A Coisa: um jogo cênico entre o riso, o caos e a lucidez

 

Por: Cristiana Lobo

 

O espetáculo A Coisa reestreia no dia 04 de julho, no Teatro Ipanema, e fica em cartaz até 03 de agosto, com sessões às sextas, sábados e domingos, sempre às 20h. Em sua terceira montagem, a comédia distópica — que mistura tragédia, mistério e galhofa — volta à cena com atuação e direção de André DaleGeorge Sauma e Leandro Soares, nomes conhecidos do cenário artístico brasileiro que assinam juntos a idealização do projeto. Após duas temporadas com sessões lotadas, a montagem retorna com fôlego renovado pelas críticas positivas, que destacam o tom provocador e a metalinguagem bem trabalhada.


Com quase duas décadas de trajetória cada, os três atores seguem em plena atividade também fora do palco. George Sauma integra o elenco do aguardado remake da novela Dona Beija (estreia ano que vem) e do longa A Própria Carne, dirigido por Ian SBF (Porta dos Fundos), com estreia prevista para outubro . André Dale interpreta Gonzaguinha no longa Homem com H, em cartaz atualmente no cinema e na NetflixLeandro Soares, premiado roteirista de Vai Que Cola, está escrevendo o roteiro do filme “Se eu Fosse Você 3”, que será dirigido por Anita Barbosa.  Além da atuação e direção, Leandro também assina a dramaturgia de A Coisa (que conta com co-autoria de André Dale).  O talento e a versatilidade desse trio sustenta o ritmo vigoroso da peça e proporciona um olhar singular sobre o fazer teatral e os limites entre realidade e ficção.

 

André Dale, Leandro Soares e George Sauma. Foto: Lua Blanco


Na entrevista a seguir, concedida ao portal ArteCult, os três artistas revelam bastidores do processo criativo, falam sobre a construção coletiva da direção e refletem, com humor e franqueza, sobre os dilemas que atravessam a peça — e a própria vida. Um convite para o leitor mergulhar na mente de quem faz teatro pensando o agora, em tempos de crise e reinvenção, quando a ironia também é resistência.

 


1) No espetáculo “A Coisa” o seu personagem contracena com sua própria imagem. Você acha que o universo das redes sociais criou uma ditadura da imagem que engole o artista?

André Dale. Foto: Lua Blanco

André Dale: Acho que é complexo. A princípio eu responderia que sim, porque a forma como um ator precisa se relacionar com a imagem hoje – como se ele fosse uma marca e precisasse vender alguma coisa sobre o próprio bem-estar e uma vida glamurosa – sem dúvida é opressora, porque o artista precisa falar sobre o que é secreto no ser humano, do oculto do indivíduo, e não dessa vida plástica. Mas, como estamos falando de teatro, também poderia dizer que o teatro é o lugar onde a gente faz a inversão disso tudo. “Ah, esse mundo me engole?” Então, calma aí, que eu vou engolir ele de volta e transformar numa cena, que ressignifica tudo e revela pra gente essa prisão. É sofrido se enxergar na cena mas, em alguma medida, tem um alívio, tem uma catarse.

2) Você é professor de yoga, além de ator, autor e diretor. O que a prática do yoga mudou no seu jeito de atuar e dirigir? Há quanto tempo você pratica yoga?

André Dale: Eu comecei a praticar meditação aos 20 e me formei como professor de yoga aos 26, e isso modificou muito o ator que eu sou. O yoga trabalha com a capacidade de presença, técnica para saber respirar em situações de estresse, e o palco, ou um set de filmagem, são lugares com um nível de estresse muito intenso – que a maioria das pessoas não gostaria de estar, mas que por algum motivo a gente gosta. O yoga me deu um método para trabalhar com esse estresse e poder mergulhar verticalmente, quando eu preciso buscar algo dentro de mim, sem que eu me perca no caminho. Tem que saber voltar. E, como diretor, se você não trabalha o interno, você não consegue ficar leve. Eu procuro usar o yoga para trazer alguma leveza para o processo de criação, que não é leve por natureza.

3) Você participa de projetos bem variados como longas, seriados para TV, musicais, clássicos do teatro e agora “A Coisa”, uma peça independente e totalmente contemporânea. Quais são as características em um projeto que inspiram a sua participação?

André Dale e George Sauma. Foto: Ricardo Brajterman

George Sauma: Cada projeto tem a sua característica interessante que me atrai. Às vezes é um diretor, ou um personagem, ou uma oportunidade de visibilidade. No caso de “A Coisa” é uma realização pessoal e ao mesmo tempo coletiva. Uma maneira de se fazer possível no mercado falando e fazendo o que acredito com amigos de longa data que eu admiro. “A Coisa” é o tipo de projeto que fazemos porque achamos importante e porque é importante para nos alimentar como artistas.

 

4) Você já fez parte do elenco de peças e musicais com equipes numerosas. No espetáculo “A Coisa” são três atores em cena, vocês atuam e dirigem. Como acontece essa direção? Qual é a diferença entre trabalhar desta forma e ter um diretor olhando de fora? O que foi mais interessante neste processo?

George Sauma: O processo foi bem desafiador porque nos exigiu uma troca coletiva o tempo todo. Tivemos que estar atentos ao trabalho do outro e ao resultado final para chegar onde queríamos como grupo. Ao mesmo tempo é muito prazeroso observar como alcançamos um espetáculo que comunica, faz pensar, diverte, provoca e inspira. Esse é o objetivo da arte, na minha opinião. E fazer com meus amigos é muito emocionante.

5) A peça “A Coisa” questiona de forma crítica e bem-humorada o sentido de estar em cena. Você acha que esse sentido de “estar em cena” mudou muito nos últimos tempos devido às transformações das relações intermediadas pelas redes/tecnologia que temos presenciado nas últimas décadas? Por que você escolheu trazer essa reflexão agora?

Leandro Soares. Foto: Ricardo Brajterman

Leandro Soares: Inicialmente foi acidental. Depois convergiu com o espírito do tempo e tudo se encaixou. Porque “A Coisa” é um texto que eu tinha escrito em 2006. Ali por volta de 2010 eu cheguei a voltar nele, tentei montar, não rolou. Até que no ano passado, quando André, George e eu decidimos fazer uma peça juntos, eu propus uma leitura desse texto como aquecimento, para uma série de outros que iríamos ler. Foi uma noite catártica, não me lembro de termos rido tanto juntos nos últimos anos. E aí decidimos que aquela seria a peça. A surpresa foi ver que o assunto não só não tinha ficado datado, como tinha se fortalecido nos últimos anos. Porque “A Coisa” trabalha com aquilo que o teatro tem de mais essencial, e que nenhuma tecnologia pode tomar dele: a presença. Quando as pessoas vêm nos ver, elas têm uma experiência orgânica, offline e presencial. Passam 75 minutos rindo sem parar, onde o riso também é uma porta para a reflexão.

6) Você é ator, formado em direito e escreveu o roteiro de programas que se tornaram uma referência no humor como “Vai que Cola”, que rendeu os prêmios Extra e Abra de Roteiro. Agora você está escrevendo três longas e vai voltar ao palco com “A Coisa”, um texto divertido, porém reflexivo e independente. A que você atribui um repertório tão amplo de linguagem e ideias? Quais são as suas referências para criar filmes e peças com personagens e enredos tão diferentes entre si?

Leandro Soares: Acho que o repertório amplo num aspecto pragmático se deve a uma necessidade de estar sempre trabalhando, num mercado que quando a gente para, a gente corre o risco de sumir. Mas num aspecto mais artístico e mais profundo, isso reflete a minha paixão por muitos assuntos diferentes e linguagens diversas. As minhas referências são muitas, mas talvez as mais determinantes sejam os desenhos animados (que me formaram) e a Commedia Dell’Arte, talvez a maior das minhas paixões na faculdade de teatro (junto com Shakespeare e Oscar Wilde). Mas como estamos no século XXI, claro que também gosto muito das séries. E sempre aquelas com alguma coisa estranha, diferente, disruptiva; aquelas que têm a presença do sobrenatural, da fantasia ou da ficção científica. Minha atual série preferida, por exemplo, é Ruptura.

CONFIRA MAIS IMAGENS DO ESPETÁCULO

CONFIRA GEORGE SAUMA CANTANDO “A COISA EM SI”, MÚSICA ORIGINAL CRIADA PELO ARTISTA PARA A PEÇA:

SOBRE O ESPETÁCULO “A COISA”

“A Coisa” é um espetáculo teatral que celebra, questiona e provoca o próprio teatro, explorando seus elementos constitutivos – direção, dramaturgia e atuação – de forma lúdica e reflexiva. Dividido em três atos (“A Coisa”, “O Enigma” e “A Máscara”), a obra mergulha em situações absurdistas levadas ao extremo: dois velhos amigos descobrem que nunca foram donos de suas próprias ações; dois desconhecidos se envolvem num misterioso jogo de segredos; e três atores precisam resolver o dilema de um deles, que perdeu sua expressão facial. Com um texto contemporâneo, repleto de humor e reviravoltas, o espetáculo tensiona as fronteiras entre realidade e ficção, convidando o público a refletir sobre a natureza efêmera e transformadora do teatro, assim como a vida.

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FICHA TÉCNICA

Concepção, Direção e Atuação: André Dale, George Sauma e Leandro Soares
Dramaturgia: Leandro Soares
Co-autoria: André Dale
Canção Original: George Sauma
Desenho de Luz e Operação: Clarice Sauma
Direção Musical e Operação de Som: Pedro Nêgo
Treinamento de Commedia Dell Arte: Érida Castello Branco
Coreografia: Rafael Defeo
Cenário: Julia Marina
Projeção e Edição de Videoarte: Pedro Thomé
Fotografia: Ricardo Brajterman
Programação Visual: Welder Rodrigues
Assistência de Produção, Visagismo e Mídias Sociais: Lua Blanco
Assessoria Jurídica: Ana Melman
Assessoria de Imprensa: Cristiana Lobo
Produção Executiva: Rodrigo Cavalini
Produção Geral: Paula Furtado

Sobre os idealizadores, diretores e atores:

André Dale possui 20 anos de carreira profissional no segmento da cultura. É diretor, ator e autor de peças e roteiros audiovisuais. Em 2007, roteirizou e dirigiu o filme “Rafa” e em 2020 integrou o Projeto Miragem, onde dirigiu e estrelou diversos curtas-metragens. Pela Lei Aldir Blanc para o Setor Cultural, roteirizou, dirigiu e produziu o filme “Romeu&Julieta.20” com a Cia. Algum Banquete em 2020. No teatro, dirigiu “Tetéia”, escrita por Érida Castello Branco, com temporadas no Rio de Janeiro. Escreveu e dirigiu a peça “Aramis e Júlia – uma historinha qualquer”, encenada no Teatro O Tablado e no Teatro Laura Alvim. Com André Pellegrino, escreveu e dirigiu o espetáculo “Namastê, a Jornada do Herói”, monólogo encenado pelo próprio, em cartaz por três anos no Rio de Janeiro. Recentemente, dirigiu a peça “Todo – As Sete Leis do Hermetismo”, que estreou no Teatro de Arena, em São Paulo, escrita por André Santana e Rodrigo de Arruda.

@andredale_

 

George Sauma é músico, ator e sapateador. No teatro, ganhou o Prêmio APTR de “Melhor Ator Coadjuvante” com a peça “A Importância de Ser Perfeito”, de Oscar Wilde e dirigida por Daniel Herz; e os prêmios CBTIJ e Zilka Salaberry de “Melhor Ator” com a peça “Pedro Malazarte e a Arara Gigante”, de Jorge Furtado e dirigida por Débora Lamm. No cinema, destaca-se sua atuação no filme “Tim Maia” (2014), de Mauro Lima, no qual interpretou Roberto Carlos; e no filme “Rasga Coração” (2018), de Jorge Furtado. Na televisão, ficou conhecido por seu personagem Tatalo em “Toma Lá, Dá Cá”, seguido por papéis em “Lado a Lado” e “Mister Brau”. Integrou o elenco do novo “Zorra” de 2014 até seu encerramento em 2020. Como compositor, destaca-se sua música “Se Não Tiver Amor” no tema de abertura da série “Pais de Primeira”, e também como parte do disco “O Ouro do Pó da Estrada” (2018) de Elba Ramalho. Em 2018 protagonizou a série “Pais de Primeira”, de Antonio Prata, ao lado de Renata Gaspar e em 2019 participou do reality musical “Popstar”. Recentemente, ganhou o Prêmio Bibi Ferreira como ator coadjuvante no musical “Alguma Coisa Podre” no papel de Shakespeare e interpretou Waly Salomão no longa “Meu nome é Gal”, cinebiografia da cantora Gal Costa.

 @georgesauma

 

Leandro Soares é ator, autor e tradutor. Bacharel em Direito pela UERJ, cursou Teoria do Teatro Unirio fez parte d’O Tablado, onde atuou em “O Rapto das Cebolinhas” (2008) e “A Menina e o Vento” (2012) de Maria Clara Machado. Foi aluno de profissionais da cena internacional como Judith Malina, Anatoli Vassiliev e Jean-François Dusigne. Estreou na TV com “Morando Sozinho” (2010) série que criou e protagonizou no Multishow. Criou “Vai Que Cola” (2013), vencedor do Prêmio Extra (2015) e do Prêmio ABRA de Roteiros (2017). Escreveu ainda os dois longas baseados no seriado, que levaram mais de 4 milhões de espectadores ao cinema. Na NETFLIX foi criador e showrunner da série “Nada Suspeitos” e roteirista do longa-metragem “Carga Máxima”. No cinema, protagonizou o longa “Tamo Junto” (2016) de Matheus Souza; integrou o elenco do longa “Não Vamos Pagar Nada” (2020) de João Fonseca; e do longa “Derrapada” (2023) de Pedro Amorim. No teatro, traduziu, adaptou e integrou o elenco de “A Importância de Ser Perfeito” (2013) de Oscar Wilde, vencedor dos prêmios Shell, Cesgranrio, APTR e FITA. Traduziu e adaptou “Ubu Rei” (2017) de Alfred Jarry, protagonizada por Marco Nanini, com direção de Daniel Herz.

@leandrosoaresx

SERVIÇO

A COISA

  • Onde: Teatro Ipanema Rubens Corrêa. Rua Prudente de Morais, 824, Ipanema
  • Quando: Temporada de 4/7 a 3/8. Sexta a Domingo, às 20h
  • Classificação 16 anos
  • Duração: 70 minutos.
  • Ingressos: R$60 e R$30 (meia)
  • Link vendas: https://linktr.ee/acoisateatro

 

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