
Em 07 de dezembro de 2024, o escritor e professor Luiz Otávio Oliani esteve em Belo Horizonte para lançamento do seu livro “Vozes, discursos e papiros: alguma crítica”(Penalux, 2023), na Casa do Jornalista de BH. Nesta ocasião, foi recebido por Biláh Bernardes e Rogério Salgado e, durante o café com estes intelectuais, teve a ideia de organizar e produzir , “A REINVENÇÃO DA METÁFORA: AS BODAS DE ROGÉRIO SALGADO” uma linda e – mais do que merecida – homenagem aos 50 anos de atividades literárias de Rogério Salgado.
Trata-se de uma seleção pessoal do autor, de 50 poemas do poeta Rogério Salgado e busca atingir o leitor com as diferentes fases do poeta homenageado, que são “No corpo da palavras”, “Mundo social”, “Amor e prazer”, “Memórias e despedidas” e “Outros” e tem capa da poeta e artdesigner Val Mello e orelhas do escritor e professor formado em Letras pela PUC/Minas Leandro Alves e da poeta e escritora Biláh Bernardes.
Oliani lançará a obra no dia 28 de novembro próximo, das 18h às 22 h, na Coffeebreak Cafeteria, Avenida Henrique Valadares, 17A, Lapa, Rio de Janeiro/ RJ. Durante o evento poetas irão recitar algumas obras de Rogério Salgado e outros. Uma noite de celebração à poesia e para quem ama Literatura Brasileira.

Confira abaixo nossa entrevista com Luiz Otávio Oliani sobre esse lançamento e sua carreira literária!
ENTREVISTA COM O ORGANIZADOR

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?
Luiz Otávio Oliani: A Literatura surgiu na infância com a influência da família. Minha avó paterna lia para mim, minha madrinha me presenteava com livros de Ciências, e meu pai me dava muitos gibis. A escola foi o segundo espaço que me levou à escrita, e não posso deixar de citar Lena Jesus Ponte e Claudia Manzolillo, excelentes professoras que tive no Colégio Pedro II. Elas me orientaram e são, ainda hoje, motivo de inspiração e referência, pois são também grandes escritoras.
AC: Seu papel como poeta, contista, cronista e dramaturgo já é bem conhecido. Agora, você traz à tona a faceta de organizador de obra literária. É essa sua estreia na função? Por que decidiu se dedicar a essa empreitada?
LOO: Aprendi com a saudosa Olga Savary que é importante a um escritor observar e dialogar com a obra dos pares contemporâneos. Por isso, sempre conversei com outros escritores. Assim, a experiência de organizar uma obra literária não é minha primeira atividade neste ramo. Publiquei três livros denominados Entre-textos que saíram em três volumes em 2013, 2015 e 2016 pela Editora Vidráguas, de Porto Alegre. Foram títulos nos quais publiquei 123 poemas meus que dialogavam com poetas brasileiros contemporâneos. Agora, com este título, A reinvenção da metáfora: as bodas de Rogério Salgado, faço uma grande homenagem a um escritor brasileiro cuja carreira literária chegou a 50 anos de trabalho.
AC: No caso da obra A reinvenção da metáfora: as bodas de Rogério Salgado, você é responsável pela seleção, organização e prefácio. Qual dessas tarefas foi a mais desafiadora?
LOO: Todas as três atividades foram desafiadoras, pois cada uma exigia uma postura diferente para finalizar o trabalho. A seleção de poemas não é algo fácil quando se tem um escritor como Rogério Salgado, que publicou muitos títulos. Depois, veio a organização da obra, que é uma criação nova, e prefácio por último. Talvez este tenha sido o mais difícil, por exigir um longo estudo capaz de justificar a obra em destaque.
AC: Na orelha do livro, o professor e escritor Leandro Alves nos lembra que Rogério Salgado “escreveu letras de música, publicou mais de 30 livros individuais, colaborou com jornais e revistas. criou a revista Arte de Quintal; em parceria com Virgilene Araújo criou o Belô Poético. (…) Tanto construiu sua obra quanto abriu caminho para o surgimento de vozes de várias gerações.” Que aspecto da vida/carreira do autor mais chama sua atenção?
LOO: O que mais me chama a atenção na vida/carreira do autor é a humildade que Rogério Salgado possui diante da vida e dos semelhantes. Não se arvora com arrogância ou superioridade, apesar da obra já publicada. É sincero em suas escolhas. Por isso, paga o preço de ser autêntico num mundo extremamente marcado pelas vaidades, pelo egoísmo e pelo estrelismo.
AC: Agora, peço que deixe aqui, para apreciação dos seguidores do ArteCult, um dos poemas de A reinvenção da metáfora: as bodas de Rogério Salgado.
LOO: O poema abaixo foi escrito a quatro mãos e é uma parceria literária.
COMO UMA VELHA CANÇÃO
Luiz Otávio Oliani & Rogério SalgadoEra um poeta
que como eu
amava Chico e Caetano
também amava samba
e rock and roll
amava a vida
que girava as esquinas
buscando não a sina
de ser mais um verso.Texto publicado no livros Palimpsestos, outras vozes e águas, de Luiz Otávio Oliani.
AC: Planos futuros: o que vem por aí nos próximos meses?
LOO: Tenho muitos projetos literários para o futuro, porém só os divulgo quando já realizados. Em suma, a produção de 25 livros publicados aumentará substancialmente.
TODAS AS LOAS, TODAS AS HOMENAGENS A ROGÉRIO SALGADO, EM 50 ANOS DE LITERATURAODAS AS LOAS, TODAS AS HOMENAGENS A ROGÉRIO SALGADO, EM 50 ANOS DE LITERATURA
Pelo organizador Luiz Otávio Oliani*
“Em tempos de Inteligência Artificial, Netflix, GloboPlay, Streaming, tecnologia em expansão, o homem passou a necessitar cada vez mais da arte, para que uma consciência humanizatória seja valorizada nesses tempos de robotização e aniquilamento do ser.A vigência das relações que banalizam a violência, a perda da capacidade comunicativa de argumentação dos jovens e o esvaziamento do pensamento humano caracterizam os tempos modernos, pós-modernos ou ultramodernos. Afinal a época é da liquidez, como nos ensinou o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman. Por isso, a falta de solidez nos relacionamentos cada vez menos duradouros mostra a perda da fixação em pilastras que balizam os comportamentos dos indivíduos.Para piorar o quadro, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han acentua que vivemos em uma sociedade do cansaço altamente marcada pela pressão por desempenho e produtividade profissional. A cena provoca um esgotamento físico e mental, a ocasionar o burnout e diversas doenças psíquicas. No meio do caminho, a tecnologia é peça fundamental para o célere ofício laboral, ajustando uma dependência total dos eletrônicos. Pensar torna-se raro, na subjugação da reflexão na era de Inteligência Artificial. E, se a máquina substitui o homem, para onde caminha o raciocínio humano? Daí o papel da arte com o poder de sensibilização do ser em meio a esse redemoinho de emoções.A perspectiva supracitada justifica a importância e a força da literatura como um meio de resistência cultural.Sendo assim, existem escritores que, por mais obras publicadas que tenham, merecem maior alcance e divulgação na mídia e fora dela, além da celebração da produção artística, em todos os meios de comunicação.Se, no século XX, era possível andar pelas ruas de Copacabana, no Rio de Janeiro, e encontrar Carlos Drummond de Andrade flanando por aí, onde estão os poetas? Teria deixado o poeta de ser um flâneur, ao gosto de Walter Benjamim, na análise da literatura de Baudelaire? Não. Apesar de não existir mais uma aura em relação aos poetas que passam longe de serem nefelibatas (são de carne e osso e pertencem ao mundo real), pois constituem os seres mais antenados na raça, conforme Ezra Pound, eles ainda vivem em repúblicas, aqui, grupos espalhados pelos locais onde transitam. E, se antes foram expulsos da República de Platão, hoje, ainda têm de lutar com unhas e dentes para divulgarem a obra que produzem.Olga Savary, Cairo de Assis Trindade, Helena Ortiz e Rogério Salgado são nomes exponenciais de nossa literatura nacional que, ao meu ver, correspondem ao que há de melhor em nossas letras, nos últimos tempos, o que não exclui outros nomes extremamente significativos.Fica, aqui, uma frustração revelada que deixa de ser um segredo agora, pois, gostaria muito de ter trabalhado, na vida de Savary, Trindade e Ortiz, pela divulgação maior da obra desses autores. Não foi possível, pois a morte deles sobreveio anteriormente a qualquer projeto. Com Rogério Salgado, será diferente, pois aqui há uma homenagem desenhada em vida e, o melhor, com o aval do próprio autor! E, a fim de justificar o projeto em voga, convém fazer algumas citações.Fausto Cunha que organizou o prefácio e a seleção do livro “Melhores poemas de Mario Quintana”, 17ª edição, São Paulo: Global, 2005, explicou um axioma inquestionável, na página 7:
“(…) qualquer antologia (…) resulta em duas antologias: a do que foi incluído e a do que não foi incluído.”Isto posto, toda antologia é sempre passível de críticas, pois reflete a visão particular e preferencial do antologista.E ainda sobre o tema, convém uma passagem relevante da apresentação de Gilda de Mello e Souza, professora de Estética da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, a USP, e autora de vários livros.Na seleção e organização do título “Melhores poemas de Mário de Andrade”, Global, 2003, Gilda esclarece, na página 7, que a finalidade de uma antologia é:
“(…) tornar mais acessível ao leitor, através de uma certa escolha e certa ordenação, a poesia variada e complexa de uma personalidade literária (…) expressiva (…)”.
Assim, o volume em pauta tem como objetivo trazer, ao leitor nacional, e quiçá internacional, a escolha dos poemas de um personagem ímpar dentro da cultura. Eis Rogério Salgado que, apesar de já ter uma obra extensa, não logrou o êxito midiático a que faria / faz jus, com tiragens nas maiores livrarias de todo Brasil, com aumento do número expressivo de leitores.Quanto à estrutura do trabalho realizado, convém esclarecer que os poemas selecionados foram extraídos de livros citados no próprio sumário e nas referências bibliográficas. Não houve, portanto, reorganização ou realinhamento dos textos, no sentido de agrupamento temático em ordem de publicação.Os poemas refletem uma diversidade temática comum a um grande escritor, com abordagens amplas sobre temas recorrentes às literaturas de qualquer país: o amor, a morte, a solidão, a nostalgia, o fluir do tempo, o ofício literário, entre tantos outros.No que concerne ao título deste volume “A REINVENÇÃO DA METÁFORA: AS BODAS DE ROGÉRIO SALGADO”, dada a relevância da obra de Rogério Salgado, esta obra se justificativa por ser o escritor homenageado uma personalidade no cenário cultural.Ouso / ousamos dizer (e uso, aqui, o plural de modéstia) que Rogério Salgado é um gigante das letras.Trata-se de ser humano ímpar, cuja obra exponencial não o transformou em pessoa vaidosa ou prepotente, pois sempre esteve disposto a ajudar os neófitos; posição na qual estive um dia, quando conheci pessoalmente este intelectual e participei do coletânea “Poetas Em/Cena 5: Uma reunião de poemas de poetas brasileiros no VII Belô Poético”, em 2011. Agora, homenageio-o com esta publicação.Um parênteses para citar que Rogério Salgado nunca se contentou em ser apenas um escritor. Vive da literatura, da venda dos livros que produz e das atividades correlatas do ofício.Dedica-se à palavra em toda extensão. Organizou feiras literárias, oficinas de poesia, atuou como editor e organizador / criador de eventos como o In-Sacando a Poesia, e o Belô Poético, tendo este último a parceria da musa, a companheira de toda uma vida, Virgilene Araújo. Ainda hoje escreve para diversos jornais, produz resenhas críticas e se mantém ativo no cenário literário nacional.Rogério classifica os escritores em três categorias. Sintetizou o próprio pensamento, a pedido do prefaciador desta obra, seguindo:“O artista em geral passa por três fases na sua vida. A primeira é no início de carreira, ele é simples e humilde. A segunda é quando ele se torna consagrado e, na maioria das vezes, torna-se arrogante. A terceira é quando ele amadurece, volta a primeira fase, tornando-se simples e humilde.”
Tal pensamento mostra uma coerência de raciocínio e postura de vida diante do ofício literário.Mais especificamente sobre o título, “reinvenção” traz em si uma derivação prefixal, levando-se em conta o ato de se inventar de novo, de encontrar uma nova roupagem ao já existente. Já a referência à metáfora é a essência da chave literária, pois não existe texto poético sem a metáfora.Do “Pequeno Dicionário de Arte Poética”, de Geir de Campos, Rio de Janeiro, Conquista, 1960, é importante destacar a citação sobre trecho de um verbete, à página 127:METÁFORA – Segundo Aristóteles, em sua Poética, “a metáfora consiste no transportar para uma coisa o nome de outra, ou do gênero para a espécie, ou da espécie para o gênero, ou da espécie de uma para a espécie de outra, ou por analogia”.
É tão importante que, em 1982, a canção “Metáfora” de Gilberto Gil veio ao mundo. E se o compositor citou que a lata poderia estar querendo dizer o incontível, diante da plurissignificação da figura de linguagem, cabem os versos:
“(…) não se meta a exigir do poeta / Que determine o conteúdo em sua lata / Na lata do poeta tudo nada cabe / Pois ao poeta cabe fazer / Com que na lata venha caber / O incabível (…)”Sendo assim, diante de tamanha importância da figura de linguagem, a metáfora faz jus ao título do volume de Rogério Salgado.Acerca do vocábulo “bodas”, é importante citar a origem latina “vota” e que, muitas vezes, é associada à promessa realizada no dia do casamento. Aqui, as bodas de ouro celebram os 50 anos de atividades literárias de Rogério, no casamento que ele possui com a palavra, uma das grandes paixões da vida desse carioca mineiro. Tudo por meio de um título festivo, longo, à altura das comemorações, diferentemente de outros, como “Trilhas”, “Completa ceia”’, “Antes que a lua enfarte”, “Volúvel fado” “Poeta Ativista”, entre muitos outros.Quanto à estrutura do livro em voga, convém dizer que a obra foi estruturada em cinco partes. Torna-se impossível comentar a seleta total de textos que compõem o volume, pois isto privaria os leitores do encantamento e da beleza dos poemas. Mesmo assim, a ousadia é comentar alguns fragmentos, alguns versos de poemas representativos. Na seção de abertura, “No corpo da palavra”, é possível perceber um eu lírico engajado com o vocábulo até a medula. Trata-se da parte metalinguística na qual o ofício da criação literária prepondera.A intertextualidade está presente e Rogério Salgado dialoga com Carlos Drummond de Andrade em vários textos. No antológico “Poema por apenas ter dito… (com sua licença, Drummond)”, inspirado em “Poema de sete faces”, surgem os versos: “Quando nasci / alguém deve ter dito: — Vai cara, ser poeta na vida!”“Mundo social” é a segunda parte do livro em que há a preocupação com olhar fraterno e humano com nossos semelhantes. Aqui, o eu lírico se preocupa com genocídio, a democracia, a miséria, a desigualdade social, a luta pela liberdade e pelos direitos essenciais dos indivíduos.Um exemplo emblemático é “Inocência na praia”, texto dedicado ao pequeno Aylan Kurdi, encontrado morto dia 02 de setembro de 2015, na praia da Turquia, após naufrágio da embarcação em que fugia da cidade Síria de Kobane, do qual alguns versos são extremamente impactantes:
“Nos gabinetes / homens de ternos ou fardas / dirigem os rumos das nações / poetas, filósofos, teólogos, antropólogos…/ teorizam, teorizam, teorizam / enquanto anjos adormecem na praia / à espera que as soluções / desburocratizem e saiam do papel.”
Rogério Salgado atualizou o clássico poema “Não há vagas”, de 1963, no qual José Ribamar Ferreira criticava as condições de vida da população em meio ao período da ditadura militar. Assim, nasceu a homenagem intertextual com “O que cabe no poema (com o pensamento em Ferreira Gullar)”. Sendo assim, é impossível não se encantar com o desfecho dado a este poema:
“no poema cabe muito: / a preocupação alheia / a necessidade de se doar / e se fazer irmãos numa comunhão com Deus / não importando se acreditamos ou não. // No poema cabe a humanidade.” “Amor e prazer” é a terceira parte que valoriza a relação do eu lírico com os sentimentos mais íntimos, desde a valorização da mulher amada, ao sexo e à plenitude da relação a dois. Para tanto, há intenso trabalho vocabular com palavras ou expressões inerentes a este campo semântico, quais sejam: “pernas”, “tesão”, “língua”, “nudez”, “bico do seios”, “mãos”, “excita”, entre outras.Merece destaque “Parafraseando Fernando Pessoa”, singelo poema que intertextualiza com um gigante da língua portuguesa: “O amor só vale a pena / se a cama não for pequena.”“Memórias e despedidas” valoriza a relação do homem com o tempo e tudo o que lhe é inerente: o saudosismo, as referências ao passado, a morte pessoal e de pessoas queridas, a fé, a efemeridade do tempo, entre outros temas correlatos. Com epígrafes de Georg Harissson, Júlia-Lennon/ McCartney, Wagner Torres, além de intertextualidade com Drummond , existe um lamento fúnebre na seção quanto às vítimas do rompimento da barragem de Fundão, que devastou distritos de Mariana/MG, em novembro de 2015. Há, também, sinalizações em homenagens a personalidades como Tia Cacilda, Fernanda Nicácio, Graça Araújo, Adair José, Dalmo Saraiva e Glória Salgado, mãe do poeta, citada em dois poemas memoráveis. Um deles é “O piano que mamãe tocava”, do qual alguns versos eclodem em profunda beleza: “Venderam o piano que mamãe tocava / a sala hoje, encontra-se vazia. // (…) mas a nostalgia embala a criança / que amadureceu criança / nas lembranças daquele tempo.” “Outros”, parte final da obra, traz textos de homenagem, além de escritos em parceria com escritores, entre os quais o autor deste prefácio, a companheira Virgilene Araújo, e obras que oscilam do concretismo, ao neoconcretismo até a poesia sonora, revelando um viés altamente criativo do autor.Por fim, neste aniversário literário, o volume em pauta tem este condão laudatório de homenagens a este grande vulto literário, essa personalidade ímpar que é Rogério Salgado, a quem todas as loas e homenagens são devidas.”
COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA
“Ao escrever esta orelha para o livro A reinvenção da metáfora: as bodas de Rogério Salgado, com poemas cuidadosamente escolhidos pelo também poeta Luiz Otávio Oliani, busquei uma antiga entrevista de Paulo Leminski. Nela, o curitibano dizia: “Aos 17 anos, qualquer um é poeta. Homem ou mulher. Quero ver o poeta continuar fazendo poesia aos 25, aos 30, aos 40, aos 50 ou sessenta anos. Quando as preocupações da vida são bem mais urgentes que a poesia.”Ao escrever esta orelha para o livro A reinvenção da metáfora: as bodas de Rogério Salgado, com poemas cuidadosamente escolhidos pelo também poeta Luiz Otávio Oliani, busquei uma antiga entrevista de Paulo Leminski. Nela, o curitibano dizia: “Aos 17 anos, qualquer um é poeta. Homem ou mulher. Quero ver o poeta continuar fazendo poesia aos 25, aos 30, aos 40, aos 50 ou sessenta anos. Quando as preocupações da vida são bem mais urgentes que a poesia.” Muitos começam, poucos continuam. Rogério Salgado continuou. Ao longo de cinquenta anos de estrada, atravessou tempestades: a desvalorização do livro em um mundo pautado por likes e visualizações, a ignorância persistente nos “donos do mundo”, que governam sem leitura, o desinteresse que tantas vezes sufoca a palavra poética. Apesar de tudo, o poeta acreditou. Escreveu letras de música, publicou mais de trinta livros individuais de poesia, colaborou com jornais e revistas. Criou a revista Arte Quintal; em parceria com Virgilene Araújo, criou o Belô Poético; saiu de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro; fez história em Belo Horizonte. Tanto construiu sua obra quanto abriu caminho para o surgimento de vozes de várias gerações. Rogério sabe, com a lucidez dos grandes, que a poesia é uma das mais solenes “inutilidades que não precisam se justificar”, como disse Paulo Leminski. Não dá dinheiro, não resolve injustiças, não elimina os problemas do mundo. Mas, como a amizade, o amor, o pôr do sol ou o arco-íris, é impossível viver sem ela. Nos poemas deste livro, o eu lírico transita do íntimo ao coletivo. Às vezes amoroso, saudoso, delicado. Outras vezes político, engajado, resistente. Luiz Otávio Oliani soube, com rara mestria, selecionar versos que não apenas falam, mas dão voz. Se a sociedade tem um grito preso na garganta, se o mundo cruel e capitalista afasta nossos olhos do próximo e do amor, a figura do poeta se torna ainda mais necessária. De minha parte, com orgulho, saúdo esta obra de valor reluzente, feita para durar. Boa viagem aos leitores que se aventurarem por estas páginas.”
Leandro Alves, professor e escritor, formado em Letras pela PUC / Minas. Autor do blog “Preciso de uma crônica” e colunista semanal do site “Crônicas Cariocas”)
“Um poeta caminha pela calçada e, por ser somente um poeta, não é notado. Mas o poeta escreve. E celebra bodas de ouro como escritor.Um poeta caminha pela calçada e, por ser somente um poeta, não é notado. Mas o poeta escreve. E celebra bodas de ouro como escritor. “Escrevo, logo existo!” É um dos poemas de Rogério Salgado, escolhido pelo curador Luiz Otávio Oliani para este livro-homenagem. Rogério escreveu e escreve muito! Escreve sobre quase tudo. Sobre fé, afirma: “É preciso escrever um poema // que possa reconciliar-nos com Deus.” Não é só fé religiosa; é fé em si: “(…) quero ser humano, meramente humano (…) // e isso é o que me basta.” Basta porque, além da vida, sobrevive a palavra. A palavra que sobrevive ao poeta. Palavras tão perfeitamente expressas nos textos escolhidos para este livro.Em Rogério Salgado, “Cada partícula (…) é poesia (…) //cada lágrima (…)// sai (…) salgada nos versos.” E, antes que a lua enfarte, afirma Salgado, “(…) quero ser só, devoto / de mim mesmo, nada mais.” Luiz Otávio Oliani, nesta homenagem em vida ao poeta, descobriu e nos apresenta um Rogério Salgado que transita por várias nuances poéticas: escreve para os críticos e produz poemas visuais com maestria; aqui veremos poemas minimalistas e, também, indignados protestos contra todo tipo de ditadura, estas que sufocam desejos, liberdades e sonhos. Mas o poeta reivindica liberdade, aquela que permitirá a certeza de que “(…) gritaremos nas montanhas / e deixaremos nossas vozes / nossos gritos no ar / mesmo que mordaças nos impeçam de gritar” porque “Democracia / rima com povo. / Liberdade é poesia…” (Reticências…) e “(…) no poema cabe muito (…) // No poema cabe a humanidade.” Um poeta caminha pela calçada e caminha nas páginas deste livro onde o reconhecimento de outro grande poeta traçou caminhos para receber o melhor da sua poesia.”
Biláh Bernardes, Escritora e atual presidente da AJEB-MG, membro da ACADSAL – cadeira 35. Publicou livros de poesia, literatura infantil e romance.
Em 07 de dezembro de 2024, Luiz Otávio Oliani esteve em Belo Horizonte para lançamento do seu livro “Vozes, discursos e papiros: alguma crítica”, Penalux, 2023, na Casa do Jornalista de BH. Nesta ocasião, foi recebido por Biláh Bernardes, Rogério Salgado e, durante o café com estes intelectuais, teve a ideia de organizar e produzir o livro “XXXX” , uma grande homenagem aos 50 anos de atividades literárias de Rogério Salgado. A eles, o meu muito obrigado por esta parceria, estendida também à capista Val Mello e ao editor Jorge Ventura. A Virgilene Araújo, companheira do poeta Rogério salgado, pelo apoio ao projeto
SOBRE LUIZ OTÁVIO OLIANI
LUIZ OTÁVIO OLIANI cursou Letras e Direito. É professor e escritor. Publicou 25 livros, incluindo poesia, conto, crônica, teatro, literatura infantojuvenil e crítica literária / ensaios. Participa de mais de 400 livros coletivos. Consta em mais de 700 jornais, revistas, alternativos. Em 2017, a convite de Mariza Sorriso, representou o Brasil no IV EPLP (Encontro de Poetas da Língua Portuguesa) em Lisboa. Recebeu o título de “Melhor Autor Apperjiano 2019”, em reconhecimento no conjunto da obra em verso, prosa e drama. Desde 2020, é o Diretor de Comunicação Social da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro). Foi citado como poeta contemporâneo no livro História da literatura brasileira: Da carta de Caminha aos contemporâneos, Carlos Nejar, 4ª edição, revista e ampliada, São Paulo, Noeses, 2022. Em 26 de novembro de 2024, a Academia Luso-Brasileira de Letras instituiu o Prêmio Luiz Otávio Oliani na categoria Minicontos, sendo o concurso anual a partir dessa data. Recebeu mais de 100 prêmios literários. Possui textos traduzidos para inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, holandês, romeno e chinês.
SOBRE O HOMENAGEADO, ROGERIO SALGADO

ROGÉRIO SALGADO é natural de Campos dos Goytacazes (RJ). Em março de 1975 escreveu seu primeiro poema e iniciou sua participação no Teatro Escola de Cultura Dramática. Em 1979 criou com outros poetas, o Grupo Abertura de Artes e Estudos, escrevendo a peça teatral Retorno a 200 metros, em parceria com eles. Em 1980, com a morte da mãe, mudou-se para Belo Horizonte/MG. Em 1983 criou com Ecivaldo John e Virgínia Reis, a revista Arte Quintal, um dos mais importantes veículos culturais da época, que logo teve a adesão do poeta Wagner Torres. Em 1993 criou o projeto “In/Sacando a Poesia”, que consistia em colocar poemas dentro de saquinhos de embalar pães nas padarias, recebendo pelo projeto, o Prêmio Capital Nacional-Categoria Poesia, em Aracaju/SE, em 1998. Em 1994 teve seu conto “O Falso Autor” adaptado para o episódio “O Legado”, do programa Você Decide, da Rede Globo de Televisão. Criou e realizou entre 2005 e 2014 com Virgilene Araújo, o Belô Poético – Encontro Nacional de Poesia de Belo Horizonte, evento este que reunia na capital mineira, poetas de diversos estados do país e do exterior. Também com Virgilene Araújo, idealizou e realizou o projeto Poesia na Praça Sete, que teve cinco edições, projeto esse realizado com os benefícios da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Tem textos publicados em jornais do Brasil e do exterior. Publicou mais de 30 livros títulos, sendo o último “Antes que a lua enfarte” em 2024.
Contatos: poetarogeriosalgado@yahoo.com.br
SERVIÇO

LANÇAMENTO do livro “” . Uma seleção, organização e prefácio de Luiz Otávio Oliani
- Onde: Coffeebreak Cafeteria, Avenida Henrique Valadares, 17A, Lapa, Rio de Janeiro/ RJ
- Quando: 28/11, das 18h às 22h









