Sandra Godinho (@smgg396) nasceu em São Paulo e é graduada e mestra em Letras. Já participou de várias coletâneas e antologias de contos, tendo sido agraciada com alguns prêmios. É membro número 78 da Ailb, Academia Internacional de Literatura Brasileira. Publicou O poder da fé (2016), Olho a olho com a Medusa (2017), Orelha lavada, infância roubada (2018), destacado com Menção Honrosa no 60º Prêmio Literário Casa de Las Américas (2019), O verso do reverso (2019), que ganhou o Prêmio de Melhor livro de contos regional da Cidade de Manaus, Terra da promissão (2019), As três faces da sombra (2020), Tocaia do norte (2020), romance vencedor do Prêmio Cidade de Manaus e finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2021. A morte é a promessa de algum fim recebeu o Prêmio Cidade de Manaus (2021). E Memórias de uma mulher morta (inédito) foi finalista do Prêmio Leya 2021.
Confira abaixo a entrevista exclusiva que preparamos pra você.
ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?
Sandra Godinho: Quando se tem a felicidade de nascer em uma família em que suas tias são professoras, a possibilidade de se encantar com prateleiras de livros é muito grande. Quando uma tia, e uma prima em especial, contam histórias com entonação encantatória, quase interpretando as personagens, a capacidade de se encantar é certeza pura. Sou muito grata a essas tias e a essa prima maravilhosas, que me transportaram para o lúdico e para a magia em tão tenra idade. Foi assim, nesse encantamento, que a literatura entrou na minha vida.
AC: Como é sua rotina de escritora? Escreve todos os dias? Reescreve muito? Mostra para alguém durante o processo?
SG: Eu escrevi ininterruptamente durante os últimos seis anos. Todos os dias, preferencialmente pelas manhãs. Fui obrigada a fazer uma pausa por ter inflamado o nervo mediano das mãos. Escrever é como respirar, imprescindível. Sinto muita falta. Durante o processo de escrita não mostro para ninguém. Após, sim. Tenho amigas, também escritoras, a quem recorro para uma opinião sincera. São leitoras-beta do nosso blog As Contistas, que detêm um olhar sagaz para analisar a escrita com embasamento norteador.
AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?
SG: De tudo: uma cena, um poema, uma história ouvida de outrem. Somos bombardeados por informações todo o tempo. Cabe aos escritores/as ficcionalizar a realidade com ética, estilo e estética adequados para criar um original de qualidade e com um toque de originalidade. Milhares de histórias de amor, de aventura, de vingança etc. já foram escritas, cabe a nós buscar um viés, um novo olhar, que traga algum frescor a essa nova narrativa.
AC: O fantasma da página em branco: mito ou verdade? Isso acontece com você? Em caso afirmativo, o que faz para resolver esse problema?
SG: Nunca tinha passado por isso até acontecer a primeira vez. Talvez porque, quando sento para escrever uma história, ela já esteja bem planejada e eu saiba a direção que a narrativa vai tomar. Entretanto, durante o curso que estou fazendo com o mestre Assis Brasil, houve um impasse uma vez. Não sabia como escrever determinado exercício da oficina e me desesperei. Abandonar maneirismos e abraçar novos modos de narrar é desafiador, mas enriquece seu repertório tremendamente. Eu recomendo. O único modo de resolver um impasse é se voltar para a personagem central. Só uma personagem bem delineada na mente de um escritor será capaz de fazer o escritor se desembaraçar dessa falta de ideias. Lançar mão de seu arsenal de técnicas também pode ajudar. Ou voltar à leitura dos grandes escritores. Tudo isso pode ser bem inspirador e ajudar a prosseguir.
AC: Um livro marcante. Por quê?
SG: Todos os abismos convidam para um mergulho, da Cinthia Kriemler. Engajado, relevante, cruel, vívido e hipnotizante. Esse livro mexeu comigo de modo irreversível.
AC: Um escritor marcante. Por quê?
SG: Mia Couto, por sua prosa poética que encanta. Mas há outros: Bernardo Kucinski, pela contundência e estilo; Aline Bei, pela poesia; Guimarães Rosa, pela capacidade de nos colocar naquele sertão que é a representação do mundo, enfim, há muitos bons escritores, e a lista é grande.
AC: Fale um pouco dos livros que já publicou até hoje.
SG: Estou publicando meu nono livro, o romance Estranha entre nós, que se passa nos idos de 1970 no Hospital Colônia de Barbacena. Publiquei ainda O poder da fé (2016), Olho a olho com a Medusa (2017). Orelha lavada infância roubada (2018), Terra da promissão (2019), O verso do reverso (2019), Tocaia do Norte (2020), As três faces da sombra (2020) e A morte é a promessa de algum fim (2021).
AC: Projetos em andamento: o que vem por aí nos próximos meses?
SG: Eu estou revisando alguns romances, encontro-me em entressafra literária por enquanto.
AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do Portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?
SG: Não desistam de se aprimorar, de buscar a excelência do texto, de se inscrever em concursos literários, de insistir nesse mercado editorial ainda um tanto fechado para os escritores iniciantes. O reconhecimento sempre vem, e há leitores para todos os gostos.
AC: Para encerrar, pediria que deixasse aqui uma amostra de seu trabalho como autora.
SG: Deixo um trecho do meu novo romance, Estranha entre nós:
Há os que olham para baixo, encarando o chão com as sujeiras que se encrustam em escombros. Há os que olham para o alto, encarando as belezas que se esparramam em rajadas de vento, em nuvens de algodão com passarinhos de cantos e de cores reluzentes, em horizontes perdidos que devoram caminhos. Há os que se ajoelham e são dignos de pena, há os que nunca se vergam, são esses dignos de admiração, pois costuram os choros em pontos miúdos, cerzindo um tecido de abusos malvistos. Aos vinte e três anos, decidi nunca mais me vergar. Já era hora.
Bem, é isso. Até a próxima!
Colunista do canal LITERATURA
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