Luiz Antonio Aguiar lançou seu primeiro livro em 1985. Atualmente, é autor de cerca de 170 obras, publicadas tanto no Brasil quanto no exterior. Ao longo da carreira, conquistou muitos prêmios, inclusive dois Jabutis (1996 e 2013). É também roteirista de quadrinhos, mestre em Literatura Brasileira (PUC-RJ) e professor de Escrita Literária.
Confira abaixo a entrevista exclusiva!
ArteCult: Como a Literatura entrou na sua vida?
Luiz Antonio Aguiar: Foi por culpa do meu pai, que me alfabetizou lendo histórias das 1001 noites. Eu aprendi a ler com a ideia de que a gente lê para ler histórias.
AC: Sei que você é um grande estudioso da obra de Machado de Assis. Na sua opinião, em que pontos reside a qualidade literária do autor?
LAA: Excepcionalidade no seu tempo; entre os contemporâneos, inovações fundamentais e atualidade: o racismo estrutural de nossa sociedade, por exemplo, já está denunciado em Machado, em contraposição ao folclórico dominante, que não intervém no presente.
AC: Você é autor de vários livros de literatura infantojuvenil. Como se relaciona com esse público?
LAA: Brincando, me divertindo quando escrevo e pensando sempre no que gostaria de escrever para meus netos. Por exemplo, creio que a imaginação futurista, o que a ciência pode nos proporcionar nas próximas décadas, depende, em certa medida, de explorações dos reinos da imaginação, que fazemos agora; assim como o atraso, o isolacionismo em relação ao mundo e ao avanço das ciências pode nos condenar a uma sociedade arcaica, tirânica. Acredito numa instalação progressiva de uma comunidade planetária, internacionalista, utopicamente democrática e igualitária, em termos de confissões sociais, assim como múltipla, em aspectos individuais.
AC: Como se comporta o escritor Luiz Antonio Aguiar? Escreve todos os dias? Reescreve muito? Mostra para alguém durante o processo?
LAA: Escrevo todos os dias, em períodos diurno. Mostro, geralmente, só para minha mulher e para minha agente. Às vezes para alguns amigos, mas poucos. Reescrevo sem parar meus textos, até colocar tudo de mim em cada um deles. Jamais consigo levar uma ficção adiante se não estiver apaixonado pela história. E tenho um projeto literário que me norteia, baseado na referência aos clássicos, como raiz mais autêntica e vital de nossa Literatura, fundida num exótico movimento ao ritmo e possibilidades da cultura pop, bem como ao planetarismo e ao futurismo, como referências utópicas.
AC: No seu caso, de onde vem a inspiração?
LAA: Principalmente, da leitura de Literatura. A Literatura é sempre fértil, dá ideias. Mas também de outros acasos da vida.
AC: Bloqueio criativo: mito ou verdade?
LAA: Não tenho. Para mim, Literatura é trabalho. É como o Zico dizia: no dia em que a gente não está inspirado, sua a camisa mais do que nunca; daí, a inspiração vem.
AC: Buck Gordon. Esse nome lhe parece familiar?
LAA: Me orgulho de ser um escritor profissional, que ganha a vida com a Literatura, seja escrevendo, prestando consultorias ou ensinando Literatura. Sou professor de Literatura, e isso é parte dessa minha empreitada, de toda uma vida (comecei em 1984), tentando uma ligação direta com o público leitor. Buck Gordon pôs pão na minha mesa. Ganhei a vida muito tempo escrevendo pocket books de faroeste, daqueles em papel vagabundo, que se compravam em bancas de jornais e que já foram a Literatura mais lida no Brasil. Já escrevi, e ainda escrevo, roteiros de HQs; e até texto de camisetas, cardápios com nomes transados para restaurantes, textos de cartões postais. Me orgulho do tanto que ralei, fazendo por merecer ser descendente de um mascate libanês, que chegou aqui com uma mão na frente e outra atrás, casou com uma napolitanazinha (de uma aldeia vinícola nos arredores da cidade), que era boa de cozinha. Tiveram 19 filhos, entre eles minha mãe.
AC: O que poderia nos dizer sobre sua atuação como roteirista de quadrinhos?
LAA: A linguagem dos HQs tem particularidades que me encantam. Utilizá-la hoje para fazer roteiros com adaptações de clássicos da Literatura, fanfics etc. me encanta. É a essência da minha proposta: combinar o clássico e o pop.
AC: Ultimamente, você tem se dedicado bastante ao seu blog. O que o leitor encontra por lá?
LAA: Dois folhetins (gênero que me encanta: A hora das sombras e Os dados da maldição, em capítulos, naturalmente), uma discussão permanente sobre questões da Literatura (Aba fora de ordem), reflexões sobre este Brasil, que precisa se livrar da praga do conservadorismo que alimenta a praga, para não sermos expelidos para a periferia do mundo (O Talibã pode ser aqui… Um dia) e notícias sobre o meu trabalho. Tenho também um canal no Youtube, E ESSE PAPO SOBRE LITERATURA?, com vídeos, produzidos pela minha neta, que é uma superartista, ainda amadora, mas aguardem! Lá, faço marketing dos meus livros.
AC: Entre os seguidores do canal de Literatura do Portal ArteCult, muitos são aqueles que escrevem ou que desejam escrever. Que conselho ou dica você poderia dar a eles?
LAA: Ler à beça. É o princípio das minhas oficinas de exercícios de criação literária. Ler, ler e ler. Ler o melhor daquilo que a gente vai aos poucos definindo que quer escrever.
Bem, é isso. Até a próxima!
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AC Encontros Literários tem curadoria e apresentação (live) de César Manzolillo.