Das táticas para conquistar um homem, aprendidas na adolescência, só guardei o conselho mais conveniente: seja você mesma. Minha carreira de conquistadora foi bem modesta. Nunca tive muita habilidade no jogo da sedução. Se era assim com a solteirice sendo um produto de alto estoque no mercado, imagina agora que sou, digamos, menos jovem.
Voltei à selva há uns anos, destreinada, depois de uma separação. Nem a maturidade me fez achar o jeito. As regras mudaram drasticamente e se, antes, eu jogava mal, agora sequer sei jogar.
Para começar: as pessoas vivem com a cara nos celulares. Eu sigo analógica. Nem adianta escolher a presa, olhá-la fixamente ou pedir uma informação. Mal se desviam os olhos da tela.
Por isso, minha amiga não se conforma de eu ainda não ter aberto uma conta num site de relacionamento. Diz-me que é assim que se namora atualmente. Inclusive, é o caminho mais democrático para os tímidos. Bem às claras o que se quer: sexo, amizade, romance ou namoro. Economiza tempo. Ninguém mais se conhece fora do aplicativo, parece.
Não sei se é verdade. Mas sigo frustrada. Retoco o batom, ajeito o cabelo, limpo as lentes dos óculos mas, nos ambientes que frequento, ninguém parece estar atento ao outro.
Devo ser a culpada. Resisto à tecnologia. Não sei me autopromover. Nas redes sociais, possuo poucos leitores. Minhas páginas não viralizam. Imagina um perfil de relacionamento, sem manha para o negócio? Tirando aqueles falsos militares americanos ou falsos artistas consagrados, alguém mais arriscaria um bate-papo? Na minha humilde e não reacionária caretice, confesso: não me agrada fazer parte de um cardápio de pessoas disponíveis e ser folheada entre várias opções. Compras no mercado do ifood ou seleção de possíveis encontros no Tinder, o movimento dos olhos e dos dedos é o mesmo, percebem? Tenho ainda algum pudor.
Chamem-me de jurássica, acho-me saudosista. Para onde foi a cumplicidade do olhar, as coincidências que aproximam, os pretextos esfarrapados para os primeiros toques (a mão na mão, a mão no braço, o abraço demorado)? O buquê de flores? E os perfumes? Certa vez, um rapaz me emprestou sua luva na faculdade e carreguei seu cheiro comigo durante uma tarde inteira. No fim do dia, eu sorria sozinha, associando o aroma ao seu sorriso maroto. Apaixonei-me, claro, com a fugacidade dos meus 17 anos.
“Ai, como você é antiga!”, minha amiga não tem paciência comigo. Romantismo acabou no século 20. Preciso atualizar-me. Esforço-me. Pego a dica: marcar encontro em local público, com mais pessoas. A boa vontade termina. O que é isso, gente? Primeiro encontro romântico sob tática policial?
Fico com medo. Na minha fantasia, encontro com “Jack, o Estripador”, deixo meu filho órfão, a casa desarrumada, a roupa na corda e umas cem análises pendentes no trabalho. Viro fofoca na repartição.
Sei, é preconceito. Não há tanta diferença entre conhecer alguém no aplicativo, numa balada ou num bar. O mergulho é sempre no desconhecido. Tenho amigos que se encontraram em site de relacionamento e vivem histórias muito bacanas, relações duradouras.
Só sei que isso de namorar… dá um trabalho, não?