A exposição traz a pesquisa de oito criadores que exaltam a história dos “tesouros do design” presentes no cotidiano de diferentes províncias japonesas em uma cultura e estilo de vida desenvolvidos desde o período Jomon, há 10 mil anos
Oito criadores japoneses de diferentes áreas de atuação terão suas pesquisas reunidas na mostra “Design Museum Japan: investigando o design japonês” na Japan House São Paulo, de 28 de março a 11 de junho. Por trás de cada uma das investigações estão experiências e histórias coletadas em sete províncias japonesas, visitadas pelos criadores de destaque internacional como Akira Minagawa, Reiko Sudo, Tetsuya Mizuguchi, Tsuyoshi Tane, Kenya Hara, Koichiro Tsujikawa, Kumiko Inui e Kumihiki Morinaga. Organizada pela NHK, emissora pública do Japão, juntamente com a NHK Promotions e NHK Educational, empresas do grupo, a mostra faz parte do projeto de itinerância global da Japan House, iniciando em São Paulo, seguindo para Los Angeles e Londres, na sequência.
“Quando pensamos na cultura nipônica, uma das primeiras referências que surgem é o design, porém não há hoje um museu dedicado exclusivamente a este assunto no Japão. Nesse sentido, essa exposição cumpre um papel importante de reunir diferentes itens presentes no cotidiano do japonês a partir do olhar desses renomados criadores, que muito diz a respeito de aspectos atemporais da vida local, da paisagem, da história de diferentes regiões do país, mostrando que basta um olhar curioso para encontrar o design em quase tudo o que nos cerca. A ideia é que a Design Museum Japan possa crescer e mais províncias e ‘tesouros do design’ sejam contemplados com o tempo”, explica a produtora-chefe da NHK, Kyoko Kuramori, responsável pela mostra na JHSP.
Para Natasha Barzaghi Geenen, Diretora Cultural da Japan House São Paulo, “as histórias trazidas nesta exposição são uma descoberta de riquezas da cultura e do cotidiano japonês pela ótica de grandes artistas. O conceito da Design Museum Japan é muito criativo e pode ser uma importante fonte de inspiração no Brasil. Temos em comum um vasto campo de produção nessa área e pessoas extremamente criativas que não necessariamente são conhecidas por um grande público ou mesmo reconhecidas como designers. Promover o reconhecimento e principalmente a percepção do design no cotidiano é uma forma de valorizar nossa produção local e encontrar beleza ao nosso redor, o que é sempre uma boa lição a se aprender. Além disso, a oportunidade de descobrir esses tesouros escondidos no Japão é realmente única”. A maioria dos criadores, inclusive, já foi tema de mostras individuais ou teve seu trabalho exposto na JHSP, como é o caso de Reiko Sudo, Akira Minagawa, Kunihiko Morinaga, Kenya Hara e Tsuyoshi Tane, esse último inclusive assina a expografia da mostra.
Além dos espaços dedicados a cada uma das pesquisas, com direito a vídeos sobre os processos de investigação produzidos especialmente pela NHK, o público também poderá acessar uma coleção de títulos sobre os criadores e os temas que abordam. Por fim, a mostra conta com uma seção interativa, onde o visitante é convidado a deixar suas impressões sobre “o que é o design para você?” e contribuir com exemplos presentes no cotidiano brasileiro e que podem ser considerados verdadeiros “tesouros” de cada região do país.
Para aprofundar o tema da exposição, a JHSP oferecerá em sua programação paralela uma série de eventos, inclusive com a produtora chefe da NHK Educational Kyoko Kuramoto e arquiteto Tsuyoshi Tane. Dentro do programa JHSP Acessível, a exposição “Design Museum Japan: investigando o design japonês” conta com recursos táteis, audiodescrição e de Libras.
Sobre as obras:
Akira Minagawa, Designer
Yamagata dantsu: Design que sustenta a vida na cidade nevada (Yamagata/Província de Yamagata)
Na sua pesquisa, Akira Minagawa visitou a fábrica “Yamagata Dantsu”, localizada na cidade de Yamanobe, na província de Yamagata. As tapeçarias grossas e feitas manualmente são chamadas de “dantsu”. A região fica coberta de neve durante o inverno e, como alternativa para sustento das famílias durante esse período, os moradores buscavam conhecimentos da indústria têxtil chinesa que havia sido introduzido no período pré-guerra. Esta técnica foi melhorada para adequar-se ao costume japonês de andar descalço. É um trabalho manual que exige persistência, já que é necessário um dia para tecer apenas um cm. O “tesouro do design” encontrado pelo Minagawa é o dantsu tecido a partir da fibra da raiz de kudzu, planta nativa japonesa usada para substituir a lã, que era material escasso no período pós-guerra. “Esse item reflete a forte determinação das pessoas em produzir o dantsu. A qualidade do trabalho manual não é apenas o que se vê, mas sim algo que reside nele”, comenta Minagawa.
Reiko Sudo, Design têxtil
Roupa esportiva inspirada pelo festival de lanternas “Andon” de Toyama (Oyabe/Província de Toyama)
Reiko Sudo viajou até a província de Toyama, onde se interessou pela tecnologia por trás dos uniformes 3D confeccionados para a Copa de Rugby. Lá, ela estudou como o design destas roupas foi inspirado nas lanternas do festival Andon Matsuri de Toyama. Para potencializar o desempenho dos atletas, esse tecido é construído de forma tridimensional, fazendo com que os uniformes sigam o contorno dos corpos dos atletas. Inclusive, é dito que o sucesso da seleção japonesa da Copa de Rugby do Japão de 2019 tenha sido graças à tecnologia por trás desses uniformes. Fundada inicialmente como fábrica de malha, a empresa aventurou-se no ramo de roupas esportivas a partir da década de 1970. Junto com o sucesso do esqui, assumiu o desafio de desenvolver roupas que auxiliam o movimento do corpo. Após inúmeras tentativas e erros, a inspiração que trouxe o sucesso foi a estrutura de bambu utilizada para produzir as lanternas chamadas Andon, que são essenciais durante o festival Andon Matsuri de Toyama, cujo técnico produzia todos os anos desde criança. “Ele é um gênio que consegue reproduzir tudo que vê”, comenta Reiko Sudo. Embora não seja possível criar um “osso”, é possível transformar o próprio tecido para criar uma vestimenta que simule uma membrana que cobre o corpo. Essa reflexão é o ponto de partida para o desenvolvimento de roupas esportivas com conceito inédito. No fim, O conceito da alta costura de “criar roupas ajustadas para cada pessoa”, está por trás do avanço da história de roupas esportivas.
Tetsuya Mizuguchi, Arquiteto de experiência
Piano TransAcoustic: design do encontro entre o tradicional e tecnologia de ponta (Hamamatsu/ Província de Shizuoka)
Os pianos fabricados pela Yamaha, em Hamamatsu, província de Shizuoka, foram o ponto de partida para a pesquisa do Tetsuya Mizuguchi. Ele pesquisou o piano “TransAcoustic”, no qual o próprio instrumento ressoa seu som por meio da tábua harmônica, o “coração do piano”, conectado a um dispositivo eletrônico. Esses instrumentos surgem da combinação dos pianos verticais produzidos artesanalmente com a tecnologia de ponta. Além dos vídeos produzidos durante o processo da pesquisa, o visitante poderá ter uma “experiência sonora inédita”, experimentando a música não só com os ouvidos, mas com o corpo todo.
Tsuyoshi Tane, Arquiteto
Vilarejo do período Jomon: design existia há 10 mil anos nos espaços habitados (Hitonoe/Província de Iwate)
Tsuyoshi Tane realizou a sua pesquisa no Museu Goshono J?mon, instalado no sítio arqueológico de Goshono, na cidadade de Hitonoe, província de Iwate. A escavação desse local ganhou forças no período Heisei, e atualmente, a pesquisa arqueológica tem conquistado grandes avanços graças a novas tecnologias e reconstrução. A exposição investiga o “design” desenvolvido há cerca de 10 mil anos, quando o ser humano deixa de ser nômade e se fixa em um local, por meio de vídeos, fotografias e peças de cerâmica.
Kenya Hara, Designer gráfico
Hélice: a forma inabalável que nasce da racionalidade (Kurashiki, Província de Okayama)
A pesquisa de Kenya Hara foi realizada em sua cidade natal, na província de Okayama. Ele visitou uma empresa fabricante de hélices de navio, que se desenvolveu por meio do tráfego marítimo de Setonaikai. Hélices de tamanhos maiores chegam a ter oito metros de diâmetro, mas os ajustes finais da curvatura da superfície são feitos por artesãos que trabalham na escala de um mm. “Fiquei surpreso em saber que o trabalho que determina a precisão algo tão enorme é feita pela mão humana”, comenta o Hara. “Além disso, a hélice nunca é exposta aos nossos olhos quando é utilizada. É um objeto que foi feito para fim meramente mecânico: transformar a força rotacional em propulsão. Entretanto, a sua forma é infinitamente bela”, emociona-se, dizendo ainda “não se trata de expressão individual, mas de uma forma inabalável e sem nenhum elemento desnecessário, e que caminha junto com a racionalidade e as leis da natureza”.
Koichiro Tsujikawa, Videomaker
“Buchigoma e os diversos piões que expandem dele”, o brinquedo é o primeiro objeto de design que o ser humano tem contato (Himeji/província de Hy?go)
A partir do pensamento de que o “brinquedo é o primeiro objeto de design que o ser humano tem contato na vida”, o videomaker Koichiro Tsujikawa explora o Museu dos Brinquedos da região de Hy?go, conhecendo os piões que surgiram e foram desenvolvidos em vários locais do mundo. Na exposição, é possível assistir ao vídeo produzido durante essa pesquisa e ao “Tecchan to Koma”, que retrata o encontro com o pião e as diversas brincadeiras, além dos piões que fazem parte do acervo do Museu de Brinquedos.
Kumiko Inui, Arquiteta
Pequenas paisagens: enxergando o design no acúmulo das soluções anônimas (Fujinomiya e Izu/Província de Shizuoka)
Os projetos da arquiteta Kumiko Inui têm como base a “aprendizagem por meio das pequenas paisagens”. Ela busca e fotografa as “paisagens que as pessoas comuns criam por meio de soluções práticas”, tais como lugares e costumes que as pessoas têm afeto. O objeto da pesquisa dela são os elementos que compõem uma paisagem cotidiana como as pequenas cabanas em áreas rurais ou bancos encontrados nas ruas. “Às vezes sinto algo diferente ao ver um simples posicionamento da lata de lixo. Outras vezes, sinto-me atraída pela combinação de cores e materiais que aconteceram por acaso. O calor humano daqueles que moram naquela região e o afeto pelo local onde habitam criam os ‘commons’, e ao protegê-los, esse lugar insubstituível torna-se ‘um lugar vivido’”, comenta Inui, que completa dizendo “As ideias e inspirações da minha arquitetura vem daí”. Para a mostra DESIGN MUSEUM JAPAN, Inui procurou as “pequenas paisagens” em locais relacionadas à água em Shizuoka, apresentando as ‘águas de Fujinoniya, porto de Izu e termas naturais de Atagawa.
Kunihiko Morinaga, Designer de moda
Design que surgiu com forte sentimento de proteger as pessoas que a vestem Haburagin, o traje das noro (Amani/Província de Kagoshima)
Na província de Kagoshima, em Amani, Kumihiko Morinaga pesquisou as vestimentas das sacerdotisas noro, chamadas de haburagin. O design feito com retalhos de tecidos com diferentes propriedades (lisos, estampados, de seda ou algodão), era algo que ia além do conceito de patchwork (técnica de costura feita com retalhos), ponto de partida profissional de Morinaga. Na mostra, serão expostos um exemplar original do traje e documentos relacionados apresentando o “design com forte sentimento de proteger as pessoas que a vestem”.
Serviço:
Exposição “Design Museum Japan: investigando o design japonês”
Co-organizado pela Japan House São Paulo, NHK, NHK Promotion, NHK Educational em colaboração com DESIGN MUSEUM
Período: 28 de março a 11 de junho de 2023
Local: Japan House São Paulo, 2º andar – Avenida Paulista, 52, São Paulo/SP
Horário de funcionamento: terça a sexta, das 10h às 18h; sábados, das 9h às 19h; domingos e feriados, das 9h às 18h
Entrada gratuita. Reservas online antecipadas (opcionais): https://agendamento.
Palestra Descobrindo os tesouros do Design japonês
Participação de Kyoko Kuramori, produtora chefe do grupo de arte e cultura da NHK, e o arquiteto japonês Tsuyoshi Tane. Mediação de Natasha Barzaghi Geenen, Diretora Cultural da Japan House São Paulo
Quando: 28 de março (terça-feira), às 18h, presencialmente na Japan House São Paulo ou ao Vivo no YouTube da JHSP
Duração: 60 min
Tradução simultânea Português/Japonês
Atividade livre e gratuita. Vagas limitadas. Participação mediante retirada de senhas na recepção com 30 minutos de antecedência.
Sobre a Japan House São Paulo (JHSP):
A Japan House é uma iniciativa internacional com a finalidade de ampliar o conhecimento sobre a cultura japonesa da atualidade e divulgar políticas governamentais. Inaugurada em 30 de abril de 2017, a Japan House São Paulo foi a primeira a abrir suas portas, seguida pelas unidades de Londres e Los Angeles. Estabelecida como um dos principais pontos de interesse da celebrada Avenida Paulista, a JHSP destaca em sua fachada proposta pelo arquiteto Kengo Kuma, a arte japonesa do encaixe usando a madeira Hinoki. Desde 2017, a instituição promoveu mais de trinta exposições e cerca de mil eventos em áreas como arquitetura, tecnologia, gastronomia, moda e arte, para os quais recebeu mais de dois milhões de visitantes. A oferta digital da instituição foi impulsionada e diversificada durante a Pandemia de Covid-19, atingindo mais de sete milhões de pessoas em 2020. No mesmo ano, expandiu geograficamente suas atividades para outros estados brasileiros e países da América Latina. A JHSP é certificada pelo LEED na categoria Platinum, o mais alto nível de sustentabilidade de edificações; e pelo Bureau Veritas com o selo SafeGuard – certificação de excelência nas medidas de segurança sanitária contra a Pandemia de Covid-19.
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