“Meu trabalho como repórter é onde eu sou feliz. Sou uma repórter otimista, sempre acho que vai dar jeito, que as coisas vão melhorar. Acredito nas boas intenções das pessoas. Sou incansável. Acredito que o bem sempre prevalece”.
A declaração de Susana Naspolini em entrevista ao Memória Globo reflete a personalidade da jornalista que, apesar da sua longa luta contra o câncer, nunca perdeu o bom-humor, a fé e o otimismo para seguir em frente. A repórter do povo que sempre escolheu ser feliz nos deixa hoje e leva sua alegria contagiante com ela. Susana faleceu nesta terça-feira, dia 25 de outubro, aos 49 anos, em decorrência de complicações provocadas pelo câncer. A jornalista estava internada no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ela deixa a filha Júlia, de 16 anos, fruto do casamento com o narrador esportivo Maurício Torres.
Susana Dal Farra Naspolini Torres nasceu no dia 20 de dezembro de 1972, em Criciúma, Santa Catarina. Filha da professora Maria Dal Farra Naspolini e de Fúlvio Naspolini, sócio de uma transportadora de cargas, Susana sempre sonhou em ser repórter. Em 1990, passou no vestibular para Comunicação Social na Universidade Federal de Santa Catarina. Um ano depois, conseguiu uma vaga no curso de teatro do Tablado, no Rio de Janeiro, e se mudou para a capital fluminense. Aos 18 anos, descobriu um câncer nas células do sistema linfático, a primeira de cinco batalhas contra a doença o câncer que a jornalista teria pela frente.
A força da jornalista tinha para lidar com os próprios percalços da vida transparecia em seu dia a dia, na hora de ajudar as pessoas a enfrentarem seus problemas. Era conhecida no Rio de Janeiro por denunciar de forma espontânea, bem-humorada e assertiva o descaso do poder público em áreas carentes. Depois de passar por afiliadas da TV Globo no estado de Santa Catarina, Susana entrou para a Globo em 2002, quando se tornou repórter da GloboNews. Trabalhou ainda no Canal Futura, na produção e reportagem dos telejornais locais da Editoria Rio, da TV Globo. Desde 2008 se revezava com outros repórteres no comando do ‘RJ Móvel’, mas foi em 2013 que sua carreira mudou ao assumir como titular o quadro do ‘RJ1’ que denuncia problemas que afligem a população e cobra a solução das autoridades responsáveis. De maneira muito autêntica, Susana inovou na maneira de fazer o ‘RJ Móvel’. Com um calendário de cobrança em mãos, Susana se colocava no lugar do outro para entender suas queixas. Chegou a testar o asfalto das ruas pedalando em bicicletas infantis e andando de skate e a expor problemas de saneamento básico navegando de barco em valas de esgoto. Em maio de 2017, a jornalista assumiu outro desafio, ao ser convidada para apresentar o ‘Globo Comunidade’ no Rio de Janeiro, em paralelo com o ‘RJ Móvel’.
Entre as coberturas de maior destaque em sua trajetória profissional estão as chuvas que atingiram o Rio de Janeiro em abril de 2010, quando foi enviada para investigar a situação no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, região central da cidade; e em abril de 2019, quando mostrou de perto a situação dos deslizamentos na Avenida Niemeyer, que liga o Leblon a São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro. Participou ativamente da cobertura da ocupação policial na Vila Cruzeiro, em 2011, que rendeu ao Jornalismo da TV Globo o Prêmio Emmy Internacional. E, de forma bem diferente, da cobertura do Rock in Rio, em 2013, quando ficou pendurada por um cinto em um guindaste, para mostrar o evento do alto. Isso sem falar nas diversas coberturas do Carnaval, quando gostava de estar nas arquibancadas, cobrindo a reação popular aos desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí.
Em 2019, Susana Naspolini lançou o livro “Eu Escolho Ser Feliz”, uma autobiografia sobre a sua luta contra o câncer, e em 2021, “Terapia com Deus”, em que revela como a fé a ajudou a superar a perda do pai e o último diagnóstico de câncer.