Em parceria com a Coalizão Negra por Direitos, Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e Wonder Maria Filmes (Portugal), evento gratuito terá atividades online e presenciais entre 14 e 19 de setembro no Brasil e em Portugal
A Mostra Taturana de Cinema chega à sua segunda edição com curtas e longas-metragens documentais sob a premissa de que não é possível debater democracia sem se comprometer com a luta antirracista. Organizada pela Taturana Mobilização Social, em parceria com Coalizão Negra por Direitos, Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e Wonder Maria Filmes (Portugal), o evento contará com atividades online – pela plataforma de Streaming TodesPlay e Oficina Cultural Alfredo Volpi, e presenciais em salas do circuito SPCine (São Paulo – Brasil) e no Museu do Aljube (Lisboa – Portugal), entre os dias 14 e 19 de setembro, semana em que celebra o Dia Internacional da Democracia. Após essa data, a Mostra vai itinerar em outras regiões do país. O objetivo é ampliar as discussões e democratizar o acesso ao cinema. “Será produzido um material educativo para ajudar as organizações anfitriãs a mediarem conversas sobre os temas abordados pelos filmes nos locais onde a Mostra irá passar. A expectativa é ter 40 exibições e debates nesta itinerância”, diz Amanda Letícia, coordenadora de mobilização da Mostra. Todas as exibições e atividades serão gratuitas.
Parte do evento será realizada em Portugal com colaboração do site Buala, Inmune (Instituto da Mulher Negra em Portugal), SOS Racismo e Nêga Filmes. O intuito é trazer à tona as políticas de visibilidade e as noções de representação, levando em conta o significado do processo de colonização e de dominação nos países marcados pela escravização. “A luta antirracista para pensar, fortalecer e estruturar a democracia é uma questão urgente não só no Brasil, onde o racismo estrutural se expressa em sua forma mais violenta, mas no mundo todo”, enfatiza Fernanda Polacow, representante da Taturana Mobi, em Portugal.
Para a Coalizão Negra por Direitos, debater racismo neste momento é compreender o que é o racismo estrutural e como ele arregimenta a história do Brasil, além de ser essencial para buscar saídas para a atual crise que o Brasil passa. “Aumento da miséria e da fome, criminalização da pobreza, encarceramento em massa, feminicídio de mulheres negras, extermínio da juventude negra são todos problemas de uma mesma equação, que é o racismo estrutural”, salienta Seimour Souza, integrante da Coalizão Negra por Direitos . “É necessário seriedade e compromisso no enfrentamento ao racismo e suas consequências, as saídas são muitas, e é justamente da parcela mais marginalizada que sairão as respostas. Basta ouvir quem historicamente foi silenciado. São das favelas e periferias, das rodas de samba, de rima e rap, dos terreiros e cursinhos populares, que nascerá um novo Brasil, consciente racialmente apontando para uma sociedade mais justa e igualitária.”, enfatiza Seimor.
A curadoria da Mostra selecionou 23 filmes dirigidos apenas por pessoas negras e indígenas e promoverá nove sessões presenciais, debates, encontros, oficinas e rodadas de conversas com lideranças e intelectuais de diferentes áreas do conhecimento. Entre os filmes que serão exibidos estão: Cavalo (BRASIL, 2020, dir. Rafhael Barbosa e Werner Salles Bagetti), Nhemonguetá Kunhã Mbaraete (BRASIL, 2020, dir. Michele Kaiowá, Graciela Guarani, Patrícia Ferreira Pará Yxapy e Sophia Pinheiro), Raízes (BRASIL, 2020, dir. Simone Nascimento e Well Amorim), Travessia (BRASIL, 2017, dir. Safira Moreira), O Caso do Homem Errado (BRASIL, 2017, dire. Camila de Moraes), Chico Rei Entre Nós (BRASIL, 2020, dir. Joyce Prado), Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé (BRASIL, 2019, dir. Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra), A Sússia (BRASIL, 2018, dir. Lucrécia Dias), Pontes sobre abismos (BRASIL, 2017, dir. Aline Motta), Thinya (BRASIL, 2019, dir. Lia Letícia), Sementes: mulheres pretas no poder (BRASIL, 2020, dir. Éthel Oliveira e Júlia Mariano), Ipa | Ipá (BRASIL, 2020, dir. Thais Scabio), O Bocado da Cova da Moura que Há em Nós (PORTUGAL, 2014, 21′, dir. Edson Diniz e Edu Semedo), Bastien (PORTUGAL, 2016, dir. Welket Bungué), entre outros.
As escolhas refletem o conceito desta edição, dividida em seis eixos temáticos nos quais os filmes se organizam. São eles: Experiências do corpo e da fé: religiosidade, estética e antirracismo; Em defesa da vida: direito ao território e ao modo de viver; Árvore da memória: busca da ancestralidade e o combate ao apagamento e à invisibilidade; Muros do racismo: estruturas e fronteiras geográficas, materiais e simbólicas; Vidas negras importam: violência de Estado e genocídio da população negra; Outras histórias possíveis: memória, vozes e disputa de narrativas. Todos os longa-metragens ficarão disponíveis durante 48h e os curtas poderão ser assistidos durante toda semana em que acontece o evento. “O audiovisual é uma ferramenta de luta e não só entretenimento”, reforça Thais Scabio, cineasta e vice-presidenta da APAN. “A cultura do racismo foi fortalecida no audiovisual todo esse tempo com o apagamento das pessoas negras na frente e por trás das câmeras. O corpo negro sempre foi retratado como sendo um risco à sociedade, pois em toda produção o negro é tido como bandido, pessoa má, traficante e isso nada mais é que um genocídio apoiado pelo audiovisual. A Mostra Taturana de Cinema: Democracia e Antirracismo surge como um papel fundamental que é mostrar a beleza da diversidade como forma de combate ao racismo”, finaliza a cineasta.
A programação se encerra com a Caminhada São Paulo Negra, que faz um resgate de lugares importantes da histórias dos negros na cidade de São Paulo. O tour será realizado pelo Guia Negro, no Brasil. Em Portugal, a Caminhada Lisboa Negra será conduzida pela Batoto Yetu Portugal. Os passeios terão vagas limitadas, mediante inscrição. Os debates serão transmitidos pela TodesPlay e Youtube da Taturana Mobi. As atividades paralelas – Encontros e oficinas -, também acontecem mediante inscrição.
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