Carlos Nejar é gaúcho de Porto Alegre. É poeta, ficcionista, tradutor e crítico literário. Em 1989, entrou para a Academia Brasileira de Letras. Detentor de importantes prêmios literários, tem livros traduzidos em várias línguas. Confira a entrevista exclusiva que preparamos pra você:
ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?
Carlos Nejar: A literatura me descobriu, depois me inventou.
CN: Não escrevo, sou escrito. O inconsciente raciocina de infância. Há o dom, a obstinação, o imaginar do instinto, a descoberta do universo, que nos descobre. E sempre escrevo à mão, encho os cadernos e, somente após, digito, aperfeiçoando.
AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?
CN: A inspiração vem da vida, do amor, do sofrimento, das estações, do respirar, do mundo. O que não explicamos, explica-se sozinho. E acredito que nosso amor às palavras levou também que elas nos amem. Elas são mais puras do que nós.
ArteCult: Em 1989, você tomou posse na Academia a Brasileira de Letras. Como tem sido a vida de Imortal?
CN: A imortalidade emagrece, porque o mistério emagrece. Ela está repleta de sombras e viventes. Não mudamos a vida, a vida que nos muda . E a imortalidade está na palavra e no povo. A alma está no sopro, como na imagem, o reflexo.
CN: A página branca é inocente, os fantasmas é que tentam nos invadir ou assustar. Mas quando criamos, desaparecem com o amanhecer da palavra.
AC: Um livro marcante. Por quê?
CN: Não há um só livro marcante. Mas muitos. Cito Machado, os contos de Jorge Luis Borges; O processo, de Kafka; Água viva, de Clarice Lispector; Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa; Cem anos de solidão, de García Márquez; Pedro Páramo, de Juan Rulfo (isso na ficção). E na poesia, cito os nomes de Camões. Pessoa, Drummond, Cabral, Jorge de Lima, Valéry, Saint-John Perse , Lautréamont, Lorca, Eliot, Ezra Pound…
AC: Um autor marcante. Por quê?
CN: Já referi no item anterior. Porque todos inventaram a realidade, como a realidade os inventou. E basta.
AC: Ao longo da carreira, você tem atuado como poeta e ficcionista. Alguma preferência nesse caso?
CN: Sou poeta que escreveu ficção. Sou ficcionista que escreveu poesia. Sou teatrólogo, autor infantojuvenil ou ensaísta que emboscou a imaginação. Não sabemos quanto os sonhos nos amam. Mas o poema é o sonho, e o pesadelo, ficção. Mas apenas creio num gênero, o gênero humano. O mais, é ruptura e unidade.
AC: Sei que você também escreve para o público infantojuvenil. Como se relaciona com esses leitores?
CN: A infância ou a adolescência não são imbecis, são altamente inventivas. Há que respeitar também a infância que carregamos e não acaba.
AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do Portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?
CN: Essa resposta deixo aos seguidores do nobre Canal de Literatura. Um abraço do Carlos Nejar.
Bem é isso. Até a próxima!
AC Encontros Literários tem curadoria e apresentação (live) de César Manzolillo (@cesarmanzolillo).