Conversamos com exclusividade com a atriz Franciely Freduzeski, que sofreu consequências sérias por conta da endometriose, como ficar sem andar e uma forte depressão. Fran contou um pouco sobre seu tratamento e como descobriu essa doença.
“Durante um ano fiquei sentindo uma forte dor na região lombar, que descia pela minha perna inteira, causando formigamento. Eu não conseguia andar, sentar, caminhar, malhar… Emagreci e perdi cabelo. Fui a vários médicos, fiz diversos exames, de coluna, de câncer… E nenhum descobria realmente o que eu tinha. Quando finalmente a doença foi diagnosticada, descobri que pegou o nervo ciático. Passei por uma cirurgia e tive que fazer fisioterapia pélvica. Hoje estou bem. Tomando todos os remédios, fazendo o pilates, voltado para a estabilidade do meu quadril e assim, não sentir dor na região da pelve. Toda semana meu médico acompanha minha evolução. Faço terapia e também vou ao psiquiatra. Tenho um acompanhamento tanto da minha mente quanto do corpo. As pessoas precisam entender que a endometriose mexe com os hormônios da mulher. A baixo autoestima é uma das primeiras coisas a acontecer e isso vai minando tudo.”
O apoio da família e a fama
Nascida em no interior do Paraná e criada em Curitiba perguntamos para atriz como foi o apoio da familiar.
“Sou muito próxima da minha família, dos meus irmãos e principalmente, sempre tive palavras de conforto e colo. O que ajuda é a gente acreditar que tem uma luz no fim do túnel, fazer os tratamentos que os médicos orientam e ter fé.”
Como tudo na vida, a fama também tem seu lado ruim. Franciely desabafa como o fato de ser uma figura pública foi pior durante o processo contra a depressão.
“Na realidade, foi pior porque já conversando com algumas pessoas do meu círculo de amizade, percebi uma negatividade e elas falavam: “que depressão que nada! Você é linda! Para com isso!”. Então, não falava mais nada. Passei só conversar com quem teve ou tem depressão e com meus médicos. As pessoas acham que quem é bonito, não sofre de depressão, que é frescura, que pelo fato de você ter “ tudo”, você não tem essa doença. As pessoas associam a depressão com aquela pessoa para baixo, descabelada, sempre mau humorada, com cara de doida, não sei…. Quando eu decidi falar, eu briguei comigo mesma porque sabia que iria ouvir coisas que iriam me desagradar e talvez, eu me sentisse pior. E foi o que aconteceu. Algumas me desejaram força, outras pediam para eu não ficar assim, outras brigavam com as outras falando que a depressão é um assunto sério e e que era para parar com certas brincadeiras. Ouvi muito: “nossa, com esse corpo, tirando foto pelada, tá com depressão?” Me senti mais culpada ainda por estar, graças a Deus, com meu corpo por fora bem, mas por dentro, só eu e Deus sabíamos o que passei e passo. Tem dias que não quero sair. Tem dias que eu levanto da cama como se eu tivesse ganhado na loteria pelo simples fato de eu ter decidido acordar. Ninguém vê isso. As pessoas veem o que tá lá, no Instagram, nas redes sociais, de um modo geral. Se baseiam na felicidade, no que o artista ou a mulher bonita deve ter todos os dias. As redes sociais são um veneno para a autoestima. A depressão não é preguiça, não é falta de vontade. É uma dor na alma, no coração. Seu cérebro só pensa coisas ruins. Você precisa de muito esforço para mudar isso. Hoje aprendi a meditar, faço terapia toda semana, usando o método mindfulness, vou ao psiquiatra, faço musculação e pilates. Tudo cuidando do meu nervo, das sequelas que ainda atormentam meu dia. Tenho dor neuropática e vou ter que lidar com isso. Mas não vou deixar de falar da doença mesmo não sendo compreendida. Um dia também não compreendi, mas hoje estou do outro lado, e gostaria de dizer que há dias de chuvas e de sol e que ambos são dias de vitória e que a força de vontade tem que estar acima de tudo para você conseguir viver. “
O fato é, somente sendo uma mulher muito forte para conseguir enfrentar a opinião pública e ainda falar cada vez mais sobre o assunto. A parte boa são os feedback que a atriz recebe de outras mulheres que se sentem inspiradas a seguir seu exemplo e lutar.
“Até hoje, as mulheres me agradecem, algumas até já procuraram o meu médico. Muitas mulheres tem os mesmos sintomas que eu. Elas se abrem, contam suas experiências, falam o quanto é difícil, o quanto elas sofrem por as pessoas acharem que é frescura, pois essa doença ainda é muito pouco divulgada, e a falta de informação faz com que as pessoas desconheçam todos os sintomas. Muitas mulheres têm os mesmos sintomas que eu. Elas se abrem, contam suas experiências, falam o quanto é difícil, o quanto elas sofrem porque as pessoas acharem que é frescura, pois a divulgação dessa doença se fala muito pouco de todas as causas antes, durante e depois. Nunca ouvi nenhum médico falar que uma das causas da endometriose pode ser depressão, então elas se sentem abraçadas por ter alguém falando sobre isso. Não se veem sozinhas, elas se identificam com outras mulheres, e vão dando dicas umas para as outras. E para mim também é confortante ler o depoimento delas que já se curaram. Existe uma esperança para todas!”
Carreira
Mesmo sendo um ótima atriz e estudando atuação nos EUA, quando retornou Fran não teve muitas oportunidades. Mas mesmo assim, ela não desiste de sua profissão.
“Fiquei muito desapontada. Achava que porque eu estudei lá fora, com grandes nomes, iria fazer diferença, que as pessoas iriam se importar com isso. Ninguém se importou. Cheguei e não conhecia mais os produtores, cheguei em uma época que os diretores foram mudando, a economia do país estava abalada e me vi desatualizada do Brasil. A arte está em mim. Desde pequena estou no meio dela. Venho de uma família que não tem nada a ver com arte, ou seja, não sei como fui parar lá, a arte me escolheu. Até já passou esse pensamento pela minha cabeça, mas me vejo mais perdida ainda porque não me encaixo em outro ambiente. Outro dia vi, uma entrevista da Joana Fomm falando das dificuldades da carreira, que fez grandes papéis, e se sente abandonada e quando a chamam, ela comemora cada participação. Eu penso: “Ela é a Joana Fomm! E eu sou quem?”. É uma profissão difícil, muito difícil, não dá para entrar nela achando que o sucesso, fama , dinheiro fará parte sempre da sua vida. Isso é uma grande ilusão. O melhor mesmo é guardar dinheiro, ter opção para se sustentar, para os dias das vacas magras. Sempre que tem cursos, workshop, eu faço e vou me atualizando.”
“Estou no mercado, aberta a leituras, propostas, estou procurando um texto para montar uma peça.”
Para fechar nossa conversa perguntamos o maior sonho e Fran respondeu:
“Ver meu filho realizado, encaminhado na vida. Feliz e de bem com a vida sempre. Que ele sempre tenha caráter e a consciência de amar ao próximo.”