Já começo a review perguntando, caro leitor: você sabe onde fica o estado de Missouri, na gloriosa e poderosa nação norte-americana ? Se tiver a curiosidade e acha-lo na parte sul, mais a leste do país, provavelmente entenderá a problemática da história no filme.
Missouri é o estado onde se encontra a cidade de Ebbing, cenário (e digo, quase uma personagem) do enredo (faz parte também do título original em inglês: Three Billboards outside Ebbing, Missouri). É também um dos territórios da “Minoria Esquecida”, a parcela da população que votou em Trump.
Lá, todo mundo conhece todo mundo. Sabe dos valores, sabe dos heroísmos, sabe da decência. Mas também dos podres. E quando algo sai dos trilhos do que normalmente se é esperado, aí o comportamento descarrilha para a polarização: se você não pensa como eu, então está contra mim. E vem daí a escalada da violência e não há redenção para aplacar a ira. A vingança se torna o objetivo, o fim.
Os três anúncios se referem a três outdoors, o estopim da história. Postos por Mildred Hayes (Frances McFormand), a mãe que teve a filha assassinada, eles reclamam do xerife da cidade, Willoughby (Woody Harrelson) que não fez, ainda, nenhuma prisão. Toma partido do chefe, o policial Dixon (Sam Rockwell) que passa a confrontar Mildred que, por sua vez, já calejada com os espancamentos do ex-marido, revida. E está pronto o caminho pavimentado para conflitos que descambam para uma violência, por vezes, irracional.
O interessante do filme é que, com o seu desenrolar vai-se notando que as pessoas não são preto-e-branco. Elas são muito mais cinzentas na verdade. São muito mais complexas do que se normalmente pensa. Elas carregam dentro de si o vil, o ultrajante, mas também a compaixão, a humanidade. E isso dá espaço ao roteirista (Martin McDonagh que também é o diretor) a colocar na boca dos personagens, um humor típico do sarcasmo crítico diante das situações paradoxais. Isso garante boas risadas. Porém, como disse no início, não há redenção.
Vale a pena conferir ? Sim, vale. Filmes assim são muito necessários para as pessoas refletirem e deixarem o coração ser bagunçado.
Tem chance no Oscar 2018 ? Tem. Além de Melhor Filme, a atuação de Frances é bem convincente e ela vem colhendo os prêmios festivais a fora. A interpretação de Sam Rockwell é arrebatadora como o policial preconceituoso, violento e infantil e pode levar o de Melhor Ator Coadjuvante (Woody foi indicado também, mas diante da performance de Rockwell, não dessa vez). A história também pode levar o Oscar de Melhor Roteiro Original para McDonagh (também diretor, no entanto, não foi indicado … Vai entender …). Quanto a trilha sonora original e montagem não apostaria.
Faturou, neste ano, 4 Globos de Ouro para as categorias de Melhor Drama, Melhor Roteiro, Melhor Atriz para Drama Frances McDormand e Melhor Ator para Drama Sam Rockwell. Também levou 5 prêmios do “Oscar” britânico, o BAFTA, em: melhor filme, melhor atriz, melhor ator coadjuvante (Rockwell), melhor roteiro original e melhor filme britânico.
Veja o Trailer original legendado: