Tiago Feijó: o escritor, autor de Diário da casa arruinada, é o convidado desta semana do AC Encontros Literários

 

Tiago Feijó tem uma carreira relativamente curta, mas recheada de distinções. O Prêmio Manuel Teixeira Gomes de Literatura, ao qual podiam concorrer autores de todos os países lusófonos, foi o (até agora) último recebido por ele. No páreo, havia outros 75 romances inéditos. Trata-se do primeiro brasileiro a vencer essa disputa. Confira abaixo a entrevista exclusiva que preparamos pra você.

 

ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?

Tiago Feijó: Descobri a Literatura ainda na adolescência, aos 15 anos. Passei a ler com afinco tudo o que me caía em mãos. Não tardou para surgir em mim a ideia de escrever algo que fosse meu. Comecei a escrever poemas ainda naquele ano, depois tentei a prosa, compondo textos curtos e inclassificáveis. O amor pela Literatura acabou me levando para o curso de Letras, que me confirmou de fato o que eu queria fazer da vida. E até hoje é por este caminho que me conduzo.

 

AC: Como é sua rotina de escritor? Escreve todos os dias? Reescreve muito? Mostra para alguém durante o processo?

TF: Não escrevo todos os dias, mas procuro escrever sempre, constantemente. Em geral pela manhã, que é o período em que rendo mais. Depois do texto finalizado, deixo-o descansar um pouco, alguns meses que seja; após esse período, retorno a ele para reescrevê-lo. Não tenho o hábito de mostrá-lo para ninguém, meu leitor ideal sou eu mesmo.

 

AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?

TF: Não acredito muito em inspiração, creio no trabalho e no suor. Acredito que escrevendo vou descobrindo sempre mais da minha própria arte. Creio também que a leitura é um caminho fundamental para se aprimorar a escrita e suas técnicas. É lendo meus escritores favoritos e meus contemporâneos que consigo aperfeiçoar ainda mais o meu trabalho.

 

Diário da casa arruinada, romance em forma de diário, de Tiago Feijó, foi lançado em 2017. Foto: Divulgação.

 

AC: O fantasma da página em branco: mito ou verdade? Isso acontece com você? Em caso afirmativo, o que faz para resolver esse problema?

TF: Em geral, não tenho problema com a página em branco. Às vezes, o que me ocorre é uma ausência de intimidade com a história e seus percursos. Nesse caso, procuro dar tempo ao tempo e conviver um pouco mais com as personagens e suas sinas. Quando me sinto mais próximo deles, retorno à página e retomo a história.

 

AC: Fale dos livros que já publicou até hoje.

TF: Meu primeiro livro foi o Insolitudes (7Letras, 2015), que venceu o prêmio Ideal Clube de Literatura 2014, um livro de contos sobre o insólito, que fleta por vezes com a Literatura Fantástica. Em 2017, publiquei meu primeiro romance, Diário da casa arruinada (Penalux, 2017), que foi finalista do prêmio São Paulo de Literatura 2018. Nesse romance, escrito em forma de diário, exploro o tema da traição e do declínio de uma família.

 

A coletânea de contos Insolitudes, primeiro livro de Tiago Feijó, foi lançado em 2015. Foto: Divulgação.

 

AC: Como você se relaciona com seus leitores?

TF: Ultimamente, tenho usado bastante a internet para me conectar com meus leitores. Penso que o nosso tempo nos proporcionou isso, e é preciso explorar essa facilidade. Além do quê, esse diálogo é bastante importante para que nós, escritores, saibamos um pouco melhor como ecoam no leitor nossas obras.

 

AC: Um livro marcante. Por quê?

TF: Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar. Esse livro é para mim uma aula de escrita, do poder da escrita; a potência do Raduan nessa obra é algo quase inalcançável. Além da coragem de escrevê-lo, me parece que o autor alcançou uma linguagem de extrema poeticidade e beleza. Vale a pena cada palavra.

 

AC: Um escritor marcante. Por quê?

TF: João Guimarães Rosa, não sei se preciso explicar muito o porquê. Mas é sabido que João é um bruxo, um escritor incomparável, que forjou uma língua particular para contar histórias muito particulares e reveladoras.

 

AC: Projetos em andamento: o que vem por aí nos próximos meses?

TF: Neste ano de 2022, publicarei meu novo romance, Doze dias, que acabou de ganhar o Prêmio Manuel Teixeira Gomes 2021, promovido pela Câmara Municipal de Portimão, no Algarve, em Portugal. O romance conta a história de um pai e um filho separados por uma indiferença mútua; uma doença será responsável por uni-los por doze dias num quarto de hospital, e este será o período que estes dois personagens terão para se entenderem um com o outro.

 

AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do Portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?

TF: Penso que o melhor conselho seja que eles escrevam, escrevam tudo aquilo que guardam consigo, escrevam sempre e com coragem. Para quem quer escrever, o único remédio é enfrentar a página em branco.

 

CONFIRA A LIVE REALIZADA COM TIAGO NO DIA 21/02/2022:

 

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@tiago_feijos

 

 

Bem é isso. Até a próxima!

César Manzolillo

 

 

 

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AC Encontros Literários tem curadoria e apresentação (live) de César Manzolillo (@cesarmanzolillo).

 

 

 

Author

Carioca, licenciado em Letras (Português – Literaturas) pela UFRJ, mestre e doutor em Língua Portuguesa pela mesma instituição, com pós-doutorado em Língua Portuguesa pela USP. Participante de 32 coletâneas literárias. Autor do livro de contos "A angústia e outros presságios funestos" (Prêmio Wander Piroli, UBE-RJ). Professor de oficinas de Escrita Criativa. Revisor de textos. Toda quinta-feira, no ArteCult, publica um conto em sua coluna "CONTO DE QUINTA", que integra o projeto "AC VERSO & PROSA" junto com Ana Lúcia Gosling (crônicas) e Tanussi Cardoso (poemas).

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