Em seu segundo trabalho após o lançamento de Of Sheep and Men, Karim Sayad lança novo documentário (já conta com aparição no Toronto Internacional Festival) abordando a saga de seu primo Fahed : My English Cousin. Após 17 anos, vivendo em solo inglês, Fahed decide retorna à Argélia, sua terra de origem. A aparente história de redenção, alicerçada no retorno do protagonista ao seu lar após muitos anos, dá espaço para um dilema existencial decorrente do choque cultural sofrido por este depois de quase duas décadas: será que Fahed ainda pertence a algum lugar?
Apropriando-se de uma direção sutil, Sayad retrata a sobrecarregada rotina de Fahed na Inglaterra, que para garantir sua subsistência, submete-se a extravagante carga horária de trabalho, dividida entre um restaurante e uma indústria. O protagonista mostra-se adaptado ao seu estilo de vida, cultivando amizades fraternas, incorporando marcas esportivas ao seu vestuário, como também um duradouro casamento. Entretanto, um incomodo persiste em pulsar, sendo combustível suficiente para deixar tudo em prol do ideal de felicidade.
O impacto de cultura é apresentado linearmente a esta decisão, começando pelo próprio protagonista, que altera animosamente suas roupas e sua alimentação, de modo a reascender o sentido de pertencimento a suas tradições. A trilha sonora é usada também para escancarar esta nítida disparidade cultural, alternando em alguns momentos os antagônicos estilos musicais.
Assim, de maneira singela, Fahed percebe em uma das cenas que o peso da sua mala está excessiva: algumas coisas terão que ficar. A sonoridade argelina dá espaço para o punk rock britânico, sinalizando uma problemática a ser enfrentada por este, que parece resistente em se desapegar de alguns bens. Apresenta-se a dinâmica do documentário que divide-se em 05 (cincos) partes e que mostra-se cuidadoso em respeitar o ímpeto inicial do protagonista que, logo em seguida, deságua em incerteza.
Após ser recepcionado por seus parentes já na Argélia, o “novo” Fahed é visto com desconfiança quanto a sua escolha, quanto a sua real adaptação e a consequente abdicação de comportamentos que outrora foram enraizados em seu ser. Em meio a sua idas e vindas – Inglaterra e Argélia -, a dúvida é escancarada, gerando a conveniente pergunta se agora o protagonista pertence a algum lugar ou se tornou-se pertencente a um todo.
CONFIRA O TRAILER
A falta de identidade revela-se como um fardo, um peso a ser carregado, em uma busca que talvez nunca tenha fim. Dentro deste enredo, a direção incrementa abordagens sensíveis com a do exílio, o embate político e a questão de gênero. Desta forma, vislumbra-se a imigração sob a ótica subjetiva, de modo bem particular e com uma direção cuidadosa, atenta aos detalhes que circundam o protagonista em sua ainda não terminada trajetória de encontra-se consigo mesmo.
DENI FILHO
ArteCult – Cinema & Companhia
Siga nosso canal e nossos parceiros no Instagram para ficar sempre ligado nas nossas críticas, últimas novidades sobre Cinema e Séries, participar de sorteios de convites e produtos, saber nossas promoções e muito mais!
@artecult , @cinemaecompanhia , @cabinesete ,
@cinestimado e @hospicionerdoficialp
#VamosParaOCinemaJuntos