A poetisa, escritora e filósofa mineira Adélia Prado é a vencedora do Prêmio Machado de Assis 2024, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. É o prêmio literário mais antigo e mais importante do país, entregue desde 1941. A entrega será no dia 19 de julho, no evento de aniversário da ABL. Ela terá direito a R$ 100 mil. Em 2023, a escritora Marina Colasanti foi a vencedora. Adélia Prado é a 11ª mulher a receber o prêmio.
O poeta Antonio Carlos Secchin, secretário-geral da ABL, informa que Adélia Prado surgiu há algumas décadas com o livro Bagagem. Depois vieram O coração disparado e outros instantaneamente clássicos. Curioso porque nela parece haver um dado intuitivo, que é muito forte e que não impede que haja simultaneamente consciência técnica e originalidade.
A escritora desenvolveu solitariamente sua obra avessa a panelinhas e a esquemas, e isso só aumenta o reconhecimento de sua obra tanto por parte do público como da crítica, algo difícil de acontecer.
Adélia Luzia Prado de Freitas, considerada a maior poetisa viva do Brasil e uma das maiores de todos os tempos, tem 89 anos, mora na cidade mineira de Divinópolis e pouco sai de lá. Mas aparece sempre recitando seus poemas no Instagram. Depois de muitos anos de ausência, prepara o lançamento de um livro ainda para este ano. O título provisório é Jardim das Oliveiras, uma referência ao lugar onde Jesus Cristo rezou na véspera da crucificação.
A autora ganhou o prêmio Jabuti em 1978 com a obra O coração disparado. Escreveu também livros em prosa e infantil. Com vocabulário simples e linguagem coloquial, Adélia produz uma obra leve, marcante e original. Nela, aparecem muita rebeldia e doçura feminina, um profundo sentimento humano e uma dicotomia entre os apelos do corpo e da elevação espiritual.
A fé católica se faz presente na obra de Adélia, que costuma tratar de temas ligados a Deus, à família e principalmente à mulher. Sua poesia costuma destacar a perspectiva da mulher, trazendo sempre o feminino em primeiro plano. É conhecida por retratar o cotidiano sob o olhar feminino e não feminista e libertário.
Adélia Prado escreveu seus primeiros versos aos 15 anos, quando sua mãe morreu. Exerceu o magistério em Divinópolis, mas o sucesso como escritora a fez abandonar a carreira depois de 24 anos. Casou e teve cinco filhos. Antes de nascer a última filha, ela e o marido fizeram vestibular para filosofia.
Em 1976, enviou o manuscrito de Bagagem para Affonso Romano de Sant’Anna, que, na época, assinava uma coluna de crítica literária no Jornal do Brasil. Admirado, este repassou os manuscritos a Carlos Drummond de Andrade, que incentivou a publicação do livro pela Editora Imago, pois tinha achado os poemas fenomenais.
Drummond publica uma crônica no Jornal do Brasil chamando atenção para o trabalho ainda inédito da escritora. O livro é lançado no Rio de Janeiro com a presença de Antônio Houaiss, Raquel Jardim, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Juscelino Kubitschek, Affonso Romano de Sant’Anna, Nélida Piñon e Alphonsus de Guimaraens Filho, entre outros. Em 1987, a atriz Fernanda Montenegro estreia, também no Rio de Janeiro, o espetáculo Dona Doida: um interlúdio, baseado em textos de Adélia Prado.