No ar em ‘Totalmente Demais’ e ‘Novo Mundo’ o ator aproveita a quarentena para rever os trabalhos que marcaram sua trajetória na tevê
Uma viagem entre os séculos. É assim que Felipe Silcler classifica seus trabalhos. Atualmente ele faz uma dobradinha na tevê. No fim da tarde, o ator pode ser visto em cena em pleno século XIX quando circula desenvolto pela corte como Libério, o jornalista revolucionário de ‘Novo Mundo’. A época, o figurino, os trejeitos e o modo de falar são o oposto do personagem que ele interpreta em ‘Totalmente Demais’.
Na trama das sete, ele é Cascudo, um jovem briguento e pavio curto, que está sempre metido em confusão. Ajudante do tio numa oficina de desmanche de carros, o estudante começa a ter um novo horizonte após conhecer o professor Montanha (Toni Garrido). Grande incentivador é ele quem ajuda Cascudo a canalizar as energias para o esporte. “Se os dois estivessem na mesma época, o Libério lutaria para ajudar o Cascudo a ter novas oportunidades e a crescer na sociedade. A semelhança entre eles foi ter algo externo que os ajudaram a crescer. No caso do Libério, a oportunidade de ter estudado, e no caso do Cascudo, além da escola foi o acesso ao esporte”, compara o ator de 29 anos. A redenção através do esporte vai, aos poucos, transformando a vida do rapaz que precisa lidar com a desconfiança da família da namorada Jéssica (Lellê) e com os maus tratos do tio Durão (Paulão Duplex).
‘Totalmente Demais’ é criada e escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm, com direção-geral de Luiz Henrique Rios e direção de Marcus Figueiredo, Noa Bressane, Luis Felipe Sá, Thiago Teitelroi.
Entrevista com Felipe Silcler
Qual foi a sua reação ao ver que a novela voltaria à grade no cenário atual? Como é reviver aqueles momentos?
Fiquei muito feliz, ainda mais num momento em que a maioria das pessoas estão isoladas em casa. Muita gente que não conseguiu acompanhar na época está tendo a oportunidade agora. E reviver tudo isso com um olhar de distanciamento foi meu primeiro grande trabalho no audiovisual. De lá para cá eu tive outras experiências então é interessante observar esse amadurecimento.
Sim. Tenho várias lembranças na minha cabeça. Tudo era muito novo para mim… fazer audiovisual e ainda num produto de alcance nacional como uma novela. Foi através desse trabalho que pela primeira vez as pessoas passaram a me reconhecer nas ruas. Minha arte chegou a lugares que eu nem imaginava. Recebia e recebo até hoje muitas mensagens do público, inclusive de outros países.
Um menino que a princípio era taxado como uma pessoa ruim e que não tinha boas perspectivas. Mas quando foi lhe dada uma oportunidade, ele aproveitou ao máximo e deu um novo rumo para sua vida. É aquele personagem que tem uma virada incrível na trama e que faz muita gente repensar seus julgamentos. Muita gente passou a admirar e torcer pelo Cascudo.
Além de ‘Totalmente Demais’, você também está em ‘Novo Mundo’. Dose dupla na TV. É possível comparar os dois personagens? Quais seriam as principais semelhanças e diferenças entre eles?
Foi uma surpresa e felicidade em dose dupla. Acho que ambos os personagens trazem a representatividade negra para a cena, cada qual em sua época e a sua maneira. O Libério vem com o privilégio de ter o seu lugar de fala escutado. Ele tinha prestígio e usava o jornal para defender as suas ideias e lutar pelos seus pares. Já o Cascudo era o contrário. O personagem precisava de alguém que lutasse por ele. Se os dois estivessem na mesma época, o Libério lutaria para ajudar o Cascudo a ter novas oportunidades e a crescer na sociedade. Mas ambos possuem a semelhança de ter algo externo que os ajudaram a crescer. No caso do Libério foi a oportunidade de ter estudado e no caso do Cascudo além da escola foi a acesso ao esporte. Sem a educação e esporte a vida dos dois seria bem diferente.
O que me chama atenção nos dois é a coragem. No Libério ele usa a coragem para ajudar os seus irmãos de cor, ele é um “justiceiro” que utiliza como arma os artigos do seu jornal e a influência que tem na corte. O Cascudo é um menino que tem um coração bom, mas que precisava de uma oportunidade e que quando lhe deram, ele aproveitou. E me chama atenção a coragem que ele teve para não desistir mesmo enfrentando o tio e todos os preconceitos que vinham com o fato dele ser sobrinho desse cara mal visto no bairro.
É muito engraçado porque algumas pessoas demoram a perceber que sou eu que faço os dois personagens. Muita gente ainda não identificou. E quando percebem ficam impressionados. Eu sempre recebo esse tipo de mensagem, de pessoas surpresas que descobriram que o Libério e o Cascudo são feitos pelo mesmo ator. Adoro essa versatilidade que a carreira me proporciona. Amo fazer personagens diferentes um do outro.
Como está sendo a sua rotina em tempos de quarentena?
Tenho procurado usar o tempo pra me reinventar e descobrir coisas novas. Tem dias que são mais fáceis e bem produtivos e outros mais difíceis. Mas acho que essa oscilação é normal no momento. Estou vivendo esse período no Rio de Janeiro em casa com os meus pais. Eu sou muito ansioso e não ter a perspectiva de quando tudo isso vai acabar e como vai ser o pós Covid-19, me deixa muito inseguro
Eu voltei a escrever. Sempre gostei de rascunhar algumas coisas, poemas, contos…Mas com a falta de tempo do dia a dia eu tinha parado. Estou escrevendo muito e finalmente resolvi assumir a responsabilidade de escrever o texto do meu espetáculo, um monólogo para o teatro, que eu estava adiando há muito tempo e sempre ficava na espera de alguém para escrever para mim.
Acho que não dá pra planejar muita coisa. Acredito que essas reprises vão me abrir muitas portas e que novos convites e oportunidades vão surgir pós pandemia. Torço por isso. Meu foco é me dedicar a esse espetáculo solo. Mas não sabemos como vai ser o futuro do teatro também. As coisas estão muito incertas. Mas tenho esperança que vamos sair de tudo isso muito melhor que entramos. A arte sempre resiste a qualquer crise.