FURIO LONZA: o autor do romance Crossroads é o convidado desta semana do AC Literatura

 

Furio Lonza (@furiolonza) nasceu em Trieste, na Itália, mas há muitos anos vive no Brasil, primeiro em São Paulo, atualmente no Rio de Janeiro. Foi editor da revista undergroud Chiclete com banana e atuou como jornalista em diversos órgãos de imprensa. Entre os livros publicados, As mil taturanas douradas, vencedor do prêmio FNLJ como melhor livro do ano de 1994.

Confira a entrevista exclusiva que preparamos pra você.

 

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?

O livro fala com humor sobre a maconhaFoto: Divulgação.

Furio Lonza: Através de uma música do John Lennon. “I am the walrus“ cita um nome: Edgar Allan Poe, que eu nem sabia quem era. Pesquisei, li todos seus contos e comecei a escrever.

 

AC: Você é italiano, mas vive há muito tempo no Brasil. O que ainda existe de seu país natal dentro de você?

FL: Algumas coisas boas e muitas ruins, como está no meu romance Crossroads. Depois de trinta anos vivendo no Brasil (cheguei em 1958), voltei para a Itália e não me identifiquei com nada. O italiano é um povo preconceituoso e petulante. Já comecei a brigar no trem que me levaria até Monfalcone, a cidade em que nasci. São insuportáveis. Acham que sabem tudo, mas são ignorantes até a medula. Trago comigo algumas lembranças da infância. Afinal, vivi apenas cinco anos lá.

 

Contos de amor, ódio e sacanagem: narrativas irônicas. Foto: Divulgação.

AC: Como é sua rotina de escritor? Escreve todos os dias? Reescreve muito? Mostra para alguém durante o processo?

FL: Não escrevo todos os dias. Reescrevo quase tudo e, antes de publicar, mostro o resultado para alguns amigos, não necessariamente escritores, que me dão o feedback necessário para aprimorar, melhorar e modificar o excesso de estilo. Ou jogar tudo fora.

 

AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?

FL: Das musas. São elas que conduzem a narrativa. Tenho uma leve ideia, começo a escrever, mas as coisas geralmente tomam um rumo diferente daquilo que eu tinha em mente.

 

O homem, romance de Furio Lonza. Foto: Divulgação.

 

AC: O fantasma da página em branco: mito ou verdade? Isso acontece com você? Em caso afirmativo, o que faz para resolver o problema?

FL: Mito. Isso só rola em filme americano ruim.

 

AC: Sei que você também escreve para teatro. Como avalia essa experiência?

FL: Boa e má. Um roteiro de teatro é um manuscrito com personagens mortas no fundo da gaveta. Elas só vivem quando sobem ao palco. Para montar uma peça de teatro, é necessário entrar num edital de financiamento (que são todos manipulados). Depois de vinte anos de luta, só ganhei um, que financiou minha segunda peça, Jantando com Isabel. Como a literatura, o teatro também entrou por desvios que não cabe aqui mencionar.

 

A peça Patagônia foi escrita por Furio Lonza. Foto: Divulgação.

AC: Um livro marcante. Por quê?

FL: A Lua vem da Ásia, do Campos de Carvalho, porque me abriu a possibilidade de perceber que, entre a sanidade e a demência, há uma demarcação muito tênue. Campos de Carvalho é possivelmente o maior escritor brasileiro de todo os tempos, mas pouca gente conhece.

 

AC: Um escritor marcante. Por quê?

FL: Witold Gombrowicz, porque faz uma literatura que tangencia a loucura, um tema que me fascina.

 

AC: Projetos em andamento: o que vem por aí nos próximos meses?

FL: Tenho um livro pronto com 3 novelas e acabei de escrever minha autobiografia. Como perdi todos os contatos com as editoras médias e grandes, ficarão inéditos até que a coisa mude.

 

As mil taturanas douradas: conflitos adolescentes. Foto: Divulgação.

AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do Portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?

FL: Desistam. Ninguém lê nada que preste no Brasil. É um país inculto, onde as editoras não avaliam mais a qualidade do original, mas perguntam quantos seguidores o cara tem no Instagram. Nessas condições, é melhor dar um tempo.

 

Bem, é isso. Até a próxima!

César Manzolillo

Colunista do canal LITERATURA

 

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Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de 32 coletâneas literárias. Autor do livro de contos "A angústia e outros presságios funestos" (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos. Toda quinta-feira, no ArteCult, publica um conto em sua coluna "CONTO DE QUINTA", que integra o projeto "AC VERSO & PROSA" junto com Ana Lúcia Gosling (crônicas) e Tanussi Cardoso (poemas).

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