Versatilidade muito bem distribuída ao longo de 24 anos de carreira. Assim vem sendo a trajetória de Ricardo Connti, preparador de elenco do Especial de Natal da TV Globo, “Quando você acredita, existe”, previsto para ir ao ar no dia 25 de dezembro.
“Foi maravilhoso! Não poderia haver melhor forma de retornar a TV Globo. Os desafios de um Especial talvez sejam termos apenas um único episódio para contarmos a nossa história. É um tempo muito mais curto que uma novela, uma série ou mesmo um filme. Ao mesmo tempo é uma vantagem porque podemos concentrar toda a energia para brilharmos ali, dando um gostinho de quero mais.”
Aproveitando, gostaria que você falasse um pouco sobre o seu contato com atores mirins. Já que se trata de um dos públicos que você prefere trabalhar.
O tempo que você passou em Portugal, ajudou na sua formação? Até mesmo por ser uma cultura diferente.
“Ajudou demais. Tive um contato especial com a Palavra. Passei a cuidar mais da expressão do nosso verbo através do nosso ofício. Trabalhei muito como ator, fiquei um ano contratado pelo Teatro da Trindade com dois musicais, fiz musicais infantis, fiz até participações da Televisão Portuguesa. Foi em Portugal que comecei a escrever e a dirigir trabalhos para crianças, montei um musical para crianças que correu o país por dois anos para a Nestlé de Portugal e era um projeto lindo, levando os valores da boa alimentação para as escolas. Depois estive em Barcelona, como assistente de colaborador do dramaturgo e roteirista Doc Comparato, um marco para a minha carreira como roteirista. Aprendi demais com o Doc.”
Você já atuou, dirigiu, deu aulas… Esse processos te ajudam hoje como preparador? Qual a maior diferença em realizar uma preparação para o cinema e para novelas?
“Recebi um depoimento lindo do ator Murilo Rosa outro dia que definiu bem isso, ele associa o meu talento como preparador a minha experiência e talento como ator antes de mais nada. Certamente é muito mais fácil sendo ator para escrever, para dirigir, para ensinar, porque eu sei como ninguém o que é estar naquele lugar e já passei por muitos processos para saber o que funciona com todos os tipos de atores em cada gênero de representação. A preparação para Cinema e uma pintura só, já sabemos desde o início como vai terminar a obra. Em novela não, estamos sempre recebendo novas tintas, criando juntos, interferindo. Ambas são muito prazerosas, mas são bem diferentes.”
Você é dono de um estúdio de pesquisa e preparação e já afirmou não querer ter uma grande empresa e sim manter um serviço de qualidade. O que você acha que é preciso para seguir esse caminho?
“Eu sou muito exigente como o meu trabalho. Não seria capaz de programar um Workshop recebendo 200 atores num final de semana sem dar a atenção individual que esse ator merece receber. Não é uma crítica, é uma constatação. Eu não consigo. Já me dei mal por aceitar mais atores do que o combinado num curso e atrasei 4 horas para terminar o curso porque não acho certo não oferecer o mesmo serviço a todos. Pretendo ter condições de continuar com a mesma ética, porque eu só faço isso porque eu amo fazer isso. E me cobro demais. Seria revoltante ouvir por aí que não dei atenção a alguém que passou por lá. Assim como um médico que precisa olhar nos olhos dos pacientes para saber a razão real dos seus males, eu preciso também enxergar a alma das pessoas que conheço para saber onde elas podem chegar e qual será meu desafio e aprendizado com cada encontro.”
MARI BARCELOS