As notícias do fim da guerra não trouxeram tanta alegria como se pretendia. Uma incerteza ficou no ar. Uma sensação de que não se dizia toda a verdade. Pisava-se o chão, desconfiado do chão.
O cenário da destruição acirrou os desafetos. Expunha feridas. A ternura foi enterrada nos acenos frios, por aqueles que desaprenderam a intensidade do abraço.
Retornaram ávidos e urgentes, esmagando a Natureza contra as limites que ultrapassou. Tentando erguer novas paredes. Engolindo o choro e o luto interditados. Conscientes da impotência. Gastos, frágeis.
Nenhum dia de sol, nem o vento na janela foi capaz de restaurar os sonhos afogados por interesses políticos, econômicos. A memória dos que partiram sem rituais atordoava, deixando corações desaquecidos. Os lugares vazios à mesa da tranquilidade. As tradições protegidas sob as lágrimas de saudade.
Ficaram, cara a cara, com a verdade sobre o que eram. Moeda de troca. Cobaias. Massa que se manipula pelo sim ou pelo não, para o bem ou para o mal, a vida ou a morte, conforme o benefício. Ou o calor da discussão. A ilusão de a alma humana evoluir evaporou nos primeiros combates, adiando o projeto de espiritualização da vida. Voltaram os espíritos a seu estado bruto.
Nem valores éticos, nem religião: nada restaurou a fé, nos primeiros dias. Os primeiros reconhecimentos, dias após, foram recriando identidades. Humanas e divinas. Lendas de heróis, histórias de mártires, vidas de santos.
Amizades interrompidas pela morte. Diluídas em embates ideológicos. Romances com finais infelizes. Para muitos, faltava energia para novos encontros. Queriam o espaço do silêncio, da introspecção, onde moravam certezas. Buscavam conexão com um mundo que não existia mais.
Não foi a luta que lhes adoeceu o espírito; foi o desamor. Não foram os mortos mas, sim, os sobreviventes que partiram, atingidos na alma e na voz. Onde o trauma se instalou, não floria a esperança.
O verbo fora esmagado pela força.
Em algum lugar, ideias brilhavam mas não era ali.