Um dos maiores prazeres da vida é poder andar sem rumo. Em nossa época, podemos nos motorizar e seguir caminhos que há 200, 300 anos isso seria inimaginável para um ser humano comum, um plebeu. Sou fã de nosso tempo, de nossa modernidade, mesmo fragilizando as questões humanas, o que é humano sempre persistirá.
Um dia após o fim do mais esperado feriado brasileiro. O resultado do Carnaval do Rio e de São Paulo já está decidido. O hit da Bahia já tomou conta de nossa alma e começa a nos devolver à normalidade. Hoje é uma Quinta-feira de Fevereiro de dois mil e vinte e três. Dia 23. Meu planejamento era para burocracias cartoriais. Vividas em si, queria buscar um dos últimos pores do Sol aqui em Araruama, Região dos Lagos. Fui ao bairro da Pontinha. Guardas municipais não pareciam afeitos aos carros parados. Tirei logo o meu. Haveria de mudar meus planos.
Foi dobrando uma esquina que vi uma casa florindo felicidades novas. Muro baixo, um nome convidativo, era para ali que me seguiria. Em um primeiro momento, o que esperar de um lugar chamado Arbô Café Botânico? O nome convidativo do café me fez lembrar das máquinas de que disponho em casa. Sou fã apaixonado por café, que divide espaço com meus vinhos, uísques e charutos. Que café me serviriam?
Porém, havia muito mais. O lugar é para entrar com calma. A arquitetura modernista de meados do século XX dá o primeiro tom. Uma casa linda adornada com espécimes botânicos brasileiros diversos acalma a respiração. Ando pelo local. Não me sigo primeiro ao restaurante. Ele já está lotado. Eu teria como descobrir o todo. Fotos e mais fotos adornam minha empolgação. Sento-me. Um cardápio dita as horas da escolha. Tudo muito claro, didático, de fácil compreensão e preços justos à proposta. Iniciei no café. Coado e 100% arábica. Segui depois por um pudim, com uma calda ao cumaru que rouba a cena, bem além do pudim clássico. Bebi uma água com gás e pedi uma das especialidades: Salmão Avocado, que era um espetáculo a parte. Leve. Saboroso. Com um tom defumado e cream cheese de base. O abacate servia de palco ao salmão, que veio generoso. Pena eu não conseguir experimentar todo o cardápio, ele vale a experiência.
Fui recebido por um charmoso rapaz chamado Piter Pedrosa, um dos sócios e atencioso aos detalhes. Empolgado, me explica as nuances. Parece me conhecer em minha afeição à história e às singularidades. Sua explicação cristalina e constante deixa a entender a qmotivação e a alma do espaço. É a minha recomendação para esse Fevereiro de 23.