental para definir a educação carioca, isso falando principalmente da capital do Rio. Os prédios são antigos, de arquitetura agressiva e grotesca. Algumas poucas escolas apresentam uma profunda renovação. E são bonitas, inclusive.

No entanto, levando em consideração o alunado, há diferenças bem sutis que me fizeram ter um sentimento de renovação. Estava desesperançoso. Pensei que minha velhice já cobrava o preço de meu humor em sala. Julguei, ainda, que os alunos não mais me validavam como professor. Fui-me rendendo a uma derrota que eu mesmo me infligia. Agora, na escola nova, o alunado é educado, desejoso de aula, e estou fazendo isso, dando aula, sem gastar meu humor, minhas cordas vocais ou ameaçar. Aula pela própria aula.

Os antigos sonhos de um professor público, querendo usar sua capacidade para que essas crianças tenham mobilidade social, voltaram a ser sonhados. Antes me parecia luta renhida, sem motivo, perdida já no início de luta. Fazia o que era possível para poder dar aula. Na atual escola, tenho escola.

Pode parecer até antiético de minha parte só o fato de escrever o texto. Porém, ele se move pelo espírito de esperança. A luta da escola nunca será uma luta perdida. Nós é que não devemos deixar a educação esmorecer. A luta não é somente dentro da escola. Consigo perceber algumas nuances entre a atual e a anterior. Nesse momento, acredito que seja histórico local. A Zona Norte, berço do Rio de Janeiro como conhecemos, está degradada demais. A Zona Oeste teve mudanças abruptas nos últimos 40 anos. Decadência se rivaliza com mobilidade sociourbana. Parto por essa perspectiva só para ver questões do entorno. Claro, especulação de visão subjacente, mas que mostra uma das origens de minha atual esperança.

É motivo para comemorar 2025. Um ano que me veio com mudanças muito profundas em vários aspectos. Pensei que no município eu deveria seguir apenas suportando até minha aposentadoria. Não mesmo. Quero dar aula. Muita aula. É o que esses meninos terão.

 

MÁRCIO CALIXTO
Professor e Escritor

Márcio Calixto. Foto: Divulgação.



Coluna de Márcio Calixto

 
 

Author

Professor e escritor. Lançou em 2013 seu primeiro romance, A Árvore que Chora Milagres, pela editora Multifoco. Participou do grupo literário Bagatelas, responsável por uma revolução na internet na primeira década do século XXI, e das oficinas literárias de Antônio Torres na UERJ, com quem aprendeu a arte de “rabiscar papel”. Criou junto com amigos da faculdade o Trema Literatura e atualmente comanda o blog Pictorescos. Tem como prática cotidiana escrever uma página e ler dez. Pai de dois filhos, convicto morador do Rio de Janeiro, do bairro de Engenho de Dentro. Um típico suburbano. Mas em seu subúrbio encontrou o Rock e o Heavy Metal. Foi primeiro do desenho e agora é das palavras, com as quais gosta de pintar histórias.

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