Nosso convidado de hoje do AC – Encontros Literários é um escritor que joga nas onze. Certo, admito que a frase é meio clichê. Mas, com certeza, define bem Luís Pimentel. Duvida? Então leia a entrevista exclusiva que preparamos pra você :
ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?
Luís Pimetel: Por acaso. Não tive formação de leitor na infância nem na primeira juventude, pois minha família é muito carente e, em nossa casa, não havia livros. Comecei a ler tarde, quando conheci a biblioteca pública da cidade onde morava, Feira de Santana. Comecei a ler (literatura) por volta dos 15 anos e só comecei a escrever uns quatro anos depois, quando conheci amigos que frequentavam um grupo literário na cidade, e isto me serviu de estímulo.
ArteCult: Um baiano que vive há muito tempo no Rio de Janeiro. O que ainda resta da Bahia dentro de você?
LP: Muito coisa, pois a minha literatura é feita de memória e de saudades, especialmente memórias de infância. Vez em quando revisito a Bahia num conto que escrevo, num poema, num livro infantojuvenil. Recentemente, a visitei, em inspiração, para escrever a última obra que publiquei, este ano, uma novela histórica inspirada na famosa Conjuração dos Búzios, ocorrida na Bahia em 1789. Chama-se Esconjuro! e foi lançada pela Pallas Editora.
AC: Você é autor de biografias de Wilson Batista e Luiz Gonzaga. Que qualidades um bom biógrafo precisa ter?
LP: Essas duas biografias foram escritas em parceria com outros autores. Depois, escrevi mais duas sozinho (Luiz Gonzaga e Ary Barroso) para a editora Moderna. Era um projeto (chamado Mestres da Música no Brasil) voltado ao público jovem, estudantes. Mas acho que não me animarei a voltar a fazê-las; dá muito trabalho e me toma o tempo que prefiro destinado à ficção.
AC: Além de escritor, você também é jornalista. Como concilia as duas atividades?
LP: A atividade jornalística hoje está bem devagar, restringindo-se à publicação de uma crônica ou outra, de pequenas colaborações. Mas no tempo em que vivi intensamente o dia a dia das redações, procurava separar os dois trabalhos com rigor: uma era a paixão; o outro, o ganha-pão. Um precisava do outro para o meu equilíbrio.
AC: Roteirista da Escolinha do Professor Raimundo. Acredito que muitos dos seus leitores não conhecem esse seu lado. Que tal a experiência?
LP: Foi uma experiência importante. Garantiu o sustento e alguma vibração criativa durante um período. Trabalhei em duas fases na Escolinha; na última, até o final do programa. Depois, ainda fiquei uns dois anos no Zorra Total, mas saí e retornei aos jornais. Venho da imprensa de humor, porque comecei na imprensa colaborando com O Pasquim, trabalhei na revista MAD, editei Bundas e Opasquim21 e até hoje gosto de colaborar em publicações humorísticas, como o jornal Acho +Humor.
AC: Bloqueio criativo: mito ou verdade?
LP: Acho que ele existe, sim. Mas precisa ser enfrentado com determinação, vontade, sede criativa e projetos. Ter projetos literários é muito importante, mesmo que não venhamos a executá-los.
AC: Você tem o hábito de escrever todos os dias? Como é sua rotina de escritor?
LP: Não, pois nem sempre posso. Mas tento escrever com frequência e ter sempre algum texto em andamento. Isso nos obriga a trabalhar.
AC: Falando em narrativas curtas agora. Como nasce um conto? E um livro de contos?
LP: Nasce das formas mais variadas, pelos mais diferentes empurrões criativos. O livro nasce quando sentimos que está na hora de reunir essas narrativas.
AC: Em 2020, você lançou seu segundo romance, Alguém vai ter que pagar por isso. Fale sobre ele.
LP: Trata-se do meu primeiro texto literário que nasce mais da indignação do que da contemplação ou da inspiração. Inteiramente calcado na violência urbana, acompanha a luta de indivíduos tentando se equilibrar entre opressões e desespero. Como só foi finalizado no primeiro semestre de 2020, para lançamento no fim do ano, consigo entrar um pouco na pandemia e dedico o romance às nossas primeiras vítimas.
AC: Sei que seu envolvimento com a música também é forte. Fale sobre isso.
LP: A paixão pela música é antiga, paixão de infância. Escrevi bastante sobre música em jornal, fiz livros sobre música, editei publicações sobre o assunto e hoje me arrisco até como letrista, tenho vários parceiros musicais.
AC: Você tem várias obras publicadas em diversos gêneros. Algum carinho especial por alguma delas?
LP: Talvez seja o conto onde me sinta mais confortável…
AC: Você já declarou que ¨escrever para gente pequena é mais gostoso ainda, porque o retorno é quase sempre muito sincero e direto¨. Fale de sua relação com o público infantil.
LP: É uma relação longa também. Meu primeiro livro publicado foi um infantojuvenil, e tenho mais de 50 títulos no gênero, por variadas editoras.
AC: Você está trabalhando em algum projeto atualmente? O que vem por aí nos próximos meses?
LP: Estou sempre trabalhando em vários projetos ao mesmo tempo. No momento, em um juvenil, um volume de contos, outro de poesia, e começando lentamente um romance. Mas não sei quando serão finalizados ou publicados. Lancei livros no ano passado e este ano também.
AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?
LP: Meu conselho não é nada original, repito o que muitos costumam recomendar: leiam bastante e não tenham pressa de publicar.
AC: Para finalizar, deixe aqui uma amostra do seu trabalho.
LP: Deixo um poema, recém-acabado, sobre esses tempos terríveis:
Sobrevivemos?
Um filme que não sabemos como nem quando
acaba, se é que acaba. Não lembramos como
começa. Nem onde estávamos enquanto a tela
escurecia.Um filme passado e presente. Sem qualquer futuro.
Que é todo horror. E que assistimos passivamente
enquanto trememos na sala vazia, em som e fúria
ou dor e ausências, o inferno por dentro.Um filme onde sangra a flor.
Filme-pesadelo que interrompe sonhos;
filme-labareda que incendeia troncos;
Filme-tempestade que apaga brasas.Um filme que não sabemos por inteiro
porque morremos no fim. Mesmo quando
sobrevivemos.
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Até a próxima!
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LIVES
AC Encontros Literários !
Entrevista maravilhosa! César está conduzindo as entrevistas com maestria. Parabéns ArteCult.
Muito obrigado, escritora Rubermária!
Excelente entrevista, como têm sido as demais do ArtCult! Proporciona ao leitor um conhecimento geral da obra de Luís Pimentel, aguçando a curiosidade para a live de sábado. Parabéns ao César Manzolillo pelo direcionamento das perguntas e pela escolha dos entrevistados!
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Muito obrigado, escritora Claudia !